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Perícia colhe indícios de que tiro que matou garoto partiu da Polícia
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Perícia colhe indícios de que tiro que matou garoto partiu da Polícia

Cápsulas encontradas não são compatíveis com arma do pai do garoto, assim como disparos contra o carro partiram de fora. Caso é tratado como morte decorrente em intervenção policial
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CARRO em que Kauã estava foi metralhado, quando seu pai tentava fugir; outras três pessoas ficaram feridas (Foto: VIA WHATSAPP)
Foto: VIA WHATSAPP CARRO em que Kauã estava foi metralhado, quando seu pai tentava fugir; outras três pessoas ficaram feridas

Os tiros que atingiram o carro onde estava Kauã Viana Sales, de 12 anos, foram feitos de fora para dentro. A constatação é da Perícia Forense do Estado (Pefoce), conforme relatório do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) ao qual O POVO teve acesso. No local, ainda segundo o relatório, também foram encontrados 21 estojos de calibre .40 e cinco de calibre 5.56. As informações reforçam a tese de que partiu de policiais o disparo que vitimou o garoto, apesar de agentes de segurança que já prestaram depoimento terem dito não saber de onde partiram os tiros. Nenhum deles afirmou ter disparado contra o carro.

Eram desses calibres, respectivamente, as pistolas de policiais civis e militares e os fuzis dos policiais militares que atenderam à ocorrência, enquanto Wandiney Sales Matos, pai de Kauã, que dirigia o carro, portava espingarda calibre 32. O caso foi classificado na portaria de abertura do inquérito como morte decorrente de oposição à intervenção policial, que possui excludente de ilicitude.

Kauã foi morto enquanto o pai tentava fugir, após matar a tiros Herlando Andrade da Silva, de 44 anos. O caso ocorreu na última sexta-feira, 11, por volta das 15 horas, no bairro Nova Metrópole, em Caucaia. Conforme o auto de prisão em flagrante de Wandiney, ele e Herlando discutiam desde horas antes do crime. Após nova briga, Wandiney teria arrastado Herlando para dentro da própria casa e assassinado o desafeto com tiros da espingarda. As Polícia Civil e Militar foram acionadas, tendo chegado com o suspeito ainda dentro da casa. 

Cercado, ele tentou fugir de carro, onde também estavam sua esposa, sua mãe e sua filha de 2 anos, além de Kauã. Wandiney chegou a derrubar o portão da casa, mas colidiu com veículo da Polícia Civil. Começou, então, o tiroteio que resultou na morte de Kauã. O acusado, a mãe dele e uma criança de 11 anos que passava pelo local também foram feridos. Eles não correm risco de morte.

Os desentendimentos entre Wandiney e familiares de Herlando já eram antigos, conforme o inquérito, e a PM já havia estado no local antes do crime. Boletins de ocorrência já haviam sido registrado; inclusive, estava marcada para hoje mediação de conflitos entre as partes no 23º Distrito Policial. Herlando, porém, não morava no bairro e só estava visitando familiares.

Conforme um deles afirmou ao DHPP, Wandiney se incomodava por eles ficaram em frente de sua casa. Na manhã do dia do crime, diz a testemunha, Wandiney chegou a passar pela família, de carro, e dizer "hoje vai dá certo", com uma arma entre as pernas. Mais tarde, ele teria começado a quebrar o muro de um vizinho, ocasião em que foi acionada a PM. Quinze minutos após a saída dos PMs, Wandiney teria chamado Herlando, momento em que teria ocorrido o crime.

A um policial civil, Wandiney afirmou que já havia tendo problemas com o “pessoal do bairro” há algum tempo; A confusão, no entanto, ocorreu, segundo disse, após homens terem arremessado pedras contra sua casa. Ele, então, teria ficado apreensivo e pegado a espingarda que tinha em casa para se proteger. O disparo que vitimou Herlando teria ocorrido quando este tentou invadir a sua casa, com uma barra de ferro.


A esposa de Wandiney afirmou em depoimento que Herlando chegou a quebrar a janela da casa. Após isso, ela conta ter ouvido os disparos. A mulher ainda contou não ter identificado a chegada da Polícia e que não houve voz de comando por parte dos policiais. Os vidros fumê do carro também não a permitiram ver os policiais, disse. Também não teria dado para visualizar quem atirou no carro. Ela, no entanto, disse que Wandiney não atirou contra os policias, estando apenas dirigindo quando começaram os disparos. 

Além da investigação do DHPP, a Controladoria Geral de Disciplina dos Órgãos de Segurança Pública (CGD) abriu procedimento disciplinar para apuração dos fatos na seara administrativa.

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