Com aumento de casos de Covid-19 e internações pela doença no Ceará, o governador Camilo Santana (PT) quer evitar o fluxo entre Fortaleza e municípios do Interior do Estado para conter o aumento da circulação viral. Em coletiva na manhã desta quinta-feira, 21, foram anunciadas novas medidas, como a proibição do uso de áreas comuns de lazer em condomínios de praia e a ampliação de aproximadamente 100 leitos nas próximas duas semanas.
"Tenho reunião agora com o setor da área de transporte público para trabalharmos com uma fiscalização e alternativas para reduzir o problema das aglomerações nos transportes públicos, principalmente municipais", disse o governador. A reunião que delibera sobre os decretos sanitários é realizada às sextas-feiras, mas foi antecipada por causa do agravamento da situação no Estado. Além da proibição do uso de áreas comuns de lazer nos condomínios de praia, haverá recomendação de protocolos nos condomínios urbanos.
Governo e Prefeitura querem evitar um lockdown para preservar a atividade econômica. Contudo, o chefe do executivo afirmou que "se for necessário tomarmos outras medidas, vamos avaliar". "Nossa intenção é não tomar nenhuma medida que afete a economia do Estado, mas vamos avaliar semana a semana", disse. Ele informou também que irá intensificar a fiscalização em bares, restaurantes e punir estabelecimentos reincidentes.
O prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), também garantiu que locais que registram aglomeração de forma recorrente terão mais fiscalizações. "Nossos agentes de fiscalização e policiamento irão nos locais onde reiteradamente as pessoas têm quebrado o protocolo e ameaçado a saúde da população", assinalou.
De acordo com o secretário da Saúde do Ceará, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, o Dr. Cabeto, está previsto aumento em torno de 100 leitos novos de UTI em duas semanas, "bem acima da necessidade hoje projetada", segundo garantiu, para que se tenha "bastante segurança". Isso inclui também aos insumos como materiais anestésicos, analgésicos, equipamentos de proteção individuais (EPIs).
"Os hospitais regionais do Interior estão tendo reativação dos leitos de campanha. Alguns deles, estamos aumentando de 10 a 20 leitos de UTI e a mesma quantidade de enfermaria em cada hospital regional", completou. Ele citou entre as unidades contempladas o Hospital Leonardo Da Vinci e o Instituto Doutor José Frota (IJF). No Hospital Geral de Fortaleza (HGF) e no Hospital de Messejana, há duas semanas os leitos de campanha voltaram a receber pacientes com Covid-19.
Segundo o secretário, o Estado investiga a existência de infecções pela nova cepa do coronavírus. Para isso, a Sesa está avaliando os perfis epidemiológicos para saber se o comportamento do vírus e a forma clínica de apresentação está mudando. Há mudança do perfil epidemiológico no Ceará, acometendo mais jovens. Quase 70% das pessoas contaminadas têm menos de 50 anos. "Estamos encaminhando para a Fiocruz a análise de algumas amostras de pessoas para que a gente possa analisar se há essa mutação encontrada fora do Brasil e em Manaus. Há muita dúvida acerca da transmissão e da gravidade", explicou.
O Ceará chegou a 359.678 casos confirmados de Covid-19 e 10.299 mortes por Covid-19, conforme atualização da plataforma IntegraSUS, da Sesa, feita às 17h36min desta quinta-feira, 21. Segundo a secretaria, nenhuma morte em decorrência da Covid-19 foi confirmada nas 24 horas anteriores.
Pelo menos 30 pacientes são testados para nova variante no Ceará
Pelo menos 30 pacientes oriundos de localidades em que a nova variante de Covid-19 está em circulação estão passando por testes genéticos no Ceará, para verificar se a nova cepa também está presente no Estado. A informação foi compartilhada por Ana Beatriz da Costa Guerreiro, médica da rede municipal de Fortaleza, por meio do Twitter na noite de ontem.
"Estão testando pacientes vindos de localidades com a nova variante (ex: Manaus, RJ). Os casos ainda não foram confirmados aqui. Aguardam resultado da RT-PCR (exame que detecta a doença)", escreveu a médica em sua rede social.
O POVO apurou que parte dos pacientes que passam pela investigação conduzida pela Secretaria Estadual da Saúde deixaram a cidade de Manaus para se tratar em um hospital da rede privada da Capital. O estado do Amazonas segue enfrentando grave crise com hospitais superlotados e escassez de oxigênio.
Mais cedo, em coletiva, o secretário estadual, Dr. Cabeto, já havia confirmado a investigação sobre a presença da nova variante em infecções anotadas no território cearense. A secretaria avalia os perfis epidemiológicos para saber se o comportamento do vírus e a forma clínica de apresentação está sofrendo alterações. As amostras serão analisadas no laboratório da Fiocruz. "Há muita dúvida acerca da transmissão e da gravidade", explicou Cabeto. (Leonardo Maia)
Número de crianças internadas dobra no Albert Sabin
O aumento das internações de crianças com Covid-19 em Fortaleza preocupa as autoridades de saúde no Ceará. Durante a entrevista coletiva ontem, os secretários da Saúde do Estado, Dr. Cabeto, e de Fortaleza, Ana Estela Leite, comentaram sobre o aumento de infecções pelo coronavírus em crianças, bem como de internações graves nas últimas duas semanas.
A demanda maior foi registrada no Hospital Infantil Albert Sabin (Hias). "Nos últimos sete dias houve uma mudança no número de internações que anteriormente não estava acontecendo. Estamos com o dobro do atendimento em Covid-19 no Albert Sabin", disse Cabeto.
O apoio ao atendimento infantil está sendo ampliado em parceria com o Hospital Infantil Filantrópico (Sopai), de acordo com o secretário. Segundo ele, a evolução dos casos será acompanhada com mais detalhes.
A secretária Ana Estela disse que a alta taxa de ocupação dos leitos infantis tem gerado alerta. "Já temos várias crianças internadas. Está nos sinalizando uma mudança do perfil epidemiológico. Tudo o que está acontecendo hoje são cenários que nos colocam em alerta e que precisam ser estudados".
Conforme o pediatra Eugênio Pacelli, do Hias, as orientações para evitar o aumento de casos de Covid-19 em crianças seguem as mesmas. "Intensificar o distanciamento social e uso de máscara. Há casos de Covid-19 pediátrico, mas em sua maioria costumam ser bem menos graves do que os adultos, o que não significa dizer que as crianças não evoluam com gravidade", esclarece. (Mirla Nobre)