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Infectologistas avaliam vantagens e desafios do retorno da educação infantil no Ceará
Reportagem

Infectologistas avaliam vantagens e desafios do retorno da educação infantil no Ceará

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Creche em Fortaleza (Foto: Barbara Moira/O POVO)
Foto: Barbara Moira/O POVO Creche em Fortaleza

 

Como já havia sido anunciado, as escolas no Ceará terão que ofertar a opção de continuidade do ensino remoto. Em um só tempo, a medida tranquiliza algumas famílias e reduz a ocupação, colaborando no controle da disseminação da Covid-19.

De acordo com Érico Arruda, infectologista do Hospital São José (HSJ), a possibilidade de escolha da modalidade de ensino neste momento pode garantir maior segurança quanto à situação da pandemia para os pais e responsáveis. "Foi uma decisão muito acertada, tem pais que estão muito preocupados e vão preferir que os filhos não voltem agora para a escola. Dar a opção é muito importante porque não temos segurança ainda de que isso não possa incorrer em um aumento do número de casos", pontua o médico.

Outro fator positivo do teor opcional do retorno é, para o infectologista e professor da Universidade de Fortaleza (Unifor), Keny Colares, evitar salas de aula mais lotadas. "Se tem quem prefere ficar remotamente, as salas de aula ficarão mais vazias, o que pode ser benéfico para a evitar a contaminação pela Covid-19", comenta.

A decisão sobre os estudantes das outras séries, do ensino fundamental e médio, ficou para as semanas seguintes. Para o epidemiologista Marcelo Gurgel, professor e membro do GT de Enfrentamento à Covid-19 da Universidade Estadual do Ceará (Uece) a justificativa epidemiológica da volta do ensino infantil primeiro não ficou clara. Ele atribui a questão à necessidade econômica do setor. "Muitas escolas de ensino infantil fecharam ou tiveram redução de alunos. Porque estão na faixa em que a matrícula não é compulsória", pontua.

Keny Colares pondera que em todo processo de flexibilização e retorno de atividades econômicas há o risco de uma nova onda de contaminação, porém, por ser uma experiência nova no Estado, as implicações do processo no âmbito da saúde serão avaliadas conforme acontece a retomada. A escolha de começar pelas crianças, na visão dele, tem "suas vantagens e desvantagens".

"Uma das dificuldades de começar pelos mais jovens é justamente fazer com que eles obedeçam às normas sanitárias mais rigorosas. Mas de todo jeito sempre há um risco. Há dúvidas na literatura ainda em relação à transmissão do vírus por crianças, alguns trabalhados sugerem que elas têm uma menor transmissibilidade, enquanto outros não concordam. A decisão do Governo deve ter levado em conta todos os fatores de risco", declara.

Com o anúncio da volta parcial da rede particular, o cenário para a rede pública de ensino ainda é incerto. Para o epidemiologista Érico Arruda, a decisão do Governo do Estado pode ter sido apoiada nos fatores de estrutura para receber alunos. E isto deve ser um fator de ponderação.

"Do ponto de vista epidemiológico, as escolas particulares acabam sendo um cenário onde há um pouco mais de estrutura para monitorar o retorno. Elas têm melhor condição de garantir a higienização, salas mais arejadas. E isso é um conflito. É preciso colocar na balança e olhar para os alunos da escola pública, que acabam ficando com a escolarização mais prejudicada nesse momento", comenta. Segundo o especialista, a questão das escolas trata-se de uma "situação delicada", onde não há experiência prévia: "É natural que se tenha situações inusitadas".

 

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