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Teste abreviado da vacina russa gera desconfiança em cientistas
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Teste abreviado da vacina russa gera desconfiança em cientistas

Governo do Paraná anunciou um acordo para a produção da nova vacina, apesar do ceticismo da comunidade científica
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Anvisa considerou que faltam dados técnicos para verificar segurança e eficácia da vacina (Foto: AFP/Russian Direct Investment Fund)
Foto: AFP/Russian Direct Investment Fund Anvisa considerou que faltam dados técnicos para verificar segurança e eficácia da vacina

A Rússia registrou ontem a primeira vacina do mundo contra Covid-19, mas a velocidade do desenvolvimento gerou desconfiança. Cientistas utilizaram testes militares, procedimentos clínicos acelerados e testes abreviados, o que foi alvo de ceticismo. Críticos se preocupam com o que acreditam que possa ser um "sacrifício dos cidadãos russos por prestígio". Vladimir Putin disse há alguns meses que queria a produção pronta para setembro, o que acrescentou pressão política à busca pela vacina.

Até agora, duas rodadas de testes foram realizadas, e uma terceira está planejada após registros, quando voluntários do serviço de saúde e professores serão vacinados. Grupos da sociedade civil como a Associação das Organizações de Ensaios Clínicos da Rússia demonstraram reticência com o imunizante, chamado de Sputnik V. A entidade chegou a requerer que a vacina fosse registrada apenas depois que todas as fases da testagem fossem realizadas. O Instituto Gamaleya, que encabeça a iniciativa junto ao Ministério da Saúde, indicou que os testes são seguros, já que a produção é baseada em uma inoculação prévia contra o ebola.

O infectologista e epidemiologista Carlos Magno Fortaleza, integrante do Coletivo Rebento - Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS, chama atenção para uma guerra de narrativas sobre as vacinas contra a Covid. "Em princípio não há nada de errado em uma nova vacina", explica.

Sobre a vacina russa, no entanto, Carlos Magno acredita que é preciso cautela. "Neste momento, não se trata de criticá-la nem de achar que seja uma panaceia. Temos sim que exigir que, assim como todas as outras vacinas, ela passe por testes rigorosos. Caso se mostre eficaz, esperamos que se consiga rapidamente fazer uma produção em grande escala, de unidades de vacina para imunizar grandes populações e assim conseguir conter de uma vez por todas o avanço da Covid".

Atualmente, duas vacinas estão sendo testadas no Brasil - a chamada Coronavac, da Sinovac, uma empresa chinesa, e a vacina da Universidade de Oxford, que está sendo testada em parceria com a Astrazeneca.

"Essas vacinas estão seguindo protocolos muito rígidos, de ensaios clínicos de fase 1 com pequeno número de pacientes, fase 2 com número um pouco maior de pacientes e fase 3, que é quando de fato se avaliam a imunogicidade e a eficácia", diz Carlos Magno.

"Se a vacina russa chegar ao Brasil para uma testagem nesses moldes, será uma ótima notícia. O que não podemos é fazer propaganda de vacinações em massa, com vacinas que ainda não passaram por todos esses rigorosos testes de segurança e eficácia", conclui.

Apesar do ceticismo da comunidade médica, o governo do Paraná deve anunciar nesta quarta-feira, 12, um acordo com o Ministério de Saúde da Rússia para a produção da Sputnik. O Estado realizará testes, produzirá e distribuirá a vacina após a validação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

 

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