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Exclusiva para militares, UTI do Hospital do Exército de Fortaleza entra em colapso
CIDADES

Exclusiva para militares, UTI do Hospital do Exército de Fortaleza entra em colapso

Dados divulgados pelo Ministério da Defesa apontam superlotação, com 111% de ocupação nos leitos de UTI do único hospital administrado pelo Exército no Ceará, cujos leitos são exclusivos para militares. De acordo com o TCU, leitos exclusivos para militares violam o dever constitucional de garantir saúde a todos os brasileiros, sem distinção, e de forma universal
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Hospital Geral de Fortaleza administrado pelo Exército, na avenida Desembargador Moreira, em frente à Praça das Flores (Foto: EXÉRCITO BRASILEIRO)
Foto: EXÉRCITO BRASILEIRO Hospital Geral de Fortaleza administrado pelo Exército, na avenida Desembargador Moreira, em frente à Praça das Flores

O Hospital Geral do Exército em Fortaleza (HGeF) enfrenta quadro de colapso em meio ao agravamento da pandemia de Covid-19 no Ceará. Dados divulgados pelo Ministério da Defesa, na terça-feira, 6, após determinação do Tribunal de Contas da União (TCU), apontam que a taxa de ocupação das unidades de terapia intensiva (UTIs) na unidade chega a 111%. Ao todo, são 13 leitos de terapia intensiva ativos, 10 deles voltados para pacientes infectados pelo novo coronavírus e os demais destinados ao tratamento de outras patologias.

Na ala de enfermaria, que dispõe de 39 leitos, a ocupação chega a 78%, indicando risco de colapso iminente, conforme classificação que consta nas planilhas disponibilizadas pelo Ministério da Defesa. Os documentos revelam que, durante a pandemia, o HGeF já criou pelo menos 11 leitos emergenciais (7 clínicos e 4 UTIs) para atender o aumento na demanda por internações em virtude do agravamento da crise sanitária.

A oferta dos leitos de enfermaria e de terapia intensiva instalados na unidade é exclusiva para militares inscritos no Sistema de Saúde do Exército. A assessoria de imprensa do Comando da 10ª Região Militar foi procurada pelo O POVO, mas não respondeu, até a publicação desta matéria, se o Hospital também está disponível para o atendimento de civis, diante da pressão sobre as redes de saúde pública e privada no Ceará.

 

As informações sobre a oferta de leitos Covid nos Hospitais administrados pelas Forças Armadas, incluindo o de Fortaleza, eram mantidas sob sigilo desde o início da pandemia. Os indicadores começaram a ser revelados nesta semana, por determinação do TCU, que apura se o Ministério da Defesa teria se negado a ofertar os leitos das unidades militares a pacientes civis infectados pela Covid-19.

De acordo com o Tribunal, a oferta de leitos exclusiva aos militares viola o dever constitucional do Estado de garantir saúde a todos os brasileiros, sem distinção, e de forma universal. Os auditores do órgão sugerem que os hospitais militares formalizem convênios com o Sistema Único de Saúde (SUS) para ampliar a assistência à população civil enquanto durar a pandemia.

Diferentemente do HGeF, que tem alta ocupação nas UTIs e enfermarias, há outras unidades de saúde das Forças Armadas pelo País com baixos indicadores de internação. É o caso do Hospital de Guarnição de João Pessoa (PB), com apenas 33% das vagas clínicas ocupadas, Hospital Geral de Curitiba (PR), com 19%, Hospital de Guarnição de Florianópolis (SC), com 13%, entre outros.

Em nota enviada ao O POVO, o Ministério da Defesa diz que não há ociosidade de leitos e destaca que a maioria dos hospitais militares está com quase todas as UTI ocupados. Em 17 das 20 unidades, a taxa de ocupação está acima de 100%. "Esses leitos estão ocupados tanto por pacientes com Covid-19 quanto por pacientes em pós-operatório e oncológicos", pontua a pasta.

Sobre a possibilidade de as unidades de saúde das Forças Armadas atenderem civis durante a pandemia, o Ministério responde que "os hospitais militares não fazem parte do SUS". Justifica ainda que as unidades atendem cerca de 1,8 milhão de usuários entre militares da ativa, reserva, dependentes e pensionistas, que contribuem mensalmente de forma compulsória com os fundos de saúde das Forças Armadas.

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