Constantes mutações do Sars-CoV-2, causador da Covid-19, vem provocando apreensão ao redor do mundo. Desde o início da pandemia, cientistas já identificaram cerca de 800 variantes do novo coronavírus. O receio surge quando uma variante toma proporções de transmissão significativas, como ocorreu com as novas versões identificadas no Reino Unido, na África do Sul, e, agora, no Brasil.
Ainda que a compreensão sobre o comportamento do vírus não seja completa, a rapidez na disseminação é uma das características das novas variantes. Diante disso, emergem questões sobre maiores riscos para os humanos, sobre quais cuidados tomar e até sobre a eficácia das vacinas.
O POVO reuniu alguns pontos a fim de entender a variante que chegou ao Ceará:
As mutações fazem parte da evolução natural das epidemias virais e acontecem principalmente nos vírus de RNA, como os coronavírus. Os vírus invadem as células para poder se multiplicar no organismo e, durante o processo de cópia, podem ocorrer erros que alteram o código genético. Os resultados dessas mutações são imprevisíveis: os vírus podem tanto se fortalecer e sobreviver melhor, quanto se enfraquecer. Quando há uma quantidade significativa de mutações, surgem as variantes, ou seja, grupos de microrganismos da mesma espécie mas com características genéticas distintas.
Pesquisas ainda estão sendo feitas para determinar se haverá impacto nas vacinas que estão sendo desenvolvidas e usadas de forma emergencial nos países. Muitos cientistas acreditam que as mutações não devem interferir na eficácia, porque os imunizantes estimulam sistema imune a produzir uma variedade de anticorpos, o que torna difícil para o vírus escapar do sistema de defesa do organismo.
Um estudo publicado na revista científica "Nature Medicine" nessa segunda-feira, 8, aponta que a vacina desenvolvida pelas empresas Pfizer e BioNTech contra a Covid-19 conseguiu neutralizar, em laboratório, três variantes do coronavírus. As variantes testadas aparecem na África do Sul e no Reino Unido e têm mutações que ocorrem na P1.
Os cuidados cotidianos já preconizados devem ser mantidos e intensificados. Sair de casa somente quando necessário, sempre utilizar máscaras e equipamentos de proteção individual, respeitar distanciamento físico, manter os ambientes arejados. "O vírus continua se transmitindo pelo ar. Só tem um jeito, o caminho é a prevenção: usar máscara, evitar aglomeração, lavar as mãos ou utilizar álcool em gel e vacinar", afirma Ivo Castelo Branco, infectologista e coordenador do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Ceará.
"Uma recomendação bastante importante é limitar a circulação de pessoas. Não é proibir as pessoas de saírem completamente, mas é diminuir o fluxo a fim de retardar o espalhamento dessa nova variante", expõe Christovam Barcelos, sanitarista especializado em saúde pública e integrante do Observatório Covid da Fiocruz. "Outra coisa necessária é a vigilância em saúde, especialmente a vigilância genômica, para ver qual é o tipo de vírus que está em circulação", completa. Barcelos enfatiza ainda a necessidade de ampliar a vacinação também para frear a disseminação do coronavírus. (Marcela Tosi marcela.tosi@opovo.com.br_)