José Denizard Macêdo de Alcântara completaria cem anos nesta quarta-feira (1/8). O historiador Raimundo Girão o chamou de “inesquecível intelectual”, detentor de “uma lúcida inteligência, que se forrou de legítima cultura, nos domínios da História, da Economia e dos estudos filosóficos.” O escritor Gustavo Barroso o considerou um “dedicado cultor da história cearense”. Nascido no Crato, Denizard estudou no Liceu do Ceará, fez o curso de Ciências Econômicas e, posteriormente, doutorado na mesma área. Sua formação intelectual se baseou nos ensinamentos de grandes pensadores antigos, estrangeiros e nacionais.
Na adolescência, Denizard militou nas hostes integralistas, atraído pela “preservação e intransigente defesa da cultura nacional, das tradições brasileiras e do nosso passado.” Se opôs a ideários autoritários e estatizantes (ainda que defendidos por aliados), e a radicalismos políticos de direita e de esquerda, particularmente ao que classificara como “chauvinista... xenófobo, etnocêntrico e... a loucura racista de Hitler.” Considerou como fundamentais os valores cristãos católicos e os da civilização ocidental, com um tempero mestiço tipicamente brasileiro. Foi, acima de tudo, um católico convicto, e um ardoroso defensor da monarquia, a qual definiu como “única forma de governo inteligente e adequada pra ser aceita por um bom brasileiro”.
Durante o regime militar, foi contrário aos movimentos comunistas, mas também aos métodos utilizados para enfrentá-los. A seu respeito, o escritor Mozart Soriano Aderaldo disse que “discordava do erro, mas tolerava o que errava, que combatia as ideias por ele reputadas como errôneas, mas que respeitava o adversário.” Denizard protegeu estudantes de esquerda, alertando-os do perigo iminente de sequestros e de tortura. “Apesar de ser um homem de direita”, relembrou o líder estudantil João de Paula Monteiro, “ele teve essa atitude cavalheiresca”. Esta independência, fiel a seus princípios, custou a Denizard posições de prestígio e poder. Ainda assim, por mérito e esforço próprios, foi vereador em Fortaleza, vice-reitor da UFC, secretário de cultura do Ceará, membro do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, para citar alguns exemplos.
Contudo, foi no magistério que Denizard se realizou, sendo professor em numerosas instituições de ensino, nas quais educou, e não doutrinou, várias gerações de cearenses. Fez isto em conjunto com a criação dos filhos e dos sobrinhos órfãos, sendo também esposo dedicado à Eliana Porto Sampaio, até falecer de infarto em 11 de novembro de 1983. O escritor Cláudio Martins o definiu como um “amigo incomum, esbanjador de talento, soldado de corajosas e arriscadas batalhas, ideólogo sem tergiversação mínima, senhor dos caminhos retilíneos, pai exemplar, cidadão de raras virtudes cívicas”.
Texto escrito pelo historiador Licínio Nunes de Miranda
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Saiba mais sobre Denizard Macêdo
Quem foi Denizard
Nesta quarta-feira, 1º, foi comemorado o centenário de José Denizard Macêdo de Alcântara, intelectual, professor e político que nasceu no Crato, interior do Ceará, e ensinou gerações cearenses em diversas escolas na Capital. Em sua homenagem, uma escola municipal em Fortaleza e uma rua em sua cidade natal ganharam seu nome. Confira mais sobre a vida do cratense:
Origem
Nascido em 1º de setembro de 1921, no Crato, José Denizard Macêdo de Alcântara, mais conhecido como professor Denizard Macêdo, era filho de Júlio Teixeira de Alcântara e Corina Macedo. Estudou no Externato Santa Inês, em sua cidade natal, e depois no colégio Liceu do Ceará, em Fortaleza.
Pelo lado paterno, Denizard era descendente de Tristão Vaz Teixeira (c. 1395-1480), escudeiro do infante Dom Henrique, o Navegador, que iniciou a expansão marítima portuguesa. Já pelo lado materno, ele era descendente de Diogo Álvares Correia (c. 1475-1557), o "Caramuru", e de sua esposa Paraguaçu, filha do cacique Taparica, da extinta tribo dos índios Tupinambás.
Formação e área de atuação
Contador pela Academia de Comércio do Ceará e bacharel em Ciências Econômicas, sendo, depois, docente de Geografia Econômica, Denizard fez doutorado na mesma área, tendo como base ensinamentos de grandes pensadores antigos, estrangeiros e nacionais para sua formação intelectual. Como professor, além de ter sido reitor da Universidade Federal do Ceará (UFC), ele atuou na Escola Preparatória de Cadetes, no Colégio Militar do Ceará, na Academia Cearense de Letras, no Instituto de Educação, na Faculdade Católica de Filosofia, na Escola de Serviço Social, no Instituto do Ceará e em outros colégios de segundo grau.
Vida política
Quando adolescente, Denizard militou nas hostes integralistas. Ele foi vereador da Câmara Municipal de Fortaleza Vogal, do Conselho Estadual de Cultura, e se candidatou como prefeito de Fortaleza, atuando, anos mais tarde, como Secretário de Cultura do governador Adauto Bezerra (1975-1978). Embora tenha tido uma longa carreira política, foi como intelectual e professor que Denizard se encontrou e se realizou.
Vida pessoal
O intelectual casou-se com Eliana Porto Sampaio (1924), conhecida como Eliana Macedo, no dia 22 de junho de 1946. Anos depois, através do casamento de uma das filhas do casal, Inês Alcântara, com o doutor Antônio Nunes de Miranda, sua família estreitou laços com o doutor Licínio Nunes de Miranda.
Enquanto professor, José se dedicou também à criação dos filhos e dos sobrinhos órfãos. Ao todo, Denizard teve várias filhas, mas apenas um filho: Fernando Alcântara, coronel reformado do exército brasileiro. O filho dele, neto do intelectual, o médico Leonardo Alcântara, mantém vivo o sobrenome de Denizard Macedo.
Morte
Denizard morreu em decorrência de um infarto fulminante no dia 11 de novembro de 1983. Ele foi um esposo dedicado à Eliana até seu último dia de vida.
Com informações do historiador Licínio Nunes de Miranda