Silenciosamente, o Ceará testemunhou aumento expressivo de incidência das arboviroses urbanas (dengue, zika e chikungunya) durante 2021. A alta é puxada pelos diagnósticos de dengue, que cresceram 52% em relação a 2020. De acordo com dados da Secretaria da Saúde do Estado (Sesa), em todo o ano passado foram 20.653 casos de dengue entre os cearenses. Já até o dia 11 de dezembro (data correspondente ao fim da 49ª semana epidemiológica), são 31.405 pessoas diagnosticadas com a doença.
Os casos de zika e chikungunya mantiveram-se estáveis. Para a primeira, são 142 casos em 2020 contra 176 casos neste ano. Os diagnósticos de chikungunya foram 882 de para 842.
"De 2020 para 2021, tivemos um aumento da incidência das arboviroses urbanas, principalmente da dengue — 90% dos casos foram diagnosticados como dengue", aponta a secretária executiva de Vigilância e Regulação da Sesa, Ricristhi Gonçalves. Segundo ela, houve uma “epidemia silenciosa”, especialmente durante 10 semanas entre junho e agosto. "Toda a população brasileira estava muito preocupada com a pandemia de Covid-19 e acabamos esquecendo do controle de outras doenças que são muito importantes e ocorrem todos os anos", admite.
Os casos confirmados da doença ocorreram, predominantemente, em pessoas de 20 a 49 anos (55,7% do total). Entretanto, quase um terço dos diagnósticos (28,5%) foi em menores de 19 anos, totalizando 8.891 casos nessa faixa etária.
De acordo com a Sesa, 19 cearenses morreram em decorrência da dengue neste ano. Cinco deles residiam em Fortaleza e os demais nos municípios de Caucaia (2), Horizonte (2), Maracanaú (2), Sobral (2), Viçosa do Ceará (2), Eusébio (1), Iracema (1), Porteiras (1) e Quixadá (1).
A circulação do sorotipo 2 da dengue é outro dado que chama a atenção. Neste ano, o tipo mais grave do vírus foi identificado circulando 35 municípios localizados majoritariamente nas regiões leste e norte do Estado, sendo que em quatro deles também foi encontrado o sorotipo 1. As outras 149 cidades do Estado não realizaram teste de detecção dos sorotipos. Em Fortaleza, a dengue tipo 2 foi identificada em mais de 40 bairros de Fortaleza e já é o que predomina entre os diagnósticos.
“A gente precisa que as pessoas lembrem que o Aedes aegypti é um mosquito muito doméstico, ele se alimenta do sangue da população e procria dentro das casas”, enfatiza Ricristhi. “E os gestores municipais têm que tomar para si o controle de endemias e arboviroses”, acrescenta.
Sayonara Moura, presidente do Conselho das Secretarias Municipais de Saúde do Ceará (Cosems/CE), afirma que todas as cidades do Estado "já têm seu plano de contingência (de arboviroses) e estão preparados para a quadra chuvosa". "O que a gente menos precisa agora é de uma nova epidemia, por isso estamos trabalhando para evitar surtos de dengue e internações de casos graves."
Na manhã dessa quinta-feira, 23, a Sesa doou equipamentos de proteção individual para 4.500 agentes municipais que trabalham no combate de endemias nas 22 Áreas Descentralizadas de Saúde (ADS). Foram entregues 1.700 conjuntos de hidrorrepelentes (roupas que protegem os agentes durante a aplicação dos larvicidas) e máscaras faciais.