Em 2021, uma pessoa morreu por complicações da Covid-19 a cada meia hora no Ceará. A média foi atingida ontem, 8, quando o Estado ultrapassou a marca de 15 mil óbitos ao longo da pandemia. Desde 1º de janeiro, mais de 5 mil cearenses perderam a vida devido à doença. É como se 51 pessoas tivessem morrido por dia no Ceará, onde outras 848 mortes ainda estão sendo investigadas, e os números de casos confirmados já chegam a 575,8 mil.
"É uma tragédia humanitária, sanitária, sem precedentes, no estado do Ceará. Mesmo quando olhamos para pandemias do passado — de varíola, de peste bubônica —, acho que nunca tivemos tantos casos e óbitos em tão pouco tempo. Ficamos realmente muito angustiados por isso, principalmente porque não vemos, a curto prazo, uma tendência de diminuição efetiva e controle dessa pandemia mesmo no estado do Ceará", afirma o médico Roberto da Justa, professor da Universidade Federal do Ceará (UFC).
Integrante do Coletivo Rebento - Médicos em defesa da Etica, da Ciencia e do SUS, o infectologista reconhece que houve esforços por parte do governo do Estado e de gestores municipais, mas afirma que ainda assim eles foram insuficientes. "Principalmente para cuidar da forma mais efetiva de parte da população mais desfavorecida", aponta.
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Ele destaca a desigualdade socioeconômica que existe por trás do índice de óbitos. "A maioria dessas 15 mil pessoas faz parte de uma parcela da população que já se encontra em uma situação desfavorável, que mora em condições mais precárias, tiveram mais dificuldade de acesso aos cuidados e mais dificuldade de se prevenir."
Do total de 15.066 mortes registradas até ontem no Ceará, 9.374 ocorreram na rede pública — o que corresponde a 62,2%. Já aqueles que ocorreram na rede privada somam 1.796, ou 11,9%. Enquanto isso, 766 óbitos domiciliares já foram registrados no Estado — equivalente a 5,1% — e em outras 3.131 mortes (20,8%) não há informação sobre local de ocorrência. Os dados são do IntegraSus, plataforma da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), e foram atualizados às 17h05min.
Na noite de ontem, às 19h08min, mais de 1 mil pessoas estavam na fila de espera por leitos no Ceará. Delas, 595 aguardavam transferência para Unidade de Terapia Intensiva (UTI), e outras 432, por leito de enfermaria. A taxa de ocupação em UTI adulto no Estado, às 23h02min de ontem, era de 95,31%. Para Roberto da Justa, o represamento de pacientes que precisam de vagas em UTI é um sinal de que o sistema público já não dá conta de atender adequadamente a demanda.
"Efetivamente, tem gente (em estado) grave morrendo sem uma assistência adequada. Isso pode se agravar nas próximas semanas e talvez, lá na ponta, os médicos tenham que fazer escolhas entre quem vai receber assistência e quem vai ficar em cuidados paliativos. Isso é muito complicado para quem está na ponta", afirma.
A existência de uma variante mais transmissível e letal do Sars-Cov-2 — o coronavírus causador da Covid-19 — e o fato de faixas etárias mais numerosas estarem sendo atingidas são aspectos citados pelo médico que indicam possível agravamento do quadro da pandemia. Além disso, o impacto de infecções contraídas no feriado da Semana Santa ainda será percebido em números de casos e óbitos em cerca de dez dias.
Ontem também foi dia de mais um recorde trágico para o País. Foram registradas 4.249 mortes por Covid-19 em 24 horas, segundo dados do Ministério da Saúde (MS). É a segunda vez que o Brasil ultrapassa as 4 mil mortes — a primeira foi na última terça-feira, 6. Apenas neste mês, de 1º a 8 de abril, foram registradas 23.510 vidas perdidas para a Covid-19.
Com 345.025 mortes acumuladas desde o início da pandemia, o Brasil representa 11,8% dos quase 2,9 milhões de óbitos mundiais, conforme dados da Universidade Johns Hopkins. É como se uma a cada oito vítimas fosse brasileira. O número de casos confirmados, no País, já passa dos 13,2 milhões.