Manifestação denunciando abusos no sistema prisional cearense acabou com repressão policial na tarde de ontem no bairro Meireles, em frente à sede da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP). Segundo os manifestantes, o ato foi pacífico e não justificava a truculência adotada por policiais militares, que usaram balas de borracha e spray de pimenta. Duas mulheres e um homem foram detidos e encaminhados ao 2º Distrito Policial.
Os três foram liberados à noite após assinarem Termo Circunstanciado de Ocorrência por desobediência. Conforme a SAP, o protestou obstruiu a rua de acesso e desrespeitou o perímetro de segurança estabelecido pelos policiais presentes no local, "avançando em direção aos agentes de segurança e ao prédio público que sedia a SAP".
Manifestantes afirmam que o protesto era pacífico e que não houve confronto. Conforme Patrícia Oliveira, advogada da Comissão dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa, os militares não permitiram que os manifestantes chegassem em frente ao prédio. "A maioria dos manifestantes era de mulheres, tinha crianças", cita ela. Vídeos compartilhados em redes sociais mostram os militares avançando contra os manifestantes. Um deles se destaca e corre em direção a uma mulher, que segurava um cartaz, derrubando-a. Em seguida, disparos de balas de borracha são ouvidos. Ela é levada pelos PMs.
A SAP afirmou ter sido preciso uso de "equipamentos de controle de distúrbio para dispersão". O POVO procurou a Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS), que disse que a SAP responderia pelo caso. A nota da SAP diz que, "conforme procedimento padrão", a PM "vai apurar a conduta dos profissionais envolvidos na abordagem".
A Defensoria Pública acompanhou o caso e afirmou ter agendado atendimento aos envolvidos na segunda-feira, 23. "Com base nas imagens recebidas e testemunhas no local, a Defensoria vai oficiar os órgãos e autoridades responsáveis para providências em relação a possíveis abusos das forças policiais", diz nota do órgão.
A manifestação tinha como intuito fazer uma entrega simbólica de um "Troféu Tortura" ao secretário Mauro Albuquerque. Eram denunciadas violações como uso de violência física contra internos e tentativas de estupros. A SAP afirmou não ter havido pedido de audiência ou reunião com gestores.
Segundo familiar de um presidiário presente à manifestação, o objetivo da manifestação era "desconstruir" o discurso de normalidade da SAP. "Durante a pandemia, a Secretaria mostrou coisas que as pessoas que estavam saindo diziam que não era nada daquilo", diz a professora Maria de Deia. Os manifestantes ainda fizeram menção ao Dia da Consciência Negra, ocorrido ontem. "É uma questão estatística a maioria das pessoas presas são pretas. Elas são presas pela cor e pelo CEP", disse outra manifestante, que se identificou apenas como Maria (Com Alice Sousa)