Oito meses após o atropelamento que vitimou a médica cardiologista Lúcia de Sousa Belém, de 61 anos, a investigação policial aberta para apurar o caso segue em aberto. Em 24 de junho, a 14ª Vara Criminal havia atendido representação do Ministério Público Estadual (MPCE) e prorrogado até outubro o prazo para a Polícia Civil concluir o inquérito. Enquanto isso, a família de Lúcia relata a angústia de não ver o caso ter o devido desfecho.
O atropelamento ocorreu no começo do ano, em 21 de janeiro, no cruzamento da avenida Dom Luís com a rua Coronel Jucá, no bairro Meireles. Conforme divulgado à época, Lúcia tentou atravessar a via na faixa de pedestres, quando uma condutora em um veículo Range Rover Evoque fez uma conversão à esquerda e atingiu a médica. Ela morreu no local. A motorista não fugiu do local do crime. Ela foi ouvida pela Polícia e, em seguida, liberada. A condutora não apresentou sinais de consumo de álcool.
Para a irmã de Lúcia, Jacinta Belém, o sentimento é de injustiça. Ela diz que a família enfrenta não só a dor pela perda de um ente querido, como também sofre com a falta de resposta. “É difícil, é penoso para a família. É dolorido. A gente está se superando. Somos três agora, eu, minha mãe e meu irmão. A gente tem que ser forte para seguir em frente sem Lúcia. Existe um marco na nossa vida, antes e depois dela. Nós estamos nos reestruturando, para você ter a dimensão que ela tinha na família”. Querida não só por familiares e amigos, Lúcia, lembra a irmã, tinha uma grande contribuição para a sociedade cearense na área da saúde.
O advogado Leandro Vasques, contratado pela família de Lúcia, afirma que “as provas já colhidas apontam para uma conduta no mínimo culposa por parte da condutora do veículo que atropelou a Dra. Lúcia Belém”. Ele também afirma que imagens e depoimentos apontam que a vítima não fez algo que viesse a causar a colisão. Vasques ainda afirma que o caso não apresenta uma complexidade que justifique tamanha demora. “Não há, na minha leitura, uma justificativa razoável para essa demora, principalmente, na conclusão das perícias”.
Em nota, a Polícia Civil afirma que as investigações estão dentro do prazo legal estipulado. “Mais informações serão repassadas em momento oportuno para não atrapalhar os trabalhos policiais em andamento”.
Lúcia era coordenadora do serviço de telecardiologia da Unidade Clínica Coronariana do Hospital de Messejana Dr. Carlos Alberto Studart. Como homenagem, o setor recebeu o nome da médica. Ela também trabalhava na UTI do Instituto Dr José Frota, no Hospital Regional da Unimed e chegou a ser professora na Universidade Federal do Ceará (UFC). A morte de Lúcia gerou manifestações de pesar da Secretaria de Saúde do Estado do Ceará, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), Associação Brasileira de Medicina de Emergência Ceará (Abramed-CE), entre outros.
“A minha irmã foi uma verdadeira cidadã. Compromissada, ética…”, diz Jacinta. “Ela vivia a medicina”, completa. Jacinta ainda ressalta que a justiça, nesse caso, perpassa o direito de resposta que família e amigos têm. “Essa não resposta do Estado influencia diretamente na sociedade. E, aí, se mata, se rouba, se atropela e Estado fica calado? As relações e a sociedade ficam comprometidas quando o Estado se nega, em um tempo razoável, com efetividade, a se manifestar sobre as questões que lhe são postas”.
Colunistas sempre disponíveis e acessos ilimitados. Assine O POVO+ clicando aqui