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É preciso mais diálogo com alunos e mudanças na oferta do Ensino de Jovens e Adultos
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É preciso mais diálogo com alunos e mudanças na oferta do Ensino de Jovens e Adultos

Professoras analisam impactos da pandemia para o público da EJA
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"A adesão dos estudantes à escola caiu. Tudo foi feito com pouquíssimo diálogo com eles e com os professores. No debate nacional, especialistas foram sendo chamados para falar sobre, mas os professores nunca apareceram para dizer o que é possível fazer e o que, de antemão, não vai dar certo. Os professores se conhecem e conhecem seus alunos", analisa Ana Karina Brenner, docente do programa de pós-graduação em Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

E complementa: "É preciso saber o que estudantes estão fazendo da vida e compreender suas dinâmicas para construir uma oferta escolar capaz de acolhê-los e entender que eles têm vidas para além da escola. Não é só falar: 'Digam o que vocês querem'".

Karina cita a postura do Ministério da Educação (MEC) como fator de agravamento da crise educacional. Para a docente, o órgão federal deixou de ser indutor e orientador de políticas públicas neste momento grave e excepcional da história brasileira, o que dificultou ainda mais o trabalho da educação durante a pandemia da Covid-19.

Uma dos caminhos possíveis para solucionar, cita, é flexibilizar o horário de oferta das disciplinas. Em algumas poucas experiências, redes apostam em duas horas de aulas diárias, por exemplo. A professora da Uerj comenta que o Estado do Ceará tem boas práticas a partir da Busca Ativa dos estudantes e deve aproveitá-las.

Por outro lado, a participação de 70% dos alunos do EJA no Ceará em 2020, acredita Karina, expõe uma fragilidade na política educacional e na garantia do direito à educação. O cenário agrava-se mais frente a escolaridade média do país que já é baixa.

"A minha preocupação é saber se eles estão realmente entendendo, mesmo falando e batendo na mesma tecla de que os meninos terão essa fenda para sempre: uma lacuna no processo de ensino-aprendizagem", pondera Maga Costa, professora de língua portuguesa em um dos Centro de Educação de Jovens e Adultos (Ceja) do Estado e na rede privada em Fortaleza.

"Se o aluno quer estudar e aprender, eu estou do outro lado esperando por ele", se disponibiliza Maga. A educadora mostra empatia com os educandos ao lembrar que todos os dias aprende e se adapta ao modelo de ensino remoto.

Docente do Centro de Educação da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Raquel Martins reitera que as classes populares são as mais atingidas com essa redução de matrículas, fator que agrava ainda mais as desigualdades econômicas e sociais.

"Não dá mais para a escola pensar que o seu papel está estritamente vinculado ao ensino de conteúdo. A escola e a política educacional não podem mais se movimentar desta forma. Às vezes, quem abandona e se evade é a proposta escolar. Principalmente quando falamos da periferia", analisa Raquel, também professora na rede municipal de Fortaleza.

A especialista ressalta que o público da EJA está longe do espaço escolar e, quanto retomam os estudos, não é apenas para finalizar o ensino básico, mas para criar vínculos e se integrar com seus pares.

"Nós, enquanto professores, somos a política educacional e também somos o Estado. Dentro desse momento extremamente difícil, precisamos saber como as pessoas estão, saber escutar", e, ao lembrar de Paulo Freire, questiona: "Por que não criar uma afetividade com esses estudantes e com suas famílias?"

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