O fim do inverno sinaliza o início da primavera. O que marca a sua chegada é um fenômeno astronômico chamado equinócio de primavera. A estação de transição entre o inverno e o verão começa oficialmente nesta quarta-feira, 22, e prossegue até o dia 21 de dezembro. O Dia da Árvore, comemorado nessa terça-feira, 20, foi escolhido justamente por anteceder a primavera no hemisfério sul. No entanto, Ceará não vivencia as quatro estações do ano da mesma forma como ocorre em outras regiões do Brasil.
Christian de Oliveira, professor de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC), explica que o Equinócio de Primavera não possui muita influência no Norte ou Nordeste do País, por causa da proximidade com a linha do Equador: “Nós estamos em uma região da Terra em que esse fenômeno não é perceptível. A linha do Equador tem as oscilações de inverno e verão e não consegue demarcar as diferenças de transição disso em função das estações de primavera e outono”.
A Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme) informa que quanto mais próximo da Linha do Equador, menor é a diferença de temperaturas entre o verão e o inverno. “No Ceará, devido à proximidade com a linha do Equador, os efeitos são pouco perceptíveis, pois a variação nos termômetros é bem discreta.”
Enquanto isso, o Sudeste, Sul e o sul do Centro-Oeste sentem a influência da Zona Temperada e são capazes de sentir a chegada da primavera. “Há um Brasil que consegue sentir as atividades correlacionadas à primavera, porque já tem influência da Zona Temperada”, argumenta o geógrafo.
Segundo o professor, setembro é marcado por ser um período de seca. A Gerente de Meteorologia da Funceme, Meiry Sakamoto, explica que no Ceará temos a sensação de possuir apenas dois períodos bem definidos, “o das chuvas e o dos ventos e do sol”.
A Gerente de Meteorologia explica que, no Ceará, a chuva é o acontecimento meteorológico principal, que marca de forma mais evidente as variações das condições do ano, diferentemente das outras partes do País.
Então, ao longo dos anos, as variações no Estado cearense acabam sendo definidas das seguintes formas:
Meyre diz que no Nordeste costuma-se chamar de inverno a estação das chuvas, mas isso leva a uma certa confusão: "Pois o nosso inverno das chuvas não coincide com o inverno do frio, que terminou em 21 de setembro, com a chegada da primavera".
LEIA MAIS | 1.626 ipês-amarelos foram plantados em Fortaleza, em 2021
+ Casa de Cuidados do Ceará leva pacientes para assistir ao pôr do sol
Mas e os ipês-amarelos em Fortaleza? A Capital cearense está mais colorida com a florada dos ipês amarelos, mas isso não tem a ver necessariamente com a chegada da primavera. Os Ipês não são árvores de uma só época de floração, a coincidência existe, mas não corresponde às floradas de outras espécies mais típicas da primavera.
Em alusão ao Dia da Árvore, a Prefeitura de Fortaleza promoveu uma ação de doação de mudas de plantas na av. Beira Mar (fotos) e no calçadão do Lago Jacarey. Uma das espécies disribuídas era justamente o ipê-amarelo:
Para o professor Christian de Oliveira, é muito artificial que a mídia nacional tente promover a "Festa da Primavera" de forma semelhante para todo o País. “O que nós temos são os veículos de mídia transmitindo informações que são do Centro-sul. Falar da Festa da Árvore e das Floradas, aqui, só tem sentido midiático. É algo espetacular sim, porém tão artificial.”
No entanto, historicamente, há uma festividade associada às estações do ano no Ceará. Christian ressalta que a primavera cearense/sertaneja é o auge da "estação" da seca ou estiagem, enquanto o outono cearense/sertanejo é o auge do período das chuvas ou cheias.
Aqui, as festas tradicionais, que poderiam ser associadas à Primavera, são rituais de romaria, de pedido aos santos e santas por chuvas e clemência para se evitar o sofrimento e a migração. "É o que justifica celebrações como as de Nossa Senhora das Dores, no dia 15 de setembro, em Juazeiro do Norte, e São Francisco das Chagas, no dia 4 de outubro, em Canindé."
Já os festejos de São José e os dos Santos Juninos são tipicamente de outono, para agradecimento ao tempo bom das águas e chuvas no sertão. “A primavera nordestina é, simbolicamente, o florescimento dos pedidos piedosos. Enquanto o outono nordestino é, inversamente, a colheita da fartura e seus agradecimentos”, conclui o docente.
Tenha acesso a reportagens especiais. Assine O POVO+ clicando aqui