O radialista cearense Narcélio Limaverde morreu aos 90 anos ontem, 26, após internação por duas semanas em um hospital particular de Fortaleza com pneumonia grave. Com longa história no jornalismo, na história e na política cearense, Narcélio esteve entre os profissionais do Grupo O POVO de Comunicação. O jornalista, escritor, radialista e ex-deputado estadual começou a carreira na comunicação cearense em 1954, trabalhando como radialista na Ceará Rádio Clube, logo virando assistente da direção comercial da rádio.
Ele ficou conhecido por seus ouvintes e admiradores como “o locutor dos brotinhos” e, em 1960, esteve presente na fundação da primeira emissora de televisão do Ceará, a TV Ceará (TVC), sendo o primeiro apresentador de TV do Estado. Na época, a TVC era o Canal 2 e pertencia aos Diários Associados. Na noite de ontem, às 23h30 min, a emissora transmitiu o programa Crônicas do Ceará, em homenagem ao jornalista.
A esposa de Narcélio, Helenira Leite Limaverde, escreveu sobre o marido e lembrou que ele sempre amou Fortaleza e lutou para vê-la mais justa e humana. “Meu companheiro há 63 anos, ele era um memorialista admirável. “Tô muito sofrida, com coração triste, mas agradecida por um tempo de convivência marcado de dores e alegrias e muito respeito e cumplicidade. Deus o abençoe, ilumine e proteja”, disse.
Pioneiro do jornalismo cearense, o jornalista passou pela Rádio Dragão do Mar atuando como radialista e assistente do departamento artístico da emissora, trabalhou na Rádio Jornal do Comércio de Recife (PE). Ele teve uma passagem pelo Sistema Verdes Mares, como apresentador de notícias na rádio e na TV, tornando-se pouco tempo depois um de seus dirigentes. Ele ainda teve passagem pela TV e Rádio Uirapuru, AM Cidade, Rádio Assunção Cearense e Rádio FM do Povo. Seu último trabalho foi na Rádio FM Assembleia, onde apresentava de segunda à sexta o Programa Narcélio Limaverde.
Com protagonismo também na política, Narcélio foi o deputado estadual mais votado em 1986 e ajudou a construir a Constituição Estadual de 1989. O governador Camilo Santana (PT) definiu Narcélio como “um dos maiores nomes da comunicação cearense e um ícone do rádio no Estado”. Ciro Gomes, pré-candidato a presidente, também lamentou a morte do radialista. “Contribuiu muito com o Ceará e com a democratização da informação nas rádios. Meus sentimentos à família e amigos”, disse.
O senador Tasso Jereissati (PSDB) disse que Narcélio deixa um “valoroso legado” e era um “homem dedicado às comunicações na defesa dos maiores interesses do Ceará e dos cearenses''. O ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio, também lamentou a morte do jornalista: “Sua longeva presença no rádio e na TV é um capítulo especial de quem abraçou com extremo carinho e ética a função de bem informar e zelar pela defesa dos verdadeiros interesses da nossa população”, destacou em nota.
O deputado federal Capitão Wagner (Pros) disse que Narcélio deixa “legado de respeito ao próximo”. “Tive a honra de ser entrevistado muitas vezes por esse grande profissional do rádio. O céu deve estar em festa com sua chegada. Meus sentimentos aos familiares”, disse o parlamentar. Em nota, a Assembleia Legislativa também manifestou-se: “O Parlamento Estadual lamenta esta perda inestimável para a comunicação cearense e manifesta condolências aos amigos e familiares em nome da esposa Helenira Leite e dos filhos Sérgio, Adriana, Vládia e Narcélio Filho", disse.
Perde-se um ícone
A voz que se cala não é apenas de mais um jornalista no Ceará. Cala-se a voz de uma das maiores referências para a Comunicação cearense. A história do Jornalismo e do Radiojornalismo no Estado inevitavelmente passa pela vida de Narcélio Limaverde. Dos 90 anos de idade, 68 foram vividos no rádio.
Quantos de nós crescemos ouvindo o Narcélio, fizemos parte de sua multidão de ouvintes e anos depois nos maravilhamos ao encontrá-lo e tê-lo como colega de profissão? Narcélio se tornou um modelo de amor à comunicação e de defesa da dignidade. Com uma voz inconfundível, era também fonte de admiração para os locutores. O que chama mais atenção, no entanto, são as relações humanas que ele cultivava de forma honesta e generosa.
Quando ocupei o cargo de ombudsman no O POVO, Narcélio me ligava sempre. Sugeria mudanças, criticava condutas, observava estratégias, reclamava da falta de atualização de colunas... De modo muito respeitoso, apontava as críticas e puxava conversa. É durante o exercício da crítica que conhecemos quem é o outro. Narcélio fazia de modo muito íntegro. Era leve e gentil. Dava gosto conversar com ele.
Participei algumas vezes do programa que ele apresentava na FM Assembleia. Comentava sobre a função de ombudsman e a importância da ouvidoria nas instituições. Ele fazia questão de manter no ar um quadro sobre o tema e enfatizar a atuação das ouvidorias. É preciso ressaltar o valor que ele dava aos mecanismos de controle social, às demandas do cidadão e à participação da sociedade, acreditando que a comunicação social é construída por muitos lados.
Narcélio deixou sua marca de compromisso e cordialidade por onde passou. Minha mãe, que trabalhou com ele na Teleceará, guarda lembranças do respeito com que ele conduzia os trabalhos. Não foi diferente em cada função que assumiu ao longo da vida.
Que honremos a memória de Narcélio Limaverde no exercício do bom jornalismo, na capacidade do diálogo e no respeito nas relações. Senhoras e senhores, perdemos uma referência. Ganhamos um legado incomparável para a Comunicação. Fique em paz, Narcélio. (Daniela Nogueira)