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Impacto psicológico, pressão e cobranças sobre mulheres aumentam na quarentena
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Impacto psicológico, pressão e cobranças sobre mulheres aumentam na quarentena

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O isolamento social e o home office acabaram por acumular tarefas para as mulheres. Junto vieram ainda consequências físicas e psicológicas. Este foi o caso de Karina Gomes. A sócia-diretora da empresa de marketing digital Conex Design teve que migrar seus deveres profissionais do escritório para o lar nesse período de pandemia. Segundo ela, ter que lidar com trabalho, filha de 1 ano e 3 meses e casa no mesmo espaço físico e ao mesmo tempo acabou por causar autocobranças em diversos âmbitos.

"Sinto que estou me cobrando mais, como mãe principalmente, porque antes da pandemia eu tinha prometido que só a deixaria ver TV após os dois anos de idade. Tive que adiantar esse processo por conta da pandemia para conseguir fazer os deveres de casa, pois não tinha como proporcionar passeios, por exemplo. Nem tinha tempo para ficar estimulando a pintura, ler para ela o tempo todo. Me cobro pela educação dela não estar sendo como eu queria, mas sei que nada vai ser como a gente planejou e está tudo bem. Como profissional me cobro de estar dando conta dos meus clientes", desabafa.

Psicóloga da rede Hapvida, Ivana Teles explica que é de extrema importância que se entenda os sentimentos causados pelo confinamento e pelo acúmulo de tarefas e se encontre formas de controlar os sentimentos e emoções. "(Sentimentos), quando em excesso, podem trazer prejuízos para nós e podem afetar nossas relações, já que é comum surgir a fácil irritabilidade, por exemplo. Na relação com os pequenos podem surgir mais situações conflituosas", relata a profissional.

Em sua nova rotina de pandemia, Karina conta que vivenciou bem esses prejuízos causados pelos sentimentos. "Senti que fiquei mais ansiosa, mesmo indiretamente, pois não poderia parar e tinha que dar conta do trabalho e da minha filha. Senti essa crise de ansiedade mais interna e acabei descontando isso na alimentação. Notei que ganhei peso nessa pandemia e isso começou a me fazer mal na autoestima e na saúde. Como mãe, tento conter a angústia porque acho que nós mães temos que estar fortes o tempo inteiro, fico me cobrando essa força".

A psicóloga clínica Letícia Clemente acredita que psicoterapia pode ser chave para fazer com que os sentimentos de culpa não acabem por rodear as mulheres chefes de casa e mães. "É importante que, para o controle dessas emoções, compreenda-se o ponto inicial que desestabiliza o sujeito. Esse autoconhecimento é conquistado em psicoterapia e acredito ser fundamental para mães e mulheres que se cobram tanto. Esse autocuidado acontece para que esses problemas não evoluam para algo pior". 

 

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