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Distribuição e armazenamento são entraves para oxigênio no Interior
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Distribuição e armazenamento são entraves para oxigênio no Interior

Quantidade de pacientes internados aumenta demanda pelo insumo, que tem chegado a cidades com atraso. Empresas alegam questões técnicas
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 UPA DO EDSON QUEIROZ: no domingo, foi feita uma
Foto: Aurelio Alves  UPA DO EDSON QUEIROZ: no domingo, foi feita uma "operação de guerra" para transferir pacientes para outras unidades

Com o crescimento do número de casos confirmados de Covid-19 no Estado e o aumento de pacientes internados, necessitando de oxigênio medicinal, a possibilidade de haver desabastecimento do insumo em momento crítico da pandemia tem preocupado secretários da Saúde de cidades cearenses. Com a demanda cada vez maior, empresas têm dificuldade para prestar o serviço e municípios esperam por cilindros que chegam com atraso.

Na manhã de ontem, 15, a secretária da Saúde de Fortaleza, Ana Estela Leite, falou sobre a falta de oxigênio na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do bairro Edson Queiroz no último domingo, 14, e destacou que ninguém ficou sem oxigênio. Ela afirmou que foi feita uma "operação de guerra" para transferir pacientes para outras unidades.

"Isso faz parte dessa luta diária. Em (alguns) dias, temos unidades sobrecarregadas com pacientes, em outros essa sobrecarga pode comprometer oferta de oxigênio. Em determinados momentos são insumos, são medicamentos, e a gente tem vivido um dia atrás do outro tentando resolver todos os problemas e garantir a assistência", afirmou Ana Estela, em transmissão ao vivo pelas redes sociais.

A situação é mais complicada em cidades do Interior. A forma de armazenamento do insumo, muitas vezes em cilindros, é um dos problemas enfrentados pelos municípios, uma vez que não é o mais adequado para a situação da pandemia. "Eles seriam (suficientes) para uma demanda ordinária, mas não para uma demanda extraordinária e totalmente acima do comum", afirma o promotor de Justiça Enéas Romero de Vasconcelos.

Coordenador do Centro de Apoio Operacional da Cidadania (CAOCidadania) do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE), ele tem acompanhado reuniões entre o Governo do Ceará, municípios e empresas. "Também está havendo um problema de distribuição, e o que o Ministério Público tem feito é dialogar com as diferentes partes para encontrar uma solução. Se não for encontrada, vamos adotar todas as medidas necessárias."

De acordo com ele, as empresas alegam questões técnicas, necessidade de que o transporte seja feito adequadamente, dificuldade de dar vazão à necessidade dos municípios — principalmente no caso das menores empresas — e dificuldade de encontrar cilindros no mercado.

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O promotor frisa que a obrigação legal de garantir o oxigênio é dos gestores municipais, mas que tanto a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa) quanto o Ministério da Saúde (MS) têm papel enquanto agentes de coordenação e de fiscalização. Por meio das redes sociais, o governador Camilo Santana (PT) afirmou que todos os hospitais e equipamentos de saúde do Estado contam com oxigênio suficiente, mas há problema de fornecimento a equipamentos municipais por questão logística. "Embora os contratos sejam entre os municípios e as empresas, o Governo buscará ajudar no que for preciso para que o problema seja resolvido de forma urgente", escreveu.

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O último final de semana preocupou Margareth Teles de Queiroz, secretária da saúde de Cascavel, localizada a 62,9 quilômetros de Fortaleza. Não chegou a haver desabastecimento na cidade, mas o insumo demorou mais do que o normal para chegar. "Realmente, foi meio corrido esse final de semana, principalmente para quem estava precisando em caráter de urgência", conta. Na sexta-feira, 12, os cilindros que estavam previstos para o período diurno, chegaram quase meia-noite. Nesse dia, um cilindro de oxigênio medicinal foi emprestado para o município de Beberibe.

"A situação, pelo menos enquanto fornecimento de oxigênio para o município de Cascavel, ainda é tranquila, vamos dizer assim. Ficamos em alerta devido à notícia de desabastecimento de outros municípios, mas até o momento ainda não ficamos nessa situação. Sempre com poucas balas, mas tinha uma reserva", afirma.

Ontem, 15, o abastecimento de oxigênio medicinal a municípios cearenses pela A&G Gás foi interrompido devido à alta demanda. A empresa é responsável pela distribuição do insumo a cidades como Pacatuba, Ocara, Baturité, Guaramiranga, Pacoti, Amontada e Madalena.

Para Margareth, o fato de a pandemia estar ocorrendo simultaneamente em todo o Estado — diferentemente do ocorrido em 2020 — pode ter relação com a atual situação do abastecimento de municípios do Interior. O promotor de Justiça Enéas Romero destaca o impacto do número de pessoas internadas. "Nunca houve uma demanda tão grande. "

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