Com a pandemia da Covid-19 em curso, o casal de educadores David Azevedo e Abimaele Fernandes decidiu fundar o colégio Mente Criativa, em novembro último, na contramão de outros 317 estabelecimentos educacionais que encerraram os trabalhos até outubro passado, desde o início do período pandêmico. Com foco no Ensino Infantil, a instituição é uma das autorizadas a funcionar nestes dias de decreto mais rígido, com ações para conter a proliferação do novo coronavírus.
Na noite do último dia 17, o governador Camilo Santana (PT) anunciou a suspensão das aulas presenciais em toda a rede de ensino, instituiu toque de recolher e uma série de medidas sanitárias restrititivas. No entanto, ao ler o decreto governamental, a diretora Abimaele percebeu a brecha para parte do público da escola: crianças de até três anos podem ter aulas presenciais. A unidade foi uma das primeiras a anunciar que manteria os encontros. Por mais que, para ela, crianças até o primeiro ano deveriam estar em sala de aula, a proprietária ali já ficou feliz.
“Muita gente de colégio maior que o meu me ligou dizendo que eu não poderia manter as aulas. Mas o decreto autorizava”, lembra. Como medida de proteção, a unidade já iniciou sob protocolos contra a Covid-19. No total, são 59 estudantes na instituição.
“Quando a escola abriu, a gente reduziu o número de alunos por turma. Eu estou trabalhando com poucos. Não posso colocar muitos até mesmo para dar segurança a eles. Eu tenho nove crianças no Infantil 1. No berçário, eu estou com cinco, mas o máximo que eu posso é seis. Poderia colocar mais? Poderia, mas até resolver a questão da pandemia vamos continuar assim.”
Até os festejos, por exemplo, são adaptados. Conforme Abimaele, cada sala fez seu próprio Carnaval. Quando os estudantes vão para o almoço, as classes são higienizadas. Há restrição para a circulação de responsáveis, totens de álcool em gel espalhados na escola e revezamento de turmas para uso dos espaços coletivos. Além de, periodicamente, o colégio passar por sanitização.
“Muda-se o calendário porque a gente tem de entender essa ausência dos alunos. A avaliação parcial teve de ser adiada. Muitos ainda não tinham material eletrônico”, comenta David. Também coordenador em outra instituição de ensino particular, o proprietário do Colégio Mente Criativa critica o excesso de exposição dos estudantes de educação infantil aos aparelhos digitais.
Para ele, quatro horas na frente de um celular ou computador vai de encontro ao recomendado por especialistas. “A escola tomou a decisão de remar contra a maré, de dar continuidade aos encontros presenciais com o berçário e a educação infantil. Ainda que algumas turmas não tenham sido contempladas".
O decreto estadual também libera as atividades presenciais no Ensino Superior quando não for possível fazê-las remotamente. Na Universidade Estadual do Ceará (Uece), a Faculdade de Medicina Veterinária, por exemplo, trabalha com turmas mínimas. Se no período pré-pandêmico uma turma tinha 20 alunos, agora são grupos de quatro pessoas e mais aulas das disciplinas.
Isaac Neto, professor da Favet/Uece e diretor do Hospital Veterinário Professor Sylvio Barbosa Cardoso, afirma que a medida garante o direito de todos os 325 alunos da unidade terem atividades práticas, atendendo as diretrizes do Governo do Estado e do grupo de trabalho contra a Covid-19 instituído na Universidade.
“Nós temos um plano de ação com os alunos da faculdade que considera todos os decretos liberados. Baseado nisso, nossas aulas de cunho teórico são por tecnologia remota. Porém, algumas atividades laboratoriais, relacionadas à pesquisa e à finalização de curso, que são áreas mais profissionalizantes, precisam ser na modalidade presencial. Então, aulas de cirurgia, de clínica e de procedimentos”, exemplifica.
Hiago Araújo, 20, graduando do 5º semestre da Favet, está com quatro disciplinas totalmente remotas e duas com aulas práticas presenciais: parasitologia veterinária e anatomia patológica. Essa última precisa da sala de necropsia, e a primeira demanda o laboratório específico. Os alunos, assim como Isaac afirmou, são divididos em grupos menores e todos utilizam equipamentos de proteção individual (EPIs).
“Como nossa instituição é pública, às vezes, falta estrutura maior em relação aos sistemas. Alguns professores também tiveram dificuldade em se adequar ao novo estilo de ensino. Mas a coordenação investiu e os capacitou. Eles tiveram a liberdade de usar o sistema de aula que preferiam", avalia.
Para o futuro médico-veterinário, o modelo híbrido é uma alternativa a ser considerada após a pandemia da Covid-19. No entanto, o modo que une aulas presenciais e virtuais ainda tem limitações, como a redução do contato com o professor e a acessibilidade. “Estagiar no hospital veterinário é uma forma de nos aproximarmos do ensino prático".
O novo decreto com novas medidas de combate à Covid-19 no Ceará entrou em vigor desde o último dia 18, e segue válido até 28 de fevereiro. O documento determina “toque de recolher”, limita funcionamento de atividades e renova barreiras sanitárias.
Veja os principais pontos:
>> Com novo decreto, saiba o que pode e o que não pode no Ceará
>> Delivery segue funcionando fora de horários restritos com o novo decreto; entenda
>> Veja como fica o transporte intermunicipal com o novo decreto
>> Com novo decreto, saiba o que pode funcionar após as 20 horas
>> Com o novo decreto, entenda como fica o teletrabalho
>> Saiba como denunciar aglomerações, festas e outras medidas de descumprimento do decreto estadual
>> Toque de recolher: praças, areninhas e calçadões e praias são fechados às 17 horas
>> Parques aquáticos, até de barracas de praia, não poderão funcionar no Ceará