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Cinco anos após reinauguração, Mercado da Aerolândia precisa de reparos
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Cinco anos após reinauguração, Mercado da Aerolândia precisa de reparos

|ESPAÇO DE FORTALEZA| Mercados dos Pinhões e da Aerolândia vieram para Fortaleza importados da França no século XIX. Separação de estruturas que formavam um só mercado deu destinos diferentes às duas partes do edifício
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MORADORES pedem manutenção e mais segurança para Mercado da Aerolândia (Foto: FABIO LIMA)
Foto: FABIO LIMA MORADORES pedem manutenção e mais segurança para Mercado da Aerolândia

Cinco anos depois de passar por reforma e ser reinaugurado,  o mercado da Aerolândia, localizado na margem da BR-116, precisa de novos reparos. Moradores reclamar de descaso com o equipamento, que foi  tombado como patrimônio da Cidade em 2008, junto com o Mercado dos Pinhões. Telhas corroídas pela ferrugem, corrimãos quebrados, falta de manutenção e programações culturais são alguns dos pontos levantados por quem tem saudade de ver o mercado bonito e cheio de gente. A reinauguração do Mercado da Aerolândia ocorreu em 2015

“A comunidade sente falta do movimento do mercado, mesmo que a gente entenda que esse momento de pandemia contribui para o abandono”, diz Adriana Pinheiro, 41, funcionária de um quiosque do entorno do equipamento. A comerciante relata que as festas, as atividades para a população e o comércio do mercado ajudavam quem trabalha no entorno, que também eram beneficiados pelo fluxo de pessoas no local.

Mesmo em momentos de diminuição da transmissão da Covid-19 e flexibilização do isolamento social, Adriana conta que o mercado não voltou a ter programações culturais depois do início da pandemia. Nos últimos dois anos, o local passou por períodos sem vigilantes, segundo Adriana, e saques foram feitos aos boxes do interior do mercado. Em uma ocasião, cadeiras guardadas por um permissionário foram levadas e a estrutura do box em que elas estavam guardadas continua quebrada.

O POVO esteve no local na quarta-feira passada, 19, e percebeu telhas corroídas, um guarda-corpo da rampa de acessibilidade seguro apenas por um pedaço de concreto quebrado e amarrado com fios pela própria população, um dos banheiros do mercado fechado com pedaços de madeira e o portão do estacionamento arrancado e guardado na parte interna.

Guarda-corpo do mercado é seguro apenas por pedaço de concreto amarrado com fios, solução dada por moradores da Aerolândia
Guarda-corpo do mercado é seguro apenas por pedaço de concreto amarrado com fios, solução dada por moradores da Aerolândia (Foto: FABIO LIMA)

Para Josicleso da Silva, conhecido como Fifi da Aerolândia, que estava no entorno do mercado no momento da visita do O POVO, o local deveria voltar ao seu uso original, que era vender alimentos como frutas, verduras e carnes para ajudar na renda da comunidade. “Qual a renda que dá para o pessoal do bairro esse mercado fechado? Custou tão caro e se encontra em total abandono”. Ele também afirma que o local alaga em tempos de chuva.

O aposentado Francisco David da Silva, 57, conta que foi vigia do mercado da Aerolândia por 10 anos e estranha o fato do local ter sido deixado sem segurança nos últimos anos. Ele também diz sentir falta das atividades como forró, zumba, capoeira e ginástica que aconteciam no mercado antes da pandemia. “O Mercado dos Pinhões é bem cuidado porque lá é uma área escolhida”, critica.

FORTALEZA,CE, BRASIL, 19.01.2022: Mercado dos Pinhões, Aldeota. Situação dos mercados da Aerolândia e dos Pinhões.  (Fotos: Fabio Lima/O POVO)
FORTALEZA,CE, BRASIL, 19.01.2022: Mercado dos Pinhões, Aldeota. Situação dos mercados da Aerolândia e dos Pinhões. (Fotos: Fabio Lima/O POVO) (Foto: FABIO LIMA)

No entanto, pessoas que trabalham no entorno do Mercado dos Pinhões também reclamam da falta de manutenção do equipamento localizado no Centro. A ferrugem e as pichações no edifício marcam visualmente o problema. A cozinheira Daiane Santos, 38, que trabalha na frente do Pinhões, afirma que estava fazendo aula de zumba dentro do mercado quando uma pane elétrica fez com que o local ficasse sem luz em dezembro de 2021. “A parte do teto está muito antiga”, afirma. Agora as aulas são feitas na rua, mas Daiane diz que “o mercado faz muita falta”.

Mercado da Aerolândia passa por vistoria e Pinhões tem verba para manutenção avaliada

De acordo com a prefeitura de Fortaleza, a Secretaria da Gestão Regional (Seger) afirmou que uma equipe da Regional 6 realizou nesta semana uma vistoria técnica ao Mercado da Aerolândia e “encaminhou as providências necessárias para a manutenção do espaço”.

