Com a segunda onda de casos da Covid-19 registrada na Europa, a entrada de estrangeiros em locais onde o contágio está em queda pode representar novo aumento. Diante o risco, o governador Camilo Santana solicitou ao ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, que os turistas estrangeiros realizem obrigatoriamente o exame antes do embarque. A solicitação, por meio de ofício, ocorreu após a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) se negar a testar passageiros que desembarcarem no Ceará em voos internacionais no Aeroporto Pinto Martins, em Fortaleza.
O chefe do Executivo explicou, ontem, 20, nas redes sociais, que a decisão é para garantir "mais segurança para os cearenses, prevenindo que nosso aeroporto seja porta de entrada de um novo surto de Covid". Segundo o governo, a solicitação segue "o princípio da reciprocidade, de acordo com o Direito Internacional Público". "Ou seja, que as mesmas exigências feitas aos brasileiros no exterior sejam praticadas em solo nacional, como a realização obrigatória do exame de Covid antes do passageiro embarcar para o Brasil", argumentou.
Segundo especialistas, os aeroportos foram as principais portas de entrada do novo coronavírus nas capitais com maior incidência de voos internacionais vindos da Europa, como é o caso de Fortaleza. Domingos Alves, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP), destaca que o número de casos diários em países como França, Itália e Espanha já ultrapassou o número de casos no pico da primeira onda. Ele explica que no Ceará há uma endemização.
"Existe um controle efetivo da situação, está estável. Mesmo número de casos e óbitos por dia. Número mais ou menos fixo com controle das internações. Quem pode infectar? Esses municípios do Interior que estão sendo observados com aumento de casos e com certeza países que estão enfrentando uma segunda onda", diz. Ele faz referência aos municípios de Juazeiro do Norte, Tauá, Crateús, Icó e Russas, que receberam recomendação para aumento das restrições no último decreto de isolamento social do Governo do Ceará.
"A pandemia lá (na Europa) está muito mais aguda do que está em Fortaleza. Esse é o risco ao receber pessoas sem testagem. A chance de pessoa de lá estar infectada é muito grande", detalha. Conforme o pesquisador, que integra o grupo Covid-19 Brasil, pode fazer uma grande diferença para a tomada de medidas restritivas. "Essa medida do governo de fazer teste deveria prevalecer. Tipicamente, jovens são assintomáticos e não adianta medir temperatura", acrescenta, frisando que o teste aplicado deve ser o sorológico e não testes rápidos.
Conforme Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o fluxo de uma pessoa com infecção pode não afetar em locais em que a doença ainda não está controlada. Mas em cenários de decréscimo de casos, pode gerar aumento. "Pode haver diferenciação importante das cepas entre as cepas que circulam. Se há diminuição de casos, é porque uma quantidade de pessoas não está mais suscetível. Se a gente tem a entrada de uma nova variante, pode ser uma cepa que população não tem imunidade", alerta.
O Ceará passou a somar 9.227 mortes em decorrência da Covid-19, segundo atualização de ontem, às 16h55min, da plataforma IntegraSUS, da Secretaria de Saúde do Estado (Sesa). São 266.316 pessoas infectadas pelo coronavírus e 228.371 pacientes recuperados da infecção. (Colaborou Júlia Duarte/Especial para O POVO)