Falta de segurança, iluminação precária e má conservação da infraestrutura do equipamento são alguns problemas apontados por frequentadores do Parque Rio Branco, localizado no bairro Joaquim Távora, em Fortaleza. O espaço é uma das principais opções de lazer para os moradores do bairro e de áreas no entorno, mas devido à falta de manutenção, tem atraído um número cada vez menor de visitantes.
Nos últimos meses, o local tem sido alvo de diversas ações criminosas. Das quatro zonas de acesso ao Parque, três estão sem portões por causa de furtos que foram registrados em 2021. Já em janeiro, parte das grades da fachada também foi retirada. O caso mais recente foi registrado há duas semanas, quando até mesmo os cabos de eletricidade do local foram levados por ladrões. Desde então, parte da iluminação está sem funcionar.
Moradora da região há mais de dez anos, a designer gráfica Milena Ribeiro, 32, afirma que frequentar o Parque no período noturno é um risco. “Tenho medo, porque fica bem deserto e como a iluminação é precária, a insegurança aumenta. Já ouvi muitos relatos de assaltos, estupros e até de mortes que já aconteceram aqui dentro, então prefiro não arriscar em vir nesse horário”.
O biólogo Everton Pimentel, 28, que faz caminhadas diárias no Parque, observa que, além do problema da iluminação, falta policiamento no local. “Às vezes eu até vejo alguns policiais, mas com muita pouca frequência. Seria bom reforçar a presença da polícia ou da Guarda Municipal, principalmente à noite. Eu, por exemplo, não me sinto nem um pouco seguro em caminhar aqui depois que escurece”, declara.
Fernando Vasconcelos, membro do movimento Proparque, grupo que há mais de 26 anos luta por melhorias no Parque Rio Branco, considera que o equipamento “está em completo abandono”. Segundo ele, as carências vão desde a deterioração da estrutura física até a falta de cuidados com a vegetação e as nascentes espalhadas por várias partes do Parque, que é reconhecido pela Prefeitura como uma Zona de Proteção Ambiental (ZPA).
"Tem lixo por todo lado, quando chove, a situação piora. O Parque está abandonado. Os córregos estão entupidos, é lamentável a situação de um local tão bonito e frequentado por muitas famílias. A Prefeitura até tem nos atendido, mas o problema maior é a segurança, precisa de uma solução imediata”, afirma Vasconcelos.
Ainda de acordo com o voluntário, devido à ausência das forças de Segurança, no período noturno, o local se transforma em um ponto para consumo e venda de drogas ilícitas. “Isso afasta cada vez mais as pessoas. Quem vai ter coragem de frequentar um Parque com sua família, à noite, sabendo que esse tipo de coisa acontece?”, questiona.
“Quem vem aqui, independentemente do horário, tem um pouco de medo. Eu mesmo, por exemplo, nas minhas caminhadas diárias, não trago relógio, celular, colar, nada… e muita gente que conheço ou que faz caminhada comigo faz o mesmo. É sempre mais seguro andar em grupos”, complementa.
No começo do mês, o Proparque encaminhou um documento à Prefeitura com 37 reivindicações relacionadas a melhorias que precisam ser implementