Quarenta anos depois, a floresta do Cocó tenta reconectar seus pedaços em um parque de 1.571,29 hectares. Foi o que restou depois do “esquartejamento” causado pela urbanização desordenada de Pacatuba, Maracanaú, Itaitinga e de Fortaleza. Em 16/11/1980, os ambientalistas – naquela época com menos visibilidade do que hoje – produziram um feito que merecia uma placa ou um monumento à consciência ambiental e insistência deles.
Foi graças ao esforço dos “verdes” de Fortaleza que um trecho do rio, do mangue e da floresta não se fecharam em uma sede do Banco do Nordeste do Brasil (BNB). O banco não seria um bom tutor para o meio ambiente ali? Provavelmente seria, dado o cuidado sustentável que se tem hoje no Passaré, mas a reivindicação para criação do Parque do Cocó tinha uma necessidade mais coletiva para a Cidade e à Terra.
A inauguração do Parque Adahil Barreto marcava o ponto de partida da construção de uma narrativa pela proteção de uma área mais estendida dos ecossistemas viventes naquela baixa, à leste, por onde o oceano Atlântico penetrava em Fortaleza até o bairro do Castelão. Hoje, quase não chega ao Lagamar por causa do assoreamento e da poluição.
Pena que o poder público, a construção civil e as disputas por terras às margens do rio, do mar e das dunas, ao longo dos 40 anos, produziram um prejuízo indizível a um ecossistema tão caro para o “eco-espaço-degradado” que chamamos hoje de metrópole.
Perdemos todos e numa proporção de quase extinção. Só para refrescar a memória, no último colapso de estiagem no Ceará – por causa de seis anos seguidos de seca severa (2 CO012 a 2017) – o Estado até pensou em usar as águas do Cocó para abastecimento humano. Não o fez porque o rio na capital cearense, em Maracanaú e Itaitinga é 100% poluído.
Sem falar em espécies que desapareceram ou entraram na lista de ameaçados de extinção como Guaiamum (Cardisoma guanhumi) e outros caranguejos, desde a inauguração do Parque Adahil Barreto.
Quase 40 anos depois da luta dos ambientalistas pioneiros, o Parque Estadual do Cocó foi regulamentado (7/6/2017) por Camilo Santana (PT) e o Adahil Barreto foi incorporado às poligonais da Unidade de Conservação de Proteção Integral. Há duas semanas, o equipamento ecológico ganhou um plano de manejo e uma proposta quase finalizada de um Pacto abrangente entre municípios pela “ressuscitação” da Bacia Hidrográfica do rio. É correr atrás do prejuízo.