A meta do Ceará é vacinar toda a população acima de 18 anos contra a Covid-19 até o final de agosto. Isso significa aplicar pelo menos uma dose em 54% de toda a população cearense em menos de três meses. O objetivo é ousado não pela capacidade logística, mas pela garantia de recebimento das doses. A meta, em perspectiva otimista, foi anunciada pelo secretário da Saúde do Estado, Carlos Roberto Martins Rodrigues Sobrinho, Dr. Cabeto, ontem, 8, em entrevista à Rádio O POVO CBN.
O Estado já vacinou 1.978.458 pessoas com a primeira dose até essa segunda-feira, 7, — o equivalente a 21,53% da população total. A população cearense acima de 18 anos ainda não vacinada soma 4.992.645 pessoas. Ou seja, para cumprir a meta, Estado precisa vacinar em menos de três meses mais do que o dobro da quantidade de pessoas que já vacinou ao longo dos quase cinco meses de campanha já decorridos.
"Nós vamos trabalhar incessantemente. Eu tenho esperanças, não posso garantir, mas [quero] que até agosto, nós tenhamos 100% da população do Ceará [vacinada]. Estamos trabalhando pra isso", disse.
O secretário frisou, porém, que não há garantia da concretização desse percentual de vacinação. Mas o foco é garantir pelo menos que a maioria das pessoas maiores de idade esteja imunizada até o prazo mencionado.
Conforme Ivana Barreto, pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) no Ceará e uma das criadoras da Estratégia de Saúde da Família (ESF), não há dúvidas sobre a capacidade do sistema. "O problema é a quantidade insuficiente de vacinas. Na hora que tiver as vacinas, tem como vacinar. O Ceará tem larga experiência com a aplicação de todas as vacinas do PNI (Programa Nacional de Imunização) e já foi campeão de vacinação em outras campanhas do programa", garante.
A médica, que é professora dos Programas de Pós-graduação em Saúde Coletiva da Universidade Federal do Ceará (UFC) e do Mestrado em Saúde da Família da Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família (Renasf), aponta que as doses de Sputnik devem ser decisivas para o alcance da meta.
Ela explica que a imunização da população geral deve ocorrer mais rapidamente. Isso porque a necessidade de comprovação de comorbidade e vínculo profissional de grupos prioritários torna o processo "mais lento e complexo". "Havia a morosidade da vacinação pela burocracia. Se só tiver de comprovar quem ele é, sem barreira burocrática, será mais rápido", diz.
Marco Túlio Aguiar, professor de Medicina de Família e Comunidade do Departamento de Saúde Comunitária da UFC, destaca que, além do aumento da quantidade de doses recebidas, é preciso descentralizar os locais de vacinação e estabelecer um processo bem organizado para uma vacinação em massa.
"Temos capacidade instalada de equipes de saúde da família em todos os municípios, temos capacidade para fazer de forma organizada e planejada", aponta o médico. Principalmente nas periferias e no Interior, as unidades básicas têm papel fundamental. Além disso, é possível descentralizar e ampliar a quantidade de postos de vacinação utilizando pontos de apoio, como escolas, igrejas e associações locais.
Ainda na entrevista, Cabeto destacou que o Governo já realizou anteriormente contatos prévios com farmacêuticas que produzem a vacina, como a Pfizer e a Sinovac. A tentativa é no sentido de garantir a maior disponibilidade de imunizantes.
"Nós no Ceará defendemos que devemos ter um painel de vacinas. Porque lá na frente, inclusive, a gente vai poder selecionar um tipo de vacina para cada população. Lembre-se que talvez a gente tenha que vacinar todo ano", explicou.