A Polícia Civil do Rio afirmou ontem, 8, que o menino Henry Borel Medeiros, de 4 anos, sofria agressões periódicas por parte do vereador Dr. Jairinho (Solidariedade), preso junto com a professora Monique Medeiros, sua namorada e mãe da criança. Segundo os investigadores, conversas registradas num aparelho telefônico mostram que a babá de Henry relatou essas agressões à patroa, que teria mentido em depoimento à polícia. Após a morte, a babá foi pressionada a também mentir.
"Alguns pontos dessa conversa nos chamaram muita atenção. A babá fala que o Henry relatou a ela que o padrasto o pegou pelo braço, deu uma banda, uma rasteira, e o chutou. Ficou claro que houve lesão ali; fala que Henry estava mancando, que não deixou dar banho nele porque estava com dor na cabeça", apontou o delegado Antenor Lopes, diretor da Polícia Civil na capital fluminense.
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Depois que veio o pior resultado possível de uma rotina de violência, que foi a morte do Henry, ela esteve em sede policial por mais de quatro horas e deu declarações mentirosas, protegendo o assassino do filho."
Nessa linha, o delegado responsável pelo caso, Henrique Damasceno, descartou que Monique tenha sofrido qualquer tipo de ameaça do namorado; era, na verdade, uma aliada dele, disse. "Se eu tivesse percebido qualquer tipo de coação, não teria pedido a prisão dela", apontou.
Jairinho e Monique são suspeitos de cometer homicídio duplamente qualificado com emprego de tortura e sem capacidade de defesa da vítima. A prisão temporária, válida por 30 dias, foi justificada pela tentativa de atrapalhar as investigações. Ainda não houve denúncia.
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Da morte misteriosa do menino Henry até a prisão da mãe e do padrasto suspeitos do crime
No depoimento à polícia, o casal alegou que vivia em harmonia familiar com o menino. Não citou nenhum tipo de agressão e disse que existia na casa uma rotina de afeto. A partir de desdobramentos das apurações, no entanto, percebeu-se que a versão seria falaciosa. A polícia adquiriu recentemente o software Cellebrite, o mesmo usado, por exemplo, pelo Ministério Público do Rio. Ele permitiu uma série de análises avançadas nos materiais apreendidos nos mandados de busca e apreensão.
Além desses aspectos tecnológicos, a investigação analisou os laudos já produzidos e concluiu que não restam dúvidas sobre a autoria do crime. Henry apresentava lesões nos rins e no pulmão, por exemplo, e sangramentos internos, incompatíveis com um eventual acidente. Ainda há outros laudos pendentes, e por isso o pedido foi de prisão temporária. A investigação continua.
Henry foi deixado pelo pai por volta das 19h30 na casa de Monique e Jairinho, no dia 7 de março, há um mês. Estava sem nenhum tipo de lesão, de acordo com a investigação. Em poucas horas, chegou morto ao hospital. Apenas o casal esteve com o menino nesse intervalo.
A delegada Ana Carolina Medeiros, que conduziu a operação desta manhã, disse que o casal tentou se desfazer dos celulares quando a polícia chegou à residência, na zona oeste do Rio. Os aparelhos, contudo, foram resgatados pelos agentes.
Henry morreu no Hospital Barra DOr, na Barra da Tijuca. Foi levado para lá pelo casal, que alegava tê-lo encontrado desmaiado no quarto onde a criança dormia. (Agência Estado)
"Esta infeliz matou meu filho", afirma pai de Henry um mês após morte do menino
"Esta infeliz matou meu filho. Meu filhinho deve ter sofrido muito", apontou o pai de Henry, o engenheiro Leniel Borel de Almeida. Afirmação foi feita durante entrevista à Rede Globo, logo após a prisão a ex-mulher, Monique Medeiros, e do namorado dela, o vereador Dr. Jairinho, ele chegou a dizer que estava passando mal e lamentou a morte do filho.
Antes da prisão, o pai usou as redes socais para lembrar do tempo sem o filho. Nesta quinta-feira, 8, o crime completa um mês. "30 dias desde que te dei o último abraço. Nunca vou esquecer de cada minuto do nosso último final de semana juntos. Deixar você bem, cheio de vida, com todos os sonhos e vontades de uma criança inocente", escreveu ele. O engenheiro também se desculpou por não ter podido proteger o filho. "Desculpa o papai por não ter feito mais, lutado mais e protegido você muito mais. Confiamos que Deus fará sobressair a tua justiça como a luz, e o teu juízo como o meio-dia”, completou.
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- Henry foi levado ao hospital na madrugada de 8 de março após passar o dia no apartamento em que Monique, mãe do garoto, vivia com Dr. Jairinho;
- Os dois alegaram que o menino sofreu um acidente, ao cair da cama, e que o encontraram "desacordado e com os olhos revirados e sem respirar";
- Dr. Jairinho pressionou o hospital para liberar o corpo sem que fosse para perícia no IML;
- No dia seguinte ao enterro do filho, Monique, a mãe da criança, passou a tarde no salão de beleza de um shopping na Barra da Tijuca;
- Os laudos da necropsia de Henry e da reconstituição no apartamento do casal afastam a hipótese de acidente;
- O documento informa que a causa da morte foi hemorragia interna e laceração hepática [no fígado] causada por uma ação contundente [violenta];
- Embora o inquérito ainda não tenha sido concluído, a polícia acredita que Henry foi assassinado;
- A polícia diz que, semanas antes de ser morto, Henry passou por pelo menos uma sessão de tortura com chutes e tapas cometidos por Jairinho. A mãe, Monique, sabia do ocorrido;
- 17 testemunhas foram ouvidas no inquérito que apura o caso. Prestaram depoimento familiares, vizinhos e funcionários do casal;
- Em depoimento, uma ex-namorada de Jairinho relatou que ela e a filha sofreram agressões por parte do vereador.
- Os celulares e laptops dos dois (do vereador e da professora) e de Leniel Borel, pai do garoto, foram apreendidos e passam por perícias.
- Nesta quinta, 8 de abril, Dr. Jairinho e Monique foram presos temporariamente, suspeitos de tentar atrapalhar as investigações;
- A defesa ainda não se manifestou sobre a prisão. Jairinho e Monique não falaram ao serem detidos.