Logo O POVO+
4 mulheres trans foram assassinadas em 28 dias
CIDADES

4 mulheres trans foram assassinadas em 28 dias

Fortaleza
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Soraya Oliveira, proprietária de salão de beleza, foi encontrada morta nas proximidades da Lagoa da Maraponga (Foto: Reprodução/Facebook)
Foto: Reprodução/Facebook Soraya Oliveira, proprietária de salão de beleza, foi encontrada morta nas proximidades da Lagoa da Maraponga

Três mulheres transexuais e travestis foram mortas em Fortaleza dentro de uma semana. Em 28 dias, chegou a quatro o número de corpos trans encontrados mortos na Capital, conforme denuncia a Rede de Observatórios da Segurança. Para pesquisadoras, os casos de transfobia refletem ano intenso para a segurança pública no Estado e série de problemas que afetam a população de transexuais e travestis.

O primeiro desses casos é o de Soraya Oliveira, proprietária de salão de beleza, como informou a Associação de Travestis e Mulheres Transexuais do Ceará (Atrac). Ela foi encontrada morta nas proximidades da Lagoa da Maraponga com ferimentos provocados por arma de fogo.

Já neste mês de agosto, no dia 3, uma travesti que não chegou a ser identificada foi encontrada em área próxima ao Batalhão da Polícia Militar Ambiental, no bairro Bonsucesso. No dia 8, uma adolescente travesti, de 15 anos, foi vista entrando em um matagal localizado na Granja Lisboa e minutos depois executada a tiros, segundo a Rede de Observatórios. O caso mais recente é de Letícia Costa, de 29 anos. Ela foi atingida com disparos de arma de fogo na rua Jaime Benévolo, no Centro, na última segunda-feira, 10. 

Os crimes acontecem em um ano atípico no Ceará quando se fala em segurança pública, como destaca a pesquisadora da Rede de Observatórios da Segurança, Ana Letícia Lins. O primeiro semestre foi marcado pela escalada de homicídios e mortes por intervenção policial. O pico foi de 459 homicídios em fevereiro deste ano, conforme dados consolidados da SSPDS.

"É importante colocar essas mortes dentro de um cenário maior, como o da escalada de violência, mas mortes de pessoas trans precisam ser olhadas de forma mais específica", pondera a pesquisadora, que também participa do Laboratório de Estudos da Violência (LEV) da Universidade Federal do Ceará (UFC). Em 2017, ano da morte de Dandara dos Santos, com repercussão internacional, a SSPDS concluiu que não houve nenhuma morte por homofobia em Fortaleza. 

Ana Letícia Lins destaca que é necessário questionar o que o Estado tem feito, de forma efetiva, para prevenir casos de violência contra essa população. "A gente fica escandalizado quando vê uma cidade como Fortaleza com quatro assassinatos como esses em 28 dias, e ainda mais porque isso não choca o Governo do Estado a ponto de se posicionar publicamente", pontua.

Outro ponto levantado pela pesquisadora é a dificuldade de acesso a informações. "Normalmente, é mais fácil saber se a vítima tinha antecedentes criminais do que saber o nome ou a cor dessa pessoa", critica. "Há um grande vácuo, muito cruel, que não nos permite traçar de forma mais certeira o perfil das vítimas".

O que você achou desse conteúdo?