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Entidade de médicos defende tratamento sem eficácia comprovada
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Entidade de médicos defende tratamento sem eficácia comprovada

| Covid-19 | Associação Médicos Pela Vida recomenda uma combinação de remédios que ainda estão em estudo ou já foram desacreditados pelos cientistas
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Um grupo chamado Médicos pela Vida, que teria sede em Recife, Pernambuco, publicou na terça-feira, 23, um informe publicitário em alguns dos principais jornais impressos do país, entre eles O POVO, intitulado "Manifesto pela vida - médicos do tratamento precoce Brasil".

O anúncio recomendava o chamado "tratamento precoce" contra a Covid-19, termo se refere ao uso de métodos ou drogas em pacientes com o novo coronavírus e que ganhou popularidade em virtude das várias manifestações públicas em defesa do amplo uso - principalmente da cloroquina - feitas pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido).

Apesar do apoio presidencial e até do Ministério da Saúde, não há evidência científica consistente até o momento que indique um tratamento precoce para a Covid-19. Esta é a posição de instituições renomadas como a Organização mundial da Saúde (OMS), Centros Norte-Americanos de controle e prevenção de doenças (CDC), Sociedade Americana de Infectologia (IDSA), Instituto Nacional de Saúde dos EUA (NIH), Sociedade Europeia de infectologia (ESCMID). No Brasil, têm o mesmo posicionamento a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI).

Os cientistas, médicos, pesquisadores e gestores vinculados a essas entidades não recomendam nenhum tipo de tratamento precoce para o coronavírus, tais como hidroxicloroquina, ivermectina, nitazoxanida, corticoide, zinco, vitaminas, ozônio por via retal ou dióxido de cloro, tomando como base os resultados de estudos e pesquisas reconhecidas no meio científico mundial.

Alguns integrantes do Médicos pela Vida se reuniram em setembro do ano passado com Bolsonaro, encontro que foi transmitido ao vivo por uma rede social do presidente e que tinha como tema a defesa do tratamento precoce com a cloroquina.

O POVO tentou entrar em contato ontem com representantes da entidade, mas o site informado no anúncio estava fora do ar desde a sua publicação. Outros veículos tradicionais de comunicação também não conseguiram obter mais informações com o grupo.

O Coletivo Rebento - Médicos em Defesa da Ética, da Ciência e do SUS, publicou uma nota na noite de ontem em suas redes sociais. Além de apontar outras demandas, o texto também critica o tratamento precoce. " Enquanto isso [o presidente da República e seus seguidores], continuam propagandeando 'tratamento precoce' que não funciona, talvez para diminuir o encalhe de milhões de comprimidos de medicamento produzidos sob seu comando", afirmou a nota.

 

Pesquisador critica informe e postura do grupo

O epidemiologista Antônio Lima, o Dr. Tanta, gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) e pós-doutor pela Universidade de Harvard, aponta deslizes graves no informe publicado pelo grupo "Médicos pela Vida".

"O 'tratamento precoce' com esses medicamentos não é levado a sério em canto nenhum do mundo, só no Brasil, tendo inclusive o apoio de alguns convênios médicos locais, que fornecem o kit de remédios aos associados. Por sinal, alguns médicos do Ceará também coadunam com esse informe. Sobre o grupo, já tive contato com eles antes e vi que não tem sequer um médico infectologista, nenhum especialista ou acadêmico, são todos ligados ao bolsonarismo e às ideologias, não à ciência. Lamento o fato de que muitos vão se deixar levar por essas falácias. Muitas pessoas estão tomando esses remédios como profilaxia, ou seja, para não adoecer".

O pesquisador também critica a postura do Conselho Federal de Medicina, que publicou em abril do ano passado uma nota técnica que considera o tratamento com drogas como cloroquina e azitromicina uma opção que cabe ao médico escolher para o paciente.

"De abril para cá, muita coisa já foi descoberta, inclusive que esses medicamentos não são eficazes para a Covid e que ainda têm efeitos colaterais graves. Já era para ter havido um posicionamento deles. Para se ter uma ideia, a própria Merck, fabricante da ivermectina, publicou um comunicado dizendo que não há evidências de que o medicamento fabricado por eles tenha algum efeito contra a Covid", destaca.

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