O prognóstico da quadra chuvosa para o Ceará será lançado duas vezes por mês a partir deste ano. Os especialistas da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) devem rodar os modelos numéricos para prever o comportamento do Oceano Atlântico, que tem modulado o sinal de chuva abaixo da média para o primeiro trimestre da quadra chuvosa deste ano no Estado.
De acordo com o presidente da Funceme, Eduardo Sávio, as condições do Atlântico Norte Equatorial estão muito mais aquecidas com relação ao Atlântico Sul Equatorial. Por isso, as precipitações tendem a ser acima da média justamente ao noroeste do Estado. No entanto, as dinâmicas podem mudar rapidamente. Daí, a necessidade de mais atenção à movimentação.
"Foi uma surpresa que os modelos convergissem com tanta coerência. Tivemos poucos modelos que divergiram do cenário que estamos apontando. O Atlântico é uma bacia pequena, que muda mais rapidamente. Por isso, requer monitoramento atento, que já é feito em escala semanal. Toda segunda-feira lançamos a situação do Atlântico e do Pacífico. Agora, é o sistema de previsão", afirmou Sávio ao O POVO, na sede da Funceme.
A iniciativa da Fundação ocorre via Banco Mundial. O monitoramento ativo é resultado da parceria entre os governos do Brasil, Estados Unidos e França. A expectativa ainda é de expansão das boias que medem a temperatura na superfície e subsuperfície do oceano.
Nessa quarta-feira, 20, Sávio e o titular da Secretaria de Recursos Hídricos (SRH), Francisco Teixeira, apresentaram a previsão para os três primeiros meses da quadra chuvosa no Estado. A expectativa é de 50% acima da média, 40% dentro da média e 10% para superá-la. Com as mudanças do comportamento do Atlântico, é possível que o percentual de cada categoria do prognóstico mude.
O próximo cenário deve ser divulgado entre os dias 11 e 12 de fevereiro. O seguinte, em 28 do mesmo mês. "Como a previsão agora está sendo muito modulada pelo Atlântico, as mudanças que podem ocorrer são mais significativas. Apesar que, nas últimas semanas, o Atlântico Norte Equatorial tem se mantido aquecido. Significa que os ventos vão convergir para essa região. Ou seja, a umidade vai passar ao norte do estado", explica.
Para ocorrer mudança significativa no prognóstico, o aquecimento precisa ocorrer mais ao Sul do Atlântico. Porém, os prognósticos já feitos apontam que isso não deve acontecer. "Os modelos estão colocando a tendência de que o Atlântico Norte Equatorial permaneça aquecido."
Questionado sobre a influência do Pacífico, Sávio esmiúça que, como é uma bacia oceânica muito extensa, há maior demora para a mudança de temperatura. Por isso, tende a ficar com águas mais frias até maio.
"O Pacífico interage com o Atlântico Norte via atmosfera. Então, ele estando frio tende a fazer com que o Atlântico Norte se resfrie e o Atlântico Sul se aqueça. Isso seria favorável pra gente. O problema é identificar, e fazemos isso com modelagem, o quanto essa reversão do cenário atual pode acontecer ao longo do trimestre. Se esse resfriamento vai atuar para resfriar o Atlântico Norte e aquecer o Atlântico Sul. Mas o quanto vai acontecer e se vai acontecer para mudar o prognóstico de agora", pontua. (Ítalo Cosme)