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André Costa faz balanço de gestão à frente da segurança
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André Costa faz balanço de gestão à frente da segurança

Ao O POVO, ele destaca inovações, resultados positivos e volta a ressaltar que questões familiares pesaram na sua decisão de deixar a pasta
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ANDRÉ COSTA reassume como delegado da Polícia Federal de Alagoas  (Foto: Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita ANDRÉ COSTA reassume como delegado da Polícia Federal de Alagoas

O agora ex-secretário de segurança André Costa prefere não adjetivar seu trabalho como negativo ou positivo quando perguntado que balanço fazia dos 3 anos e 8 meses que esteve à frente da pasta. Em vez disso, prefere dizer que o período foi de “muito trabalho e inovação". "Nunca tive medo de tentar o novo, de tentar o diferente e não vai fazer o mais do mesmo", afirmou em entrevista a O POVO, gravada por intermédio da assessoria de comunicação da SSPDS. Confira os melhores momentos da conversa:

O POVO: Qual balanço o sr. faz do seu trabalho nesses três anos e oito meses?

André Costa: Muito trabalho, muita dedicação, desprendimento, sacrifícios. Eu cheguei em 2017, em um momento crítico para o Estado, momento em que estoura uma guerra entre facções no Ceará e no Brasil. Recorde de homicídios no Ceará e em vários estados, em Pernambuco, no Rio Grande do Norte, e recorde de homicídios no Brasil. Mas foi um momento em que a gente trabalhou para se reinventar, criar novas estratégias, trazer inovações. Trabalhamos junto com PRF, com Polícia Federal, universidades e trouxemos novidades na parte de ciência e tecnologia aplicadas à segurança, que ajudaram muito o Ceará a reverter uma alta de roubos que vinha desde 2012. A gente começou a ter uma redução dos roubos, de veículo, de carga, de banco... Chegamos a números recordes (positivos) em 2020 de (roubo de) carga e banco, recordes de roubos de veículos em 2019. Agora em 2020, após um trimestre ruim da pandemia e dos motins, viemos com o segundo melhor resultado histórico desde 2012.

Com relação aos homicídios, (tivemos) uma experiência muito exitosa com o Proteger (Programa de Proteção Territorial e Gestão de Riscos), que gerou redução, entre novembro de 2017 e setembro de 2019, de 76% dos homicídios em Fortaleza. Por isso, a gente começou a ampliar para Maracanaú, para Caucaia... O plano é ampliar para outros locais. O Proteger que está enquadrado dentro das Unisegs (Unidades Integradas de Segurança), que fazem parte do Ceará Pacífico, com policiamento comunitário. A Polícia Civil faz um trabalho de dissuasão focada, que, inclusive, está sendo estudada por uma faculdade de Nova York, em que trabalhamos com alvos específicos de cada uma das comunidades e também levamos ações sociais.

Então, 2019, com a intervenção também no (sistema) penitenciário, chegamos a esses melhores resultados. E 2020, infelizmente, tivemos motins e pandemia, duas crises muito fortes, algo nunca antes vividos no Estado, mas que, passados 90 dias dos motins, nós já vemos, junho, julho e agosto, melhorando a cada mês e já alcançando resultados históricos, só perdendo em comparação com 2019. Mas, se puxar de 2012 a 2020, estamos alcançando o segundo melhor resultado.

OP: Há algo que fica pendente? Onde o novo secretário precisaria avançar?

 AC: Sempre ficam pendências, a gente nunca consegue ter tempo para realizar tudo o que a gente deseja. Novo secretário chega e vou passar o tempo que for necessário para a gente sentar juntos e mostrar a ele tudo o que nós temos feito, explicar toda a estratégia que a gente montou para o Estado, para que haja esse trabalho de continuidade. E tem ainda muitas novidades para lançar. Em breve, (será lançada) rede integrada de tecnologia em segurança, em que vamos integrar laboratórios de quatro universidades, da UFC, Uece, IFCE e Unifor, para que continuemos nessa crescente de desenvolvimento de tecnologia em segurança pública. Eu vou poder trabalhar em conjunto com os pesquisadores. (Agora) Não mais como secretário, apenas como pesquisador, trazer minha experiência como delegado, para que a gente possa continuar desenvolvendo essas ferramentas que serão úteis não só no Ceará, mas em todo o Brasil. Estamos envolvido no projeto nacional de Big Data, inteligência artificial, estou lá como um dos coordenadores, então, a gente espera continuar trabalhando nesse sentido.

OP: Houve desgaste com a tropa após o motim de parte da PM em fevereiro? Que impacto isso teve em sua decisão de deixar a pasta?

O desgaste é natural. No entanto, não é nem um pouco determinante para a minha decisão. Até porque foram alguns policiais que se amotinaram. Nunca fui nem tive pretensão de ser unanimidade. Sempre havia uma certa rejeição na tropa, isso é natural para qualquer gestor, a gente não tem como dizer sim a todos e a todo momento. Mas já é algo superado. A PM vem atuando bastante. Tivemos grande parte da tropa que não participou, tínhamos todos os oficiais, que sempre apoiaram meu trabalho a todo momento. E, realmente, a motivação já foi externada, já havia conversado há algum tempo com o governador sobre minha situação familiar. Tenho uma única filha, ela vive fora do Ceará e, a cada mês que se passava, ela mais e mais cobrava maior presença como pai. E eu achei que, passadas as últimas crises, é um momento um pouco menos turbulento, para não sair no meio de uma crise, fazer uma sucessão tranquila e poder, então, retornar e poder cumprir melhor o papel como pai.

 OP: Quais são os seus planos daqui em diante?

AC: O que levamos de bagagem, quando a gente sai de uma cargo desse, é o conhecimento e a experiência. Acho que é algo importante, que não deve ser desperdiçado. Quer queira ou não, tive uma larga experiência, passando por muitos desafios, experiência de forte liderança perante a tropa. Então, (planejo) aproveitar esse conhecimento. Os planos agora são voltar a Polícia Federal, em Alagoas, que é a minha lotação, como delegado. Mas também continuar envolvido junto às universidades, nos projetos, pesquisas, principalmente na parte negocial, explicando as necessidades que nós policiais temos de tecnologia. 

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