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Internações de jovens por Covid-19 crescem e casos se tornam mais graves
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Internações de jovens por Covid-19 crescem e casos se tornam mais graves

Em Fortaleza, mudança no perfil etário vem desde de outubro. Clinicamente, médicos apontam maior número de pacientes jovens se internando em UTIs
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Um óbito foi confirmado nas últimas 24 horas   (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA Um óbito foi confirmado nas últimas 24 horas

O avanço da Covid-19 entre a população mais jovem tem preocupado em todo o País, tanto pelas mudanças no perfil da pandemia quanto por uma ocupação mais prolongada dos leitos. Em Fortaleza e no Ceará não tem sido diferente. Em fevereiro, 42,5% dos casos da doença registrados na Capital foram em pessoas entre 20 e 39 anos. Se considerar todos pacientes entre 20 e 59 anos, esse percentual vai para 75,1%.

Nessa sexta-feira, 12, morreu o vice-presidente da Federação Cearense de Karatê, Ennio Carlos Cardoso do Nascimento, aos 35 anos, em decorrência da Covid-19. Ele era professor de karatê em escolas de Fortaleza.

Na noite de quinta-feira, 11, ao anunciar lockdown no Estado inteiro, o governador Camilo Santana (PT) destacou a redução da média de idade dos casos que precisam se internação. "A média de idade de pessoas que estão sendo internadas no Ceará é entre 53 a 57 anos, tanto no (setor) público quanto no privado. Mais de 54% da população que está sendo internada nos hospitais do Ceará e de Fortaleza hoje tem menos de 60 anos." O governador salientou a diferença em relação à primeira onda. "Na pandemia do ano passado, as pessoas mais graves eram os idosos. As pessoas acima de 70 anos, de 80 anos. Agora não. Essa nova variante está sendo muito agressiva para uma população mais jovem, mais nova no Ceará." Isso faz com que a mortalidade seja reduzida, porque a chance de recuperação é maior do que seria em pacientes de mais idade.

Porém, uma consequência desse fato positivo acaba sendo pessoas por mais tempo nos leitos de UTI e enfermaria. Há então um problema decorrente de um fato positivo, que é a maior pressão sobre o sistema de saúde. 

"Temos uma situação muito clara de que a segunda onda, que teve início em outubro, foi puxada pelos casos em jovens e se estabiliza em uma alta concentração nessas faixas etárias”, explica Antonio Lima, epidemiologista da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS). "Isso vem avançando ao longo dos meses e pode ter ligação com a circulação da nova variante, mas é algo ainda a ser analisado. O que podemos destacar é que, por enquanto, essa mudança de perfil nos casos não tem resultado em mudança de perfil nos óbitos”, analisa. Ele estima que a maioria fortalezenses vítimas da pandemia tinham entre 68 e 72 anos.

Em todo o Ceará, pacientes entre 20 e 39 anos corresponderam a 43,7% dos casos confirmados em fevereiro. Em maio de 2020, quando houve o primeiro pico da doença, essa faixa etária correspondia a 36,96% de todos os casos daquele mês. Os dados são da plataforma IntegraSUS, mantida pela Secretaria da Saúde do Estado (Sesa).

"Nessas últimas semanas, a gente tem visto mudanças no perfil do paciente que busca atendimento por Covid-19. Ela tem acometido mais pacientes jovens, a hipoxemia (baixa concentração de oxigênio no sangue) tem sido mais grave e a chamada tempestade inflamatória tem sido mais longa”, aponta Vicente Lopes Monte Neto, coordenador da Unidade de Tratamento Intensivo do Hospital Regional Norte, em Sobral. “A impressão que dá é que tem mais paciente com perfil crítico, ou seja, paciente de UTI do que aqueles de enfermaria”, avalia.

O mesmo apontamento faz a médica intensivista Geórgia de Oliveira, que trabalha no Hospital Regional do Cariri, em Juazeiro do Norte. “Trabalho na linha de frente desde o início da pandemia, cada vez mais temos visto jovens entre 25 e 45 anos nas nossas UTIs. O padrão mudou totalmente, a doença não se estabilizou e agora está afetando pessoas mais jovens”, pondera. “E mais jovens cada vez mais graves.”

Na rede particular, até o último dia 5 de março, pacientes entre 18 e 59 anos correspondiam a 55% das pessoas internadas por Covid-19 no Hospital Unimed Fortaleza. Já os idosos correspondiam a 44% do total e o 1% restante era de pacientes abaixo dos 18 anos. “Na UTI, 56% dos pacientes têm acima de 60 anos. Ou seja, temos mais pacientes jovens internados; no entanto, nas UTIs predominam os idosos”, avalia Fernanda Colares, diretora geral da unidade. Na primeira semana de março, o hospital atendeu, em média, 290 pacientes na emergência respiratória por dia.

No acumulado desde o início da pandemia, a maior quantidade de casos de Covid-19 no Estado se concentra na faixa etária de 30 a 34 anos, seguida de perto pelo grupo de 35 a 39 anos, e por quem tem de 25 a 29 anos, de acordo com os números do IntegraSUS atualizados na tarde desta sexta, 12.

Sobrecarga

O secretário da Saúde do Ceará, Dr. Cabeto, enfatiza que “o número de pessoas jovens contaminadas aumentou muito”. “Isso reduz a mortalidade, mas faz com que o tempo de internação fique longo e aumenta a sobrecarga do sistema”, alerta.

 

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