Além de ponto de lazer, o Parque Estadual do Cocó é uma unidade de proteção integral do meio ambiente. É nessa perspectiva que, ainda em 2020, o passeio com animais domésticos nas trilhas do Parque, a utilização de campos de futebol e os percursos de bicicleta na área de floresta serão proibidos. A decisão, que vem circulando em memorandos de condomínios e redes sociais, faz parte da busca pela preservação da área.
O tópico sobre animais domésticos é o que desperta mais debates. Para o biólogo Bruno Guilhon, que estuda o Cocó, a presença desses animais "é uma via de mão dupla de transmissão de doenças e parasitas". "Os impactos são imensamente maiores aos animais silvestres, visto que não frequentam clínicas veterinárias e que não têm resistência natural a doenças que são muito comuns em animais domésticos", enfatiza.
Na manhã de ontem, 13, Marcos Dória caminhava com a filha e a cadelinha Lolly, uma yorkshire de sete anos. Moradores do Papicu, a família desconhecia a discussão sobre a nova regra. "Se foi aconselhado por pessoas que têm o conhecimento técnico necessário, concordo 100%. A gente só tem que seguir", opina sobre a proibição. "A gente procura um outro local para caminhar. Eles (animais de estimação) já têm o benefício de ter casa, comida, tudo."
Desativar o último campo de futebol na área interna do Parque também tem o objetivo de aumentar o bem-estar das espécies da região. "Pode parecer exagerado para muitas pessoas, mas não podemos nos esquecer que o Cocó é uma Unidade de Conservação, que visa proteger animais e plantas nativas, além de permitir um maior contato das pessoas com essa beleza natural", pontua o biólogo. Na prática, o uso dos campos está impossibilitado pela vegetação que cresceu durante período de fechamento do parque e chega a 40 cm de altura. Com as regras, os jogos deverão acontecer na Areninha ao lado do anfiteatro.
Por sua vez, a circulação de bicicletas nas trilhas já é regida pelo Regulamento do Parque. Atualmente é proibido pedalar nas trilhas aos domingos até as 13 horas, pois é um dos horários de maior visitação. Ainda assim, a presença de ciclistas permanece como O POVO registrou na manhã de ontem. Policiais ambientais são os responsáveis por impedir a entrada e orientar o uso correto. "Os pequenos animais nem sempre são conhecidos e eles são os principais impactados pelas bicicletas, pois o ciclista não tem condições de perceber quando um pequeno sapo, uma cobra ou lagarto estão cruzando a trilha", explica Guilhon.
Os três pontos estão em uma lista de 30 entraves para a correta proteção da unidade de conservação (UC), elaborada pela Arcadis Design & Consultancy Brasil. A empresa é, desde janeiro, responsável por mediar discussões com representantes da sociedade civil e a Secretaria do Meio Ambiente do Ceará (Sema) sobre a sustentabilidade dos 1.571,29 hectares do Parque.
Como resultado, está sendo elaborado o Plano de Manejo do Cocó, documento técnico necessário a toda UC e que faz o diagnóstico da fauna e da flora, o zoneamento do parque e dá diretrizes para uma boa gestão. A expectativa é que texto final seja apresentado e submetido à aprovação entre final de outubro e início de novembro.
"Nesse sentido estamos, nos últimos 15 dias, conversando com condôminos da região, gateiras e lideranças das comunidades próximas", afirma o gestor da unidade, Paulo Lira. "Estamos iniciando um processo de educação ambiental e quando o Plano de Manejo for finalizado iremos efetivamente fazer valer", completa Artur Bruno, titular da Sema.
Alimentadores e suportes para retirada de coco dos pets serão removidos das trilhas. Placas informativas em alusão à norma serão colocadas nas entradas do local. Já os gatos de rua também serão gradativamente retirados. O Batalhão de Polícia do Meio Ambiente e equipes da gestão do Parque serão responsáveis por tais ações.
Mudanças previstas
Atividades no Parque do Cocó devem mudar a partir de novembro, data prevista para a publicação do Plano de Manejo da unidade. Veja algumas mudanças:
Proibição de presença e trânsito de animais domésticos e/ou domesticados nas trilhas;
Fechamento das trilhas todas as segundas-feiras para manutenção;
Desativação dos campos de futebol;
Proibição de ciclismo nas trilhas aos domingos antes das 13h: regra já é posta pelo Regulamento do parque e deverá se manter;
Quanto aos condomínios na rua Caetano Cavalcante, os portões dos quatro prédios de acesso ao Parque serão liberados às 5h30min e fechados às 17h30min, seguindo o horário de funcionamento da unidade.