Logo O POVO+
Mais de 400 indígenas já foram infectados pelo coronavírus no Ceará
CIDADES

Mais de 400 indígenas já foram infectados pelo coronavírus no Ceará

Insegurança alimentar nas comunidades preocupa. Justiça negou liminar que previa a entrega de uma cesta de alimentos por mês para cada família indígena
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
COMUNIDADE Tapeba, em Caucaia: casos subnotificados, segundo indígenas (Foto: Tatiana Fortes 7.8.2019)
Foto: Tatiana Fortes 7.8.2019 COMUNIDADE Tapeba, em Caucaia: casos subnotificados, segundo indígenas

Dados da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), vinculado ao Ministério da Saúde, apontam que 414 indígenas foram infectados pelo novo coronavírus no Ceará desde o início da pandemia. Cinco casos evoluíram para óbito. Ainda há 23 infectados e 51 casos suspeitos em investigação. Em todo o Brasil, o número passa de 15 mil casos confirmados até o último 29 julho. Quatro meses desde o primeiro caso registrado no País, a situação é preocupante pela falta de suporte alimentício e sanitário às comunidades.

Acesse a cobertura completa do Coronavírus >

Em ação movida contra a União, Fundação Nacional do Índio e a Companhia Nacional de Abastecimento na Justiça Federal, o Ministério Público Federal pediu a concessão de liminar para que fosse garantida a distribuição de uma cesta alimentar por mês para cada família indígena do Ceará, enquanto persistir o estado de emergência decorrente da pandemia de Covid-19. Entretanto, o pedido foi indeferido. O MPF pode recorrer da decisão junto ao Tribunal Regional Federal da 5ª Região (TRF-5).

Supervisora do Núcleo de Direitos Humanos e Ações Coletivas da Defensoria Pública do Ceará, Mariana Lobo frisa que desde o início da pandemia, as defensorias do Estado e da União têm se reunido com lideranças indígenas para tentar solucionar os impasses. Segundo ela, uma série de recomendações foram feitas ao governo do Estado e, principalmente, à União.

Só no último mês a Funai começou, com vários problemas, a distribuir duas cestas básicas por família. No total, foram 9 mil kits, para 4,6 mil famílias indígenas no Ceará. 

"Nós entendemos que a quantidade que está sendo distribuída não é suficiente para garantir a segurança alimentar durante o período da pandemia toda. Nós já vamos para mais de três meses. Essa distribuição começou um pouco tardia, é verdade, mas ela está ocorrendo e a Funai nos informou que ainda terá um segundo lote de distribuição", analisa Mariana.

"A entrada de invasores coloca em risco a saúde das comunidades indígenas. Outro problema é a fragilidade no atendimento da saúde na atenção básica pela Secretaria Especial de Saúde Indígena-SESAI", elenca Weibe Tapeba, assessor jurídico da Federação de Povos e Organizações Indígenas do Ceará (FEPOINCE).

 Segundo o representante, muitos têm o atendimento negado por falta de cadastro no Sistema de Atenção à Saúde Indígena. Além disso, há carência de profissionais para atender a demanda. Weibe reclama da ausência de uma ação governamental para repassar às comunidades máscaras e material de higiene pessoal.

"O povo Tapeba continua com índices alarmantes de casos confirmados. Acreditamos que há muita subnotificação. A falta de realização de testes em massa dificulta muito o levantamento desses casos. Há relatos de que comunidades inteiras teriam apresentado os mesmos sintomas de falta de paladar e olfato, febre, dores no corpo e gripe. Houve óbitos em que o motivo da morte foi causa desconhecida ou insuficiência respiratória".

O promotor da Justiça Hugo Porto, do Ministério Público do Ceará (MPCE), afirma que os cinco óbitos confirmados em decorrência da Covid-19 e outros quatro em investigação nas comunidades do Ceará devem servir de alerta. Ele destaca a importância da ancestralidade para essa população.

"É necessário maior apoio, que cheguem mais recursos. Estamos fazendo esforço nesse sentido. Estamos vendo também o trabalho que tem sido feito pelas entidades privadas, do terceiro setor, filantrópicas. A própria federação indígena do Ceará tem nos noticiado entrega de cesta básica, entrega de EPIS". O promotor ressalta ainda a campanha "Apoie os Povos Indígenas do Ceará", junto com o MPF e lideranças indígenas, para sensibilizar e orientar a importância da adesão às regras sanitárias.

Em nota, a Funai afirma que trabalha na garantia da segurança alimentar das comunidades em situação de vulnerabilidade social a fim de manter os indígenas nas aldeias durante a pandemia. Segundo o órgão federal, 12 mil cestas de alimentos foram distribuídas nas comunidades do Ceará, além de 1.700 kits de higiene e limpeza.

"A Fundação participa ainda de barreiras sanitárias na região para impedir o ingresso de não indígenas nas aldeias", diz a nota.

O POVO procurou a Secretaria de Proteção Social, Justiça, Cidadania, Mulheres e Direitos Humanos (SPS), mas até a publicação desta matéria não obteve retorno sobre as ações desenvolvidas pela pasta.

 

Campanha "Apoie os Povos Indígenas do Ceará"

DEPÓSITO BANCÁRIO

Federação de Povos e Organizações Indígenas do Ceará (Fepoince)
CNPJ: 34816161000170
Caixa Econômica
Agência: 0919 e CC: 5489-6

Mais informações:
Ceiça Pitaguary (Presidente Fepoince) - 85 997668489
Weibe Tapeba (Assessor Jurídico) - 85 99809-8500

O que você achou desse conteúdo?