Questionada sobre a falta de vigilantes no local mencionada pelos moradores, a secretaria afirmou que há duas pessoas contratadas para trabalhar na segurança do local em dias alternados. Não houve resposta sobre os permissionários do mercado que, segundo moradores do bairro, teriam desistido de atuar no local devido à insegurança e falta de condições de pagar pelos boxes.

Em relação ao Mercado dos Pinhões, a Seger declarou que uma obra de manutenção está sendo programada. Em dezembro de 2021, a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza (Secultfor) anunciou que o equipamento seria interditado para reformas. Segundo a Seger, o orçamento da obra está em fase de conclusão.

Muro com pichações no Mercado dos Pinhões, no Centro.
Muro com pichações no Mercado dos Pinhões, no Centro. (Foto: FABIO LIMA)

“A obra será realizada em parceria com o Governo do Estado do Ceará, por meio da Superintendência de Obras Públicas (SOP), que deverá lançar a licitação da obra”, disse por meio de nota. A secretaria não deu detalhes sobre o que será feito no mercado, pois só será possível definir após o processo licitatório.

A prefeitura informou ainda que a população deve solicitar a manutenção de equipamentos públicos por meio do telefone 156, ou pelo aplicativo da Central 156, disponível em Android e iOS. Um processo de reclamação também pode ser aberto na Secretaria Regional do território.

Mercados de ferro vieram como um só da França e eram utilizados para vender alimentos

Nem sempre os mercados da Aerolândia e dos Pinhões estiveram separados. A estrutura veio importada da França como uma só no século XIX. Os dois pavilhões, de acordo com o arquiteto e urbanista João Lucas Nogueira, ficaram montados no centro de Fortaleza. Apenas em 1938 foram separados, sendo um levado para a praça Visconde de Pelotas, onde hoje está o Mercado dos Pinhões, e o outro levado para a praça São Sebastião, também no Centro.

Em 1968, o mercado foi novamente desmontado e levado para a Aerolândia. No lugar em que estava antes foi construído o Mercado São Sebastião. “Nesse processo de monta e desmonta, ele é remontado com peças no lugar errado e outras anomalias que foram descaracterizando com o tempo”, explica Nogueira.

Para ele, a decisão de desmontar o mercado foi equivocada. “Tanto porque a cidade perde um mercado do porte que tem os dois pavilhões juntos, que hoje, poderia ser um grande polo cultural e também turístico, como porque esse movimento foi muito prejudicial à arquitetura dos edifícios, que precisou de soluções arranjadas para se tornarem dois a partir de um.”

Outros mercados de ferro ainda servem para a atividade inicial realizada dentro desses equipamentos: a venda de alimentos. O arquiteto menciona como exemplos o Covent Garden, em Londres, o Mercado de Colón, em Valência, o Mercado de San Antón, em Madrid, ambos na Espanha, e o mercado de São José, em Recife.

Edição de 15 de julho de 2015 do caderno Vida &Arte mostrou processo de restauração do Mercado da Aerolândia. Obra começou em 2012 e só foi entregue no final de 2015.
Edição de 15 de julho de 2015 do caderno Vida &Arte mostrou processo de restauração do Mercado da Aerolândia. Obra começou em 2012 e só foi entregue no final de 2015. (Foto: O POVO Doc.)

No entanto, depois da restauração do Mercado dos Pinhões em 1998, o local passou a não ser mais espaço para feira. Em 2015, quando o Mercado da Aerolândia também recebeu a restauração, o uso também foi modificado. Na época, um anexo com 52 boxes deveria ser construído para abrigar a venda de frutas, verduras e carnes, assim como o mercado São Sebastião. No entanto, o edifício nunca foi construído. Em seu lugar funciona um Ecoponto, uma quadra de esportes e uma academia ao ar livre.

Para João Lucas, os gestores públicos acreditaram que certos usos para esses equipamentos poderiam ser mais “nobres”, valorizando mais os edifícios. “O que valoriza o edifício é sua integração ao continuum da vida da população. Inserir o edifício nas necessidades cotidianas de quem vive em seu entorno é o uso ideal. Mas ainda existem essas ideias de que alguns usos tidos como mais ‘nobres’ vão dar outro sentido ou valorizar os bens”, opina.

Além da localização, diferença na demora para restauração moldou visão sobre mercados

Enquanto o Mercado dos Pinhões foi restaurado em 1998, o da Aerolândia ainda demorou mais 17 anos para receber a reforma. João Lucas explica que o tempo de diferença influenciou para que o Pinhões conseguisse se consolidar como um espaço cultural bem mais cedo do que o mercado da Aerolândia. Os dois mercados foram tombados como patrimônio da Cidade em 2008.

“Antes da restauração, o mercado da Aerolândia estava muito mal cuidado, a situação do edifício era péssima e ele estava muito descaracterizado”. Para João, a localização do mercado da Aerolândia também prejudica a “integração com a vida urbana”, já que a estrutura se encontra ao lado de uma rodovia onde há fluxo intenso de carros em alta velocidade.

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