Logo O POVO+
Redação Enem 2020. A relevância da ciência reforçada pela pandemia
CIDADES

Redação Enem 2020. A relevância da ciência reforçada pela pandemia

A maior parte da sociedade brasileira mantém uma visão positiva da ciência e da tecnologia (C&T), segundo a pesquisa "Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil 2019"
Edição Impressa
Tipo Notícia
a relevancia da ciencia reforcada pela pandemia (Foto: luciana pimenta)
Foto: luciana pimenta a relevancia da ciencia reforcada pela pandemia

Modelagens estatísticas, sequenciamento genético, criação de respiradores mais baratos e desenvolvimento de vacinas, além de pesquisas sobre impactos sociais, econômicos e psicológicos da pandemia, são algumas atuações de cientistas no enfrentamento à Covid-19. Em um momento no qual pessoas, não só no Brasil, questionam fatos científicos conhecidos há décadas, é ela, em diferentes áreas do conhecimento, que tem ajudado a entender o novo coronavírus e possibilitado tomada de decisões.

“A pandemia demonstrou que a ciência é algo essencial na estrutura da nossa sociedade. Não temos saída para essa pandemia sem ciência, sem tratamentos médicos e sem conhecer, por exemplo, o comportamento desse vírus no meio ambiente e nas pessoas”, afirma Paulo Artaxo, professor titular do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP) que se dedica a estudar questões ambientais.

A pandemia modificou um cenário de “animosidade, obscurantismo e negacionismo” em alta em relação à ciência, segundo Cláudia Linhares Sales, professora titular do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e secretária da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Isso se deu porque “para além da questão humanitária (e há outras), a pandemia atrapalha negócios, e não há outra saída da crise, que não seja pela ciência, pelo conhecimento científico e pelas tecnologias advindas daí”.


Investimento

A secretária da SBPC afirma que, no Brasil, desde 2016, “não há marcos positivos para a ciência” quando se fala em investimentos. “Na verdade, nos últimos dois anos, a situação tornou-se alarmante”, pontua. Ela exemplifica que, de 2019 para 2020, o orçamento da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) sofreu um corte de 48%. "O do CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) praticamente se manteve no mesmo patamar, cobrindo praticamente apenas as bolsas, com pouquíssimos recursos para projetos", acrescenta.

Em abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro afirmou, em publicação no Twitter, que o então ministro da Educação, Abraham Weintraub, estudava “descentralizar investimento em faculdades de filosofia e sociologia (humanas)” para dar foco às “áreas que gerem retorno imediato ao contribuinte, como: veterinária, engenharia e medicina”.

Isabele Mitozo, professora do curso de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e doutora em Ciência Política, destaca as evoluções que surgiram a partir da Filosofia — como a Matemática e a Lógica. Além disso, aponta que não há compreensão sobre as áreas de atuação em ciências humanas e ciências sociais aplicadas — que incluem Direito, Arquitetura, Comunicação e Economia, entre outros cursos.

Ela pontua que essas áreas recebem menor financiamento, e que essa disparidade aumentou com o atual Governo Federal. Por meio da portaria Nº 1.122, de 19 de março de 2020, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) definiu áreas prioritárias para o período 2020 a 2023. O documento foi alterado pela portaria Nº 1.329, de 27 de março de 2020, que incluiu "projetos de pesquisa básica, humanidades e ciências sociais".


Percepção sobre ciência e tecnologia

A maior parte da sociedade brasileira mantém uma visão positiva da ciência e da tecnologia (C&T), segundo a pesquisa “Percepção pública da ciência e tecnologia no Brasil 2019”, e para 41% da amostra os cientistas são “pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade”. Os resultados também apontam o reconhecimento da ciência como importante para o desenvolvimento do País. O estudo ouviu 2.200 pessoas entre 16 e 75 anos em todo o País.

Porém, em 2019 houve queda no interesse em C&T no País, em comparação com 2015. Ao mesmo tempo, a pesquisa apontou que o acesso à informação é limitado e que a visitação a locais voltados para esse campo diminuiu. Poucos entrevistados souberam citar o nome de um cientista ou de instituição de ciências. O estudo foi realizado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e pelo Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE).


73% dos entrevistados acham que C&T trazem mais benefícios que malefícios para a sociedade;


62% estão interessados ou muito interessados em algum assunto relacionado ao tema;


41% da amostra vê os cientistas como "pessoas inteligentes que fazem coisas úteis à humanidade";


A pesquisa apontou que o consumo de informação sobre C&T caiu nos principais meios de comunicação;


39% acham que participar de feiras e olimpíadas desperta o interesse em ser cientista;


Para 86% das pessoas, a pesquisa científica é essencial para o desenvolvimento da indústria;


86% dos entrevistados afirma que graças a C&T os brasileiros terão mais oportunidades;


90% acredita que o governo deve aumentar ou manter os investimentos em pesquisa científica e tecnológica nos próximos anos.


Fonte: Pesquisa “Percepção pública da Ciência e Tecnologia no Brasil 2019”, do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) e do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE)


Nomes da ciência brasileira


Oswaldo Cruz (médico)
Formado pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro, em 1892, foi para Paris estudar microbiologia, soroterapia e imunologia, no Instituto Pasteur, e medicina legal, no Instituto de Toxicologia. No Brasil, assumiu a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal e, posteriormente, a Diretoria-Geral de Saúde Pública (DGSP). Atuou no combate às epidemias de febre amarela, peste bubônica e varíola, enfrentando forte oposição na época.


Milton Santos (geógrafo)
Bacharel em direito pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) e doutor em geografia pela Universidade de Strasbourg, na França. Realizou pesquisas sobre urbanização — principalmente em países subdesenvolvidos — e globalização, com uma abordagem crítica a esse processo. É reconhecido mundialmente e, em 1994, recebeu o Prêmio Internacional de Geografia Vautrin Lud, considerado o Nobel da área.


Sidarta Ribeiro (neurocientista)
Mestre em biofísica, doutor em comportamento animal e pós-doutor em neurofisiologia, é vice-diretor do Instituto do Cérebro (ICe) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Em 2016, foi eleito membro da Academia de Ciências da América Latina (Acal). Em pesquisas, aborda temas como sono, sonho, memória e plasticidade neuronal, e realizou descobertas sobre a consolidação da memória durante o sono.


Nise da Silveira (psiquiatra)
Crítica de métodos como eletrochoque e lobotomia, a médica alagoana revolucionou o tratamento psiquiátrico no Brasil por meio da terapia ocupacional e da produção artística. Em 1946, fundou a Seção de Terapêutica Ocupacional no então Centro Psiquiátrico Pedro II, no Rio de Janeiro. Criou o Museu de Imagens do Inconsciente, um centro de estudo e pesquisa com obras produzidas nos ateliês de pintura e modelagem, e a Casa das Palmeiras, clínica de reabilitação de antigos pacientes de instituições psiquiátricas.


Elisa Frota Pessoa (física)
Foi uma das primeiras mulheres formadas em Física no Brasil, em 1942, e dois anos depois foi nomeada docente de Física Geral e Experimental na Faculdade Nacional de Filosofia (FNFi). A cientista participou da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), onde coordenou o Laboratório de Emulsões Nucleares. Junto com Neusa Amato — outra pioneira da Física no País — foi autora da primeira publicação científica do CBPF. Dedicou a carreira acadêmica ao estudo de partículas elementares e radioatividade.


Jaqueline Goes de Jesus (biomédica)
Doutora em patologia humana e experimental pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), a biomédica baiana é uma das coordenadoras da equipe que realizou o primeiro sequenciamento do genoma do coronavírus circulante na América Latina. A identificação foi feita 48 horas após a confirmação do primeiro caso de Covid-19 no Brasil, pelo Instituto Adolfo Lutz, com a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Oxford.


Frases sobre as ciências no mundo contemporâneo


“As doenças provocadas pelas mudanças climáticas e pelo desequilíbrio ambiental causado pela destruição de biomas — como a que está em curso no Brasil, a destruição da Amazônia — trazem enormes desafios aos cientistas. A ciência tem o desafio de trazer soluções alternativas e sustentáveis pela compreensão dos fenômenos consequentes do nosso modo de vida atual, bem como o de propor meios de recuperação da biodiversidade já destruída.”


Cláudia Linhares Sales, professora titular do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC) e secretária da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)


“O investimento em ciência é estratégico para qualquer país, e mais ainda para países em desenvolvimento, como o Brasil. Não há desenvolvimento, hoje, sem avanços científicos. É fundamental termos ciência para termos desenvolvimento econômico em um mundo dominado pela questão científica de maneira muito clara e muito forte. No mundo contemporâneo, a ciência faz parte da cultura, do desenvolvimento econômico e da natureza humana, como sempre fez.”


Paulo Artaxo, professor titular do Departamento de Física Aplicada do Instituto de Física da Universidade de São Paulo (IF-USP)


“A evolução para o governo digital, por exemplo, começou a ser pensada dentro das universidades, dentro dos grandes centros de pesquisa. ‘Como a política vai alcançar as pessoas nesse novo ambiente que se forma?’ Hoje em dia, trabalho especificamente com parlamento digital — digitalização de algumas ações e informações, transparência do parlamento para reforçar valores democráticos, deixar as pessoas mais informadas, educá-las para a cidadania. Quando temos uma educação política melhor, conseguimos pensar melhor acerca das situações.”


Isabele Mitozo, professora do curso de Comunicação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e doutora em Ciência Política


 

O que você achou desse conteúdo?