Atualizado as 12h14min desta sexta-feira, 7
A pandemia de Covid-19 afetou a saúde mental de 73,7% dos agentes prisionais ouvidos na segunda etapa do estudo "A Pandemia de Covid-19 e os(as) agentes prisionais/policiais penais no Brasil", divulgada ontem pelo Núcleo de Estudos da Burocracia (NEB), da Fundação Getúlio Vargas (FGV). A pesquisa ouviu 613 policiais penais e agentes penitenciários de todo o País. Apenas 5,1% deles afirmaram ter tido apoio institucional para questões ligadas à saúde mental.
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Boa parte desse impacto mental decorre de questões como o medo de contrair o novo coronavírus (80,3% disseram que tinham) e a percepção de aumento da tensão entre os presos (82,2% disseram ter notado isso). "As reeducandas estão há muito tempo sem visitas e isso pode ser perigoso principalmente em relação às cadeias masculinas, onde o número de visitas é 3 a 4x maior. Os presos começam a ficar impacientes, foram suspensas as aulas, os trabalhos, o tempo lá dentro não passa. Isso só vai piorando a tensão deles", conta um dos entrevistados.
Conforme dados do Departamento Penitenciário Nacional (Depen), atualizados ontem, 13.601 casos de Covid-19 já haviam sido registrados em unidades prisionais do País. Foram 83 óbitos confirmados e 9574 recuperados. O Ceará tinha 529 casos, com três mortes. No balanço mais recente divulgado pela Secretaria de Administração Penitenciária (SAP), em 20 de julho, 22 policiais penais estavam afastados para tratamento da doença. Um agente morreu.
Gabriela Lotta, coordenadora do NEB, ressalta que os agentes se colocam em um risco "muito grande" tanto de serem contaminados, quanto de serem vetores da contaminação. A pesquisadora cita a peculiaridade do trabalho de agente prisional, que já atuava em um ambiente insalubre e diante da pandemia não pode fazer home office. "Já é uma situação muito ruim, muito precária e, neste momento, está ainda pior", afirma. Ela ainda destaca que a pesquisa colheu relatos de que os agentes se sentiam perseguidos ao comentarem o estado dos presídios durante a pandemia, receosos até de dizer que estavam doentes. Apenas 48,3% dos agentes ouvidos afirmaram ter recebido equipamentos de proteção individual (EPIs).
Em nota, a SAP afirma desenvolver através do seu serviço de atendimento psicossocial ao trabalhador, ações de atendimento e acompanhamento em saúde mental aos servidores, com assistente social, psicóloga e psiquiatra. Ainda são disponibilizados serviços de massoterapia, ventosaterapia e Reiki aos policiais penais no interior das unidades prisionais.
Além disso, a pasta enumerou as seguintes ações contra a propagação de Covid-19 entre os policiais:
- Equipes de saúde treinadas para atendimento de casos suspeitos conforme protocolos estabelecidos pelos órgãos de saúde
- Capacitação das equipes de agentes penitenciários para a realização de remoção dos casos suspeitos/confirmado de COVID-19
- Distribuição, normatização e fiscalização para que os servidores utilizem os equipamentos de proteção individual e higiene
- Distribuição de máscaras de acetato para agentes da escolta e os profissionais da saúde do Sistema
- Reforço das equipes de saúde nas unidades prisionais, pois todas contam com ambulatórios e enfermarias preparadas para qualquer situação médica de atenção primária
- Realização de testes e orientação a todos os servidores e colaboradores que apresentem as características apontadas pela Secretaria de Saúde
- Produção superior a 100 mil máscaras com internos e internas qualificadas pelo Senai em diversas unidades do sistema
- Criação da comissão permanente de combate ao Corona Vírus no sistema penitenciário que conta com a integração da SAP e Sindicato dos Agentes Penitenciários do Estado do Ceará