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Sem movimento, dificuldades para pessoas em situação de rua crescem no lockdown
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Sem movimento, dificuldades para pessoas em situação de rua crescem no lockdown

|PANDEMIA | Com redução de circulação, pessoas que estão morando na rua sentem com mais intensidade os impactos do lockdown
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 População que está vivendo na rua enfrenta dificuldades no período de lockdown  (Foto:  Thais Mesquita)
Foto: Thais Mesquita  População que está vivendo na rua enfrenta dificuldades no período de lockdown

Lockdown, distanciamento social e os demais cuidados sanitários que buscam combater a propagação do coronavírus parecem fazer parte de um "universo paralelo" para aqueles que sequer possuem o básico para sobreviver, como ter acesso a uma moradia.

Essa é a situação de muitas pessoas em situação de rua que vivem no coração de Fortaleza, a Praça do Ferreira. Habituados ao esquecimento social, a sensação de invisibilidade não é diferente durante a maior crise sanitária da era moderna, definição dada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para a pandemia do coronavírus.

"Quando o Centro tava aberto eu ainda conseguia fazer um dinheirinho com a reciclagem, mas com isso de fechar tudo não tem reciclagem, eu vou fazer o quê? Vou pra onde? Só posso ficar aqui", conta Rivelino Lopes, 41, que está morando na rua há mais de 10 anos.

Desde o último sábado, 13, passou a vigorar o novo decreto que determina lockdown em todos os municípios cearenses. Para aqueles que vivem em situação de vulnerabilidade, não há como separar o "lar" das ruas da Capital.

"Só tenho esperança que as coisas possam melhorar porque não acho que tem como ficar pior, o que vai ser da gente que já moramos na rua? Muita gente tem pena e acaba dando alguma coisinha, mas ajuda mesmo é só de Deus", desabafa Rivelino, que conta ter abandonado sua casa após problemas com a família.

Dentre os relatos encontrados pelo Centro de Fortaleza, José Henrique, 62, é uma exceção. Ele conta que é formado em Filosofia e mestre em Teoria Literária pela Universidade Nacional de Brasília (UNB). Henrique apresenta o diploma ao contar sua história.

"Já são mais de dez anos nessa luta, vivemos em um processo de neoliberalismo que prega a exclusão. Eu cheguei em Fortaleza em fevereiro, antes passei por Manaus e Roraima. Muita gente pensa que somos porcos ou cachorros. Eu estou na rua para colaborar com a população que vive nesta situação".

Sobre o lockdown que vigora no Ceará, ele diz entender os dilemas da pandemia, mas discorda das medidas adotadas.

"O lockdown é uma tremenda insensatez. É um massacre à população de baixa renda e aos que vivem em situação precária. É claro que a pandemia existe e ninguém vai negar, mas tem de haver um ajuste nos horários para que a Cidade possa continuar subsistindo. Em relação à população em situação de rua, temos que ter uma bandeira mínima, que é a concessão de um aluguel social", destaca José, que considera o Poder Público ineficiente.

No último dia 11, o prefeito de Fortaleza, José Sarto, anunciou uma série de medidas que visa a proteção social à população mais vulnerável. Segundo a Prefeitura, pelo menos 392 mil pessoas serão beneficiadas. Durante os próximos três meses, 108 mil cestas básicas serão distribuídas a famílias de alta vulnerabilidade.

Durante os próximos quatro meses, a Prefeitura de Fortaleza planeja entregar diariamente mil quentinhas e 400 sopas às pessoas em situação de rua e vulneráveis na Capital. A Poder Público também pretende disponibilizar locais de banho e dormitórios para essa população, além de fazer a manutenção de três novos abrigos para atendimento de crianças e adolescentes, durante um ano.

 

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