Embora ainda esteja em um cenário de alerta altíssimo para a Covid-19 e de haver a possibilidade de uma terceira onda da pandemia nos próximos meses, o Ceará atualmente apresenta tendência de queda de casos e de mortes pela doença. A média móvel dos óbitos caiu 53,5%, e a de casos, 76%, segundo levantamento do O POVO a partir de dados registrados no IntegraSus e atualizados às 17h34min de ontem, 22. Os percentuais resultam da comparação entre as médias móveis do último dia 7 e da quarta-feira, 21.
Entre os dias 1º e 7 de abril, foram registradas 775 mortes devido ao novo coronavírus no Estado. Assim, a média móvel de óbitos, no dia 7, foi de 110,71. Já no intervalo de 15 a 21 deste mês foram 360 óbitos, o que resulta na média móvel de 51,43 mortes no dia 21.
De acordo com a curva epidemiológica dos casos confirmados,29.073 exames tiveram diagnóstico positivo para a doença entre os dias 1º e 7 últimos. De 15 a 21, foram 6.977 confirmações. Dessa forma, a média móvel dos casos de Covid-19 no Ceará caiu de4.153 no dia 7 para997 no dia 21, uma redução de 76%.
Os cálculos podem ser impactados por atraso na notificação do óbito ou do diagnóstico. Ainda assim, o infectologista Guilherme Henn, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI), aponta que atualmente existe a tendência de queda tanto nos casos quanto nas mortes pela Covid-19 no Estado.
"Conseguimos ver isso com mais clareza, nesse momento, especialmente nos serviços privados. Da mesma maneira que a segunda onda (da pandemia) começou pelas áreas de IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) mais alto de Fortaleza e que vimos uma sobrecarga dos serviços privados antes, eles também estão arrefecendo antes do que os serviços públicos."
Ele lista três motivos para a atual queda: o lockdown, o número de pessoas infectadas nesta segunda onda e a vacinação — esse último, provavelmente, com impacto ainda pequeno. Deles, o médico destaca os decretos estaduais. "Forçar o distanciamento entre as pessoas é a medida que tem maior eficácia no controle da transmissão do coronavírus na comunidade."
A enfermeira Thereza Maria Magalhães Moreira também aponta as medidas de distanciamento como possíveis responsáveis pela atual queda nos índices. A pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) e professora de Epidemiologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), afirma que é preciso manter cautela.
"A preocupação que se tem agora é que a rede hospitalar está muito lotada, o tempo de internação dos pacientes está aumentado, a rotatividade dos leitos está baixa e houve uma sincronia no tempo de pandemia da Capital com o Interior. Então, a rede hospitalar da Capital, dessa vez, não conseguiu ajudar tanto o Interior", explica.
A pesquisadora também aponta que a taxa de positividade dos exames ainda está alta. Segundo informações do IntegraSus às 20h04min de ontem,49,2% dos testes com resultados já apresentados, no Estado, foram positivos para a Covid-19. Em Fortaleza, essa taxa é de 40,1%. Ainda conforme dados da plataforma, o Ceará conta com 640,5 mil casos confirmados e 16.676 óbitos. Em toda a pandemia,56.891 pacientes já receberam alta de unidades de saúde.
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Apesar de acreditar que,"epidemiologicamente", o ideal seria um lockdown nacional ou mais tempo de isolamento rígido no Estado, Thereza Maria Magalhães Moreira concorda com a necessidade da reabertura gradual, considerando aspectos como desemprego, fome e arrecadação de tributos. Para prevenir a infecção, a Organização Mundial da Saúde (OMS) indica praticar a higienização das mãos — com água e sabão, quando possível, ou com álcool gel —, usar máscara e manter distanciamento de pelo menos um metro das outras pessoas.
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O que evitaria uma terceira onda da pandemia no Estado, segundo Guilherme Henn, seria a vacinação em massa da população. "Infelizmente, não é isso que vai acontecer. E é por isso que a maioria dos especialistas concorda que vamos reabrir, mas temos que conviver com o risco provável de uma terceira onda mais para frente, daqui a alguns meses", afirma.
"No caso do Ceará, entramos na segunda sem sair da primeira. E já estamos com a rede hospitalar lotada, então não podemos entrar na terceira sem sair da segunda. Ou, pelo menos, sem descer o suficiente. Então, mesmo com as coisas abertas, as pessoas têm que ter a consciência de que elas devem sair quando for necessário, e somente se for necessário", aponta a pesquisadora. (Colaborou Marcela Tosi)
ENTENDA OS CÁLCULOS
A média móvel de determinado dia parte da soma do número de casos ou mortes desse dia com os números dos seis dias anteriores. Esse total, então, é dividido por sete. Para saber a tendência, é preciso calcular a variação percentual das médias móveis em um intervalo de 14 dias.
Por exemplo, a média móvel do dia 14 será comparada com a do dia 1º. Se o percentual for de até 15%, é considerado estável. Se for acima de 15% positivos, indica crescimento. Se for mais de 15% negativos, está em queda.
Porém, é preciso ter cuidado principalmente quando se considera os sete dias anteriores à análise. "Existe um tempo entre a detecção de um caso e o registro dele nos sistemas de vigilância epidemiológica e entre a ocorrência do óbito e o registro nos sistemas de informação. (Demora) entre uma e duas semanas para isso acontecer, habitualmente", explica Guilherme Henn, presidente da Sociedade Cearense de Infectologia (SCI).