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Durante pandemia, atendimento pediátrico cai até 86% em relação a 2019
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Durante pandemia, atendimento pediátrico cai até 86% em relação a 2019

Segundo pediatras, isolamento social das crianças diminuiu a transmissão de vírus e bactérias comuns
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Atendimento com uso de carrinhos no Hospital Luís de França (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Atendimento com uso de carrinhos no Hospital Luís de França

De janeiro a setembro deste ano, as consultas e atendimentos de emergência a crianças e pré-adolescentes tiveram redução de até 86% se comparados os números mensais com os do mesmo período de 2019. É o que apontam dados de unidades de referência para esse público em Fortaleza consultados pelo O POVO. De acordo com pediatras, a queda está relacionada tanto a recomendações de recorrer às unidades somente em casos graves quanto a menor interação entre os pequenos.

"A pediatria é sazonal. Os primeiros meses do ano são de muitas arboviroses e doenças respiratórias. Então os hospitais tendem a ficar lotados nesse período", aponta Cirle Bueno, coordenadora do departamento de enfermagem do Hospital Infantil Filantrópico Sopai. A unidade tinha uma média de 11,5 mil consultas por mês. Em maio deste ano, foram 3.294 - uma queda de 71%. "Na parte de internação também foi assim. A gente internava cerca de 1,5 mil crianças e adolescentes e em maio chegamos 572 internações."

Cirle aponta que a principal causa da diminuição foi o medo da Covid-19. "Mesmo as pessoas que necessitavam ir para hospital, estavam preferindo ficar em casa. Indo somente quando percebia risco do quadro clínico." Na visão da enfermeira, a postura é correta para o momento, mas é necessário não menosprezar a importância de acompanhamento médico. "Todas as unidades adotaram medidas que tornam mínimos os riscos de contaminação para os pacientes", assegura.

No Hospital Luís de França, outra referência em saúde infantil na Capital, a queda nos atendimentos foi maior entre os meses de março e abril. "Nossa média era de 22 mil consultas no primeiro semestre de 2019. Em fevereiro deste ano foram 17 mil; março foram 13 mil e em abril, 4 mil", especifica Elcio Abe, diretor médico corporativo da Pediatria. A redução foi de 70% nesse intervalo.

Para o médico, um fator determinante para a redução foi o isolamento social. "Sem contato de uma criança com a outra durante meses, elas não se expuseram aos vírus e bactérias", explica. "A sazonalidade natural não aconteceu em 2020. O diagnóstico principal desse período foram as gripes leves." Como exemplo, Abe cita entre maio e junho normalmente eram tratados 5 mil casos de amigdalite bacteriana. Em 2020, foram tratados dois casos em maio, três em junho, dez em julho e 160 em agosto. "A partir do momento que o isolamento começou a ser liberado, as infecções voltaram a aparecer", analisa. Na sexta-feira, 16, o Hospital Luís de França inaugurou o projeto Acolhimento Linha de Cuidado Cirúrgica, que leva o paciente do pré-operatório para o Centro Cirúrgico em um carrinho elétrico.

Abril e maio também foram os meses com maior queda de consultas no Centro Pediátrico da Unimed (CPU) Fortaleza. Enquanto em abril de 2019 foram 10.401 atendimentos, no mesmo mês este ano foram 1.450 - uma redução de 86%. Em maio foram 1.479 contra 9.686 do ano passado. De janeiro a setembro, foram 35.61 consultas contra 76.199 no mesmo período de 2019. Os principais diagnósticos foram náusea e vômito, gastroenterite e infecção viral não especificada.

Marfisa Portela, responsável pelo CPU, concorda que o cenário de menos contatos entre as crianças levou a esse cenário de queda nas consultas. "Como houve também uma intensificação da campanha de vacinação contra o H1N1, isso refletiu em menos infecções respiratórias", pontua. "Entretanto, os atendimentos decorrentes de acidentes domésticos aumentaram - quedas, cortes e queimaduras, por exemplo. Então a gente manda esse alerta para os pais."

Cuidados ao levar as crianças ao médico

Máscara e álcool em gel | Com as crianças, os cuidados precisam ser maiores, lavando as mãos com frequência e tendo sempre máscaras reserva. "O ideal é que crianças a partir de dois anos usem máscaras e o responsável observe se ela não está sufocando nem tirando", afirma Cirle Bueno.

Informação | Procure se informar sobre os fluxos de atendimento adotados no consultório ou hospital. O ideal é que consultas estejam mais espaçadas para evitar aglomerações e que, nos atendimentos de urgência, os casos respiratórios estejam isolados dos demais.

Poucos contatos | Crianças, principalmente as mais novas, têm costume de brincar com diversos objetos e colocar as mãos em contato com a boca, nariz e olhos. Por isso, os médicos recomendam mantê-las no colo ou entretidas com algum brinquedo vindo de casa.

Roupas para lavar e criança para o banho | Após voltar da consulta, a limpeza das roupas que foram usadas e a higiene pessoal são fundamentais para evitar riscos de transmissão do vírus.

 

No Brasil

Conforme pesquisa divulgada pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) em agosto, 61% dos pediatras relataram queda acentuada no número de atendimentos. Ao mesmo tempo, 82% afirmaram que aumentaram as consultas por meios como telefone e WhatsApp. O estudo foi realizado junto à Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) e entrevistou 1.525 profissionais.

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