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Delegada denuncia ter sofrido racismo em loja de shopping em Fortaleza
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Delegada denuncia ter sofrido racismo em loja de shopping em Fortaleza

|INVESTIGAÇÃO| O gerente da loja Zara, no shopping Iguatemi, teria colocado a mulher para fora do estabelecimento alegando "questões de segurança", e quando ela voltou com o chefe da segurança do shopping, ele teria dito que "não tinha preconceito". Loja nega racismo
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DELEGADA Ana Paula Barroso teria sofrido racismo em loja de Fortaleza (Foto: Divulgação/SSPDS)
Foto: Divulgação/SSPDS DELEGADA Ana Paula Barroso teria sofrido racismo em loja de Fortaleza

A delegada Ana Paula Barroso, diretora-adjunta do Departamento de Proteção aos Grupos Vulneráveis (DPGV) da Polícia Civil do Ceará, denuncia ter sido alvo de crime de racismo na loja Zara, localizada no Shopping Iguatemi, em Fortaleza. Após ser barrada ao tentar entrar na loja no domingo, 19, ela ficou consternada, em estado de choque e chorosa. A descrição sobre o estado da delegada e a ocorrência foi feita pela delegada responsável pelo inquérito policial, Ana Claudia Nery da Silva. As denúncias pelo crime de racismo sofreram acréscimo de 77% no Ceará.

Segundo Ana Cláudia Nery, a vítima entrou na loja Zara com uma sacola de outra loja e tomava sorvete quando teria sido abordada pelo gerente do estabelecimento, que teria tentado afastá-la, justificando que seria uma norma de segurança. A delegada Ana Paula teria perguntado se era pelo sorvete. Em seguida, ela teria questionado um segurança do shopping sobre o ocorrido, e ele teria acionado o chefe de segurança do local, que a reconheceu como delegada.

Neste momento, conforme a denúncia, Ana Paula adentrou na loja com o chefe da segurança, que indagou o funcionário sobre o que havia acontecido. "Ele foi logo dizendo que não tinha preconceito e que tinha amigos negros, gays e lésbicas", contou a delegada Ana Claudia Nery. Para a profissional, a fala só reafirma o preconceito.

A denunciante fez o Boletim de Ocorrência Eletrônico (B.O), e a Polícia Civil pediu as imagens internas do shopping. O estabelecimento cedeu, mas a loja Zara, não. A delegada Ana Claudia disse que enviou um ofício, mas não recebeu resposta. Então, a Polícia Civil pediu o mandado de busca e apreensão, que foi concedido pela Justiça e cumprido domingo passado.

A delegada Ana Claudia Nery relata que a movimentação em torno do caso foi possível, não por Ana Paula Barroso ser delegada, mas por ela conhecer as ferramentas para denúncia. No momento do fato, a delegada poderia ter dado voz de prisão ao funcionário, mas ela "ficou em estado de choque, chorosa e consternada pelo que houve".

Em nota, a Polícia Civil informou que segue apurando, por meio da Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Fortaleza, a denúncia de racismo. O caso foi registrado na última terça-feira, 14, após a vítima, que é negra, ter sido impedida por um funcionário de entrar no local. Com o objetivo de subsidiar as apurações, um mandado de busca e apreensão foi cumprido no domingo, 19, e resultou nas apreensões dos equipamentos de gravação do estabelecimento comercial. Os dispositivos serão submetidos à Perícia. A unidade policial realizará, ainda, oitivas acerca do caso.

Também por meio de nota, a Associação dos Delegados de Polícia do Estado do Ceará (Adepol-CE) informou que manifesta "irrestrito apoio e solidariedade à delegada". A associação diz que, em momento algum Ana Paula se identificou como autoridade policial, mas foi impedida, "sem nenhuma justificativa plausível", de entrar no estabelecimento comercial por funcionário da loja identificado como gerente, "sendo ela alvo de ato discriminatório em razão de sua cor".

Ainda na nota, a Adepol afirma lamentar profundamente "a situação de constrangimento a que foi submetida a delegada" e que repudia qualquer tipo de discriminação, "ratificando o compromisso com a adoção de medidas judiciais e policiais necessárias para a devida responsabilização e punição dos envolvidos".

O POVO entrou em contato com a Zara e, por telefone, uma representante da loja afirma que a delegada foi impedida de entrar no estabelecimento por estar sem máscara de proteção contra a Covid-19, já que estava tomando um sorvete. A Zara também informa "que não tolera qualquer tipo de discriminação". Também por telefone, a representante conta que não disponibiliza as imagens de segurança porque os equipamentos e a filmagem foram apreendidos pela Polícia nesse domingo, 19. (Colaborou Angélica Feitosa)

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