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Retomada do lazer: programações ocupam Fortaleza com atrações ao ar livre
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Retomada do lazer: programações ocupam Fortaleza com atrações ao ar livre

Após longo período de reclusão devido à pandemia da Covid-19, programações ocupam Fortaleza com atrações ao ar livre. Neste domingo, 12, O POVO acompanhou a exposição Aquavelas do Encontro Sesc Povos do Mar, no Mucuripe, e o Corredor Cultural Benfica
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No total, são expostas 11 obras de arte pintadas em velas de jangadas (Foto: Barbara Moira/O Povo)
Foto: Barbara Moira/O Povo No total, são expostas 11 obras de arte pintadas em velas de jangadas

Os verdes mares de Fortaleza receberam mais cores na manhã deste domingo, 12, com a segunda edição da exposição flutuante “Aquavelas”. Com velas pintadas por artistas plásticos do Ceará, jangadas saíram da Enseada do Mucuripe, próximo ao Mercado dos Peixes, em direção ao Rio Ceará, na Barra do Ceará. Antes da largada, artistas celebravam a retomada gradual dos eventos culturais, após longo período de reclusão devido à pandemia da Covid-19. Diversas pessoas, entre fortalezenses e turistas, paravam para bisbilhotar o que acontecia e, claro, registrar em fotografias as artes passeando em alto mar.

Com ênfase na preservação dos oceanos e da vida marinha, as obras de Mano Alencar, Edmar Gonçalves, Zé Tarcísio, Totonho Laprovitera, Almeida Luz, Andrea Dall’Olio, Vando Farias, Julio Silveira, Hélio Rôla, Ana Débora e Luiz Freire integraram a exposição. A mostra compõe o 11º Encontro Sesc Povos do Mar, evento que acontece até quinta-feira, 16, em formato híbrido (presencial e on-line).

A servidora pública Anne Rakel estava à passeio pelo Mercado dos Peixes, quando foi surpreendida pelo colorido das embarcações. “As velas chamaram minha atenção e logo vim”, conta. Ela é de Teresina, no Piauí, mas aproveita as férias na capital cearense — terra natal do marido. Para Anne, o retorno de eventos culturais, com o seguimento aos protocolos contra a pandemia, vai além do universo recreativo. “É muito interessante estar aqui, tomando as devidas precauções, como o passaporte da vacina. A longo prazo, a gente tem um déficit cultural, educacional e psicológico muito grande. Essa retomada é muito interessante no sentido de diminuir esse abismo”.

Andréa Dall’Olio participa pela segunda vez da Aquavelas. Na obra “S.O.S Oceano”, a artista reflete sobre a cura dos oceanos. A vela azul — como uma extensão dos mares — carrega um código morse (representação de pontos, traços e espaços com informação codificada) pintado em vermelho, acompanhado de uma bolha de sangue com um curativo adesivo. “É como se eu quisesse, manualmente, ir cuidando dos oceanos. E é uma emoção ver a vela, costurada pelos próprios jangadeiros, aqui no mar. Foi um processo incrível, com os artistas trabalhando juntos no Sesc Iparana. A gente tá nesse momento de retomada muito efervescente da cultura e esse movimento é belíssimo só”, divide.

Quem também apreciou a exposição foi o guia de turismo Diego Di Paula, idealizador do projeto de história e memória Acervo Mucuripe (@acervomucuripe). Ele também integra a programação do Encontro Sesc Povos do Mar, no decorrer da semana, falando sobre o seu trabalho. “O ser humano em si precisa desse retorno. Claro, a gente tem que tomar todos os cuidados necessários, principalmente com apoio à vacinação. Com relação ao apoio aos artistas, isso deve ser constante, seja com programações presenciais ou virtuais”. Para Diego, trata-se de um momento “para poder se reunir e trocar saberes”.

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Corredor Cultural Benfica

O entorno da Avenida da Universidade, no bairro Benfica, recebeu uma programação com contação de histórias, distribuição de mudas de plantas, orquestra popular, lançamento de livros, discotecagem, espaço lúdico para a criançada, feira de artesanato e do Movimento Sem Terra (MST), adoção de animais e abertura de exposição. As diversas atrações integraram o Corredor Cultural Benfica ontem, 12.

O projeto de ocupação de um dos bairros mais emblemáticos de Fortaleza retornou após dois anos sem atividades presenciais. Durante a pandemia da Covid-19, o Corredor contou com atrações em plataformas on-line. Na ocasião, a organização teve que entender como atuar em uma nova linguagem, já que a iniciativa está diretamente ligada à apropriação da Cidade e dos espaços públicos.

A iniciativa contou com atrações para toda a família(Foto: Barbara Moira/O Povo)
Foto: Barbara Moira/O Povo A iniciativa contou com atrações para toda a família

“O corredor se baseia numa ocupação. É um evento de ocupação cultural e artística num território específico”, explica o produtor executivo Chico Célio. “Para a gente, é muito caro voltar agora, depois de dois anos. A gente sabe o contexto que a gente está vivendo, então não podemos nos despreocupar com os cuidados. A gente conta com exigência do passaporte de vacinação, das doses completas, há mais de 15 dias do evento. Há muito tempo, a gente queria ver de novo o Benfica ocupado aos domingos, com a avenida fechada para carro e aberta para a comunidade”, conta.

Segundo Chico, a organização está contente pelo retorno, mas ainda receosa pelo contexto de novas variantes da Covid-19. “Estamos pensando como será o Corredor dos próximos anos, mas confiantes. Esta edição foi surpreendente até para mim, deu tudo muito certo!”, revela.

Vitória Pinho, estudante de Psicologia, soube do evento por uma amiga. Logo quis levar a filha, Cecília, de quatro anos de idade. A pequena brincava ao ar livre, manipulando areia e bonecos, enquanto a mãe conversava com O POVO. Vitória, inclusive, carregava uma muda de plantas consigo. “Planejei um dia com minha filha, nesse momento que a gente pode se reunir depois de tanto tempo de isolamento. Ela tá adorando esse espaço. Tem movimento aqui. A gente pode viver novas histórias aqui, experienciar a vida, experienciar o nosso sonho”. Segundo Vitória, ontem foi um dia muito significativo. “É um dos poucos momentos que eu saí com a minha filha para um ambiente com muita gente. Eu tô vacinada, só entrou quem tava vacinado. É um novo ato de viver e eu tô muito feliz por estar aqui”, compartilha.

Na manhã desse domingo aconteceu a volta do Corredor Cultural Benfica, realizado em trecho da Avenida da Universidade, ocupando os jardins da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Museu de Arte da UFC. Na foto, Vitória Pinho, estudante de Psicologia, e a filha, Cecília, de 4 anos (BÁRBARA MOIRA/ O POVO)(Foto: Barbara Moira/O Povo)
Foto: Barbara Moira/O Povo Na manhã desse domingo aconteceu a volta do Corredor Cultural Benfica, realizado em trecho da Avenida da Universidade, ocupando os jardins da Reitoria da Universidade Federal do Ceará (UFC) e o Museu de Arte da UFC. Na foto, Vitória Pinho, estudante de Psicologia, e a filha, Cecília, de 4 anos (BÁRBARA MOIRA/ O POVO)

Exposição "Aquilo Acolá"

O Corredor Cultural Benfica contou com o lançamento da exposição “Aquilo Acolá” no Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (Mauc). Na mostra, obras de sete artistas cearenses, radicados tanto no interior do Estado quanto na Capital. Esta é a estreia da historiadora e artista visual Sy Gomes na curadoria. Segundo a curadora, “Aquilo Acolá” “celebra o estranho, o híbrido, aquilo que a gente não sabe nomear de primeira”. “Aqui no Ceará, a gente tem palavras para isso, como aquilo, negócio, babado, trambolho. Nós ocupamos esse lugar de coisas, que são os artistas contemporâneos dissidentes do Ceará que muitas vezes não temos espaços dentro dos núcleos institucionais. Essas pessoas faziam muito tempo que não estavam expondo”.

Exposição (Foto: Barbara Moira/O Povo)
Foto: Barbara Moira/O Povo Exposição

A mostra marca alguns retornos na cena das artes visuais, como o da multiartista Ella Monstra. Ela integra a exposição com a performance e instalação “Torre - toda vida nasce de uma explosão” (2021). A ação cênica foi realizada ainda durante a manhã de ontem, 12, quando Monstra construía uma torre com tijolos enquanto também a destruía.

Ella Monstra integra a exposição Aquilo Acolá(Foto: Barbara Moira/O Povo)
Foto: Barbara Moira/O Povo Ella Monstra integra a exposição Aquilo Acolá

Ella Monstra relaciona: “É uma metáfora para um dispositivo de segurança, mas também de proteção. É sobre criar um dispositivo de isolamento, criação e solidão. Refletir sobre as torres que a gente constrói ao nosso redor, mas também como podemos destruí-las. Enquanto travesti, estou num processo de isolamento social muito antes da pandemia. O isolamento se alastra para todo mundo, mas a obra dialoga não só com o isolamento que se constrói na pandemia, mas também da minha vida enquanto travesti e como que a gente faz para se proteger, criar essas paredes... Mas também como que a gente não cria, na verdade, uma armadilha e não fica presa lá dentro, nesse isolamento, que também pode ser uma solidão”. A exposição segue no Mauc até 12 de janeiro.

Encontro Sesc Povos do Mar
Quando: até quinta-feira, 16
Onde: presencial e on-line, no Ceará
Mais info: www.sesc-ce.com.br/povos-do-mar-heranca-nativa/

Exposição “Aquilo Acolá”
Quando: até 12 de janeiro
Onde: Museu de Arte da Universidade Federal do Ceará (av. da Universidade, 2854 - Benfica)

Corredor Cultural Benfica
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Encontro Sesc Povos do Mar

Quando: até quinta-feira, 16
Onde: presencial e on-line, no Ceará
Mais info: www.sesc-ce.com.br/povos-do-mar-heranca-nativa/

Agenda

A programação segue até quinta-feira, 16, em formato híbrido (presencial e on-line)

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