A poucos dias de completar um ano desde a primeira confirmação de caso de Covid-19 — em 15 de março —, o Ceará passa de 12 mil mortes pela infecção. O total de óbitos no Estado é maior que a população de 32 municípios cearenses. A média é de mil mortes por mês desde o início da pandemia. Foram somadas à contagem oficial 105 mortes e 3.046 casos nas últimas 24 horas.
A partir do começo de 2021, a disseminação se acentua, sendo acompanhada pelo aumento no número de óbitos. Conforme a plataforma IntegraSUS, da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), 516 mortes aconteceram em janeiro, 864 em fevereiro e 337 em apenas dez dias de março.
São 454.325 casos confirmados até essa quarta-feira, 10. Os dados foram atualizados às 16h46min de ontem pela plataforma IntegraSUS, da Sesa. Das mortes inseridas no sistema, pelo menos quatro aconteceram nas últimas 24 horas.
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A virologista e epidemiologista Caroline Gurgel aponta que a segunda onda da pandemia em curso foi causada principalmente pela disseminação de novas cepas do coronavírus.
"A nova variante tem maior afinidade pelos receptores. Tem uma quantidade muito maior de células infectadas liberando vírus. Por isso, uma quantidade muito grande de hospitalizações. Os jovens começaram a se expor bastante e o resultado disso foi modificação no perfil epidemiológico, com proporção maior de jovens se internando", explica a pesquisadora, que é enfermeira e professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Em janeiro, 124 pessoas com menos de 60 anos morreram em decorrência da Covid-19. No mês seguinte, foram 225. Com isso, o número de pessoas abaixo da faixa etária de risco aumentou 81% em um mês.
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Gurgel detalha que quanto mais o vírus tem contato com o hospedeiro, mais ele se torna resistente, adapta-se a ele e torna-se mais transmissível. A única solução é vacinar o máximo de pessoas possível em curto intervalo de tempo, argumenta. "A gente está passando pelo período de sazonalidade dos vírus respiratórios no Ceará. O pico é em abril e começa a declinar em maio. Em junho, tende a descer mais. Seguindo essa lógica, pode haver uma diminuição de casos e óbitos de Covid-19 por volta de julho. Mas não vai parar. Sempre vai estar sustentado na população através dos portadores assintomáticos", avalia.
Fortaleza está na metade do período inicial previsto de lockdown, que é de 14 dias. Contudo, na análise da pesquisadora, para a efetividade da medida a situação requer mais políticas públicas para manter o cidadão em casa.
"Precisa de harmonia entre o decreto e a aceitação pela população. Enquanto não tiver um aluguel social e manter a alimentação das pessoas em casa, elas vão continuar saindo. É como se estivesse tampando o sol com a peneira", critica.
Se não houver vacinação em massa ou adesão das pessoas, "uma terceira onda pode acontecer". "Não é adivinhação. Está batendo com muita força e a tendência é crescer. A gente pode ter ondas em cima de ondas no Brasil", alerta a epidemiologista.
Há exatamente um ano, o diretor-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), Tedros Adhanom, declarou que a organização elevou o estado da contaminação da Covid-19 ao nível de pandemia. À época, a mudança de classificação não foi justificada pela gravidade da doença, mas sim pela "disseminação geográfica rápida que a doença apresentava". Doze meses depois, o Brasil registra recordes diários de mortes consecutivos. Ontem, foram 2.286 novos óbitos em 24 horas.
Municípios cearenses com menos habitantes do que o total de mortos pela Covid-19 no Estado
Granjeiro - 4.814 habitantes
Guaramiranga - 5.132 habitantes
Baixio - 6.303 habitantes
Potiretama - 6.437 habitantes
Pacujá - 6.549 habitantes
Ereré - 7.225 habitantes
Antonina do Norte - 7.378 habitantes
São João do Jaguaribe - 7.601 habitantes
Altaneira - 7.650 habitantes
Senador Sá - 7.691 habitantes
General Sampaio - 7.694 habitantes
Umari - 7.736 habitantes
Arneiroz - 7.844 habitantes
Itaiçaba - 7.866 habitantes
Jati - 8.130 habitantes
Tarrafas - 8.573 habitantes
Moraújo - 8.779 habitantes
Penaforte - 9.143 habitantes
Palhano - 9.422 habitantes
Deputado Irapuan Pinheiro - 9.662 habitantes
Catunda - 10.376 habitantes
Mulungu - 10.941 habitantes
Ararendá - 10.959 habitantes
Pires Ferreira - 11.001 habitantes
Potengi - 11.106 habitantes
Groaíras - 11.144 habitantes
Martinópole - 11.321 habitantes
Jaguaribara - 11.492 habitantes
Ipaporanga - 11.596 habitantes
Alcântaras - 11.781 habitantes
Aratuba - 11.802 habitantes
Abaiara - 11.853 habitantes