Os primeiros casos de Covid-19 surgiram no Brasil há pouco mais de um ano. A partir daí, o número de pessoas internadas em unidades médicas teve um aumento expressivo no Brasil . Durante a internação, alguns pacientes- principalmente aqueles que se encontram em estado mais grave, precisam passar por tratamentos feitos por meio de procedimentos invasivos para conseguir ter uma boa recuperação e vencer a doença, o que pode favorece o surgimento de infecções hospitalares.
De acordo com Fábio Rodrigues, fisioterapeuta especialista em Unidade de Terapia Intensiva (UTI) que atua em uma instituição médica de São Paulo, uma infecção acontece em decorrência da invasão de microrganismos, como vírus e bactérias, no organismo. Quando esse processo ocorre dentro de um hospital, estando relacionado à internação ou a procedimentos utilizados, é chamado de infecção hospitalar.
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"Um hospital tem bactérias que são resistentes a antibióticos, diferente das que são encontradas nas ruas", explica o especialista. Fábio afirma ainda que por esse motivo as pessoas que ficam internadas e que passam por procedimento invasivos, como a intubação, acabam ficando muito expostas a esses microrganismos.
Para esclarecer dúvidas quantos aos tipos de infecções, formas de contaminação, frequência em que ocorrem, maneiras de prevenção utilizadas nas unidades médicas, entre outras, O POVO preparou perguntas para que o profissional, que atua na linha de frente do combate ao vírus.
Segundo Fábio, os processos infecciosos mais comuns ocorrem no pulmão, na via urinária ou no sangue do paciente. Em contrapartida, algumas infecções têm probabilidades pequenas de acontecer e são consideradas incomuns, como aquelas que ocorrem no olho ou a que provoca a inflamação das membranas que revestem o cérebro e a membrana espinhal, conhecida como meningite.
O especialista explica que existe uma chance mínima de que as "superbactérias" que existem nessas unidades médicas entrem no organismo de pacientes que vão no local apenas para tomar uma medicação. Nesse sentido, o que expõe uma pessoa aos microrganismos são os procedimentos invasivos que ela pode passar, especialmente se ficar internada em estado grave e necessite de tratamentos específicos.
Por exemplo, o uso de equipamentos como sonda enteral (que possibilita a alimentação), o cateter de acesso, o tubo utilizado na intubação e a sonda vesical (inserida na bexiga para coletar urina), acabam expondo o organismo. "Todos esses artefatos quebram a barreira protetora que existe entre seu organismo e o ambiente. A sua veia não é exposta, no momento que eu uso um equipamento deixo exposta e ai as bactérias podem acabar entrando", explica.
De acordo com o especialista em UTI, quanto mais tempo a pessoa fica internada mais probabilidade ela tem de contrair algum tipo de infecção, por ficar mais dias exposta. Além disso, se o paciente está internado com imunidade baixa significa que seu sistema de defesa está sem forças para combater os microrganismos e isso facilita os processos infecciosos.
"Os hospitais são ambientes de contaminação, mas buscam ficar sempre limpos", destaca Fábio. De acordo com ele, sabendo da presença de bactérias e dos riscos que elas trazem aos pacientes, os profissionais de saúde adotam medidas como a higienização constante das mãos e a troca de equipamentos e vestimentas após os atendimentos, o que diminui os riscos de que enfermos sejam contaminados.
Além da superlotação nas unidades hospitalares, que impacta na realização dos procedimentos, o especialista lembra que a Covid-19 tem agravado o quadro de saúde de pacientes, que muitas vezes precisam ficar internados em UTI por períodos longos e em estado debilitado. Consequentemente, os dias a mais de internação significam mais tempo utilizando artefatos e mais exposição do organismo, crescendo as chances de que ele contraia uma infecção.