Após receber uma nova remessa com 11 mil doses da CoronaVac nesta quarta-feira, 12, Fortaleza vai realizar um mutirão de vacinação para aplicar segunda dose (D2). Quem está na expectativa de ser convocada é a advogada Sônia Cavalcante, 63, que deveria ter recebido o reforço da CoronaVac há 11 dias. O déficit de doses da vacina na Capital é de pelo menos 9.072. Sônia relata a angústia da espera pelo agendamento divulgado no site Coronavírus Fortaleza diariamente. A Prefeitura está priorizando idosos com mais idade e com maior intervalo de atraso desde a primeira dose.
“O grande problema de ficar aguardando essa segunda dose é a ansiedade. Estamos vivendo um tempo muito desafiador em que tudo nos abala emocionalmente. Não só eu que espero a D2, mas muitos estão na expectativa da D1”, completa.
A advogada continua saindo de casa para trabalhar tomando todos os cuidados de uso de máscara e distanciamento, assim como sua filha, a professora Mara Robertha Cavalcante Melo, 38. “Estou trabalhando de forma presencial morrendo de medo de pegar [a Covid-19] e passar pra ela porque ela não teve a segunda dose. Todo dia vou no site para ver as atualizações”, afirma.
Somente no último sábado, 8, o prefeito de Fortaleza José Sarto (PDT) disse que centros de vacinação da Capital atenderam 8.960 idosos que estavam com 2ª dose em atraso. Contudo, mais de 3,5 mil agendados não compareceram. “O número está abaixo do que esperávamos, pois 12.539 haviam sido agendados. Reforço que todas as doses de CoronaVac que recebemos nos últimos dias estão sendo destinadas integralmente a este público”, escreveu no Twitter.
No domingo, outros 1.873 idosos que estavam com a segunda dose em atraso foram atendidos. O Município aguarda novas remessas do imunobiológico. O Ministério da Saúde informou que o atraso na segunda dose não prejudica a eficácia na imunização. Especialistas pontuam, no entanto, que a demora pode trazer impactos coletivos no combate à pandemia.
Maria Aurinete da Silva Pantoja, 64, deveria ter recebido o reforço do imunizante no dia 30 de abril. “Eu me sinto preocupada porque a gente não tem segurança nenhuma. Todo dia só durmo quando vejo a lista do agendamento e fico esperando pra ver meu nome e nunca está lá”, comenta.
Professora da rede pública em processo de aposentadoria, Aurinete não tem saído de casa. Ela está adiando até consultas de rotina para evitar contato com outras pessoas. A filha da idosa, Patrícia da Silva Pantoja, 39, também está na expectativa pela vacinação da mãe. Ela é professora universitária e enfermeira assistencial, por isso tomou a primeira dose da CoronaVac ainda em janeiro. No mês seguinte, teve um quadro moderado da Covid-19.
“Todo dia é uma tensão. Fiquei com Covid-19 e não quero isso pra minha mãe. Eu saio para trabalhar, mas fico em um quarto isolado em casa”, explica.
A aflição de esperar pela segunda dose da CoronaVac também é realidade para a comerciante Maria Senhora do Nascimento, 63. Ela estava com a data limite marcada no cartão de vacinação para receber a D2 no dia 1º de maio.
A principal preocupação é devido à exposição do seu trabalho. “É todo mundo com medo, a gente se previne mas não é 100%. Aqui mesmo no comércio todo dia anda gente doente. Temos que correr o risco”, diz. Em 2020, a comerciante chegou a ser infectada pela Covid-19 e até hoje sente prejuízos no paladar e olfato decorrentes da doença.
O marido de Senhora, José Eduardo, também estava com o esquema vacinal atrasado desde o dia 30 de abril. Ele só conseguiu colocar a imunização em dia no domingo, 9. “Eu queria que tivesse logo para tomar [a D2]. Só vou ficar mais feliz um pouco mais de ver eu e minhas filhas vacinadas”, relata.
Uma das filhas de Senhora, Suyane Silva, 32, conta que a preocupação aumenta porque os pais são hipertensos e diabéticos. Ela explica também que o pai realiza hoje um acompanhamento devido a um quadro depressivo desenvolvido em decorrência da pandemia.
“É um medo real. Chegaram a pensar em fechar o comércio. Acabaram deixando porque precisam se manter, mas todo dia é uma luta para eles”, diz. Suyane relata que muitas vezes acaba acordando de madrugada para conferir se o nome de sua mãe está entre os agendados. Ela reclama que o site da Prefeitura é atualizado somente tarde da noite.
Por telefone, a assessoria da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) explicou que questões logísticas impedem a divulgação das listas diárias em horários programados. Por esse motivo, a publicação dos nomes agendados varia todos os dias. A Prefeitura também faz uso de mensagens por WhatsApp e e-mail para informar sobre o agendamento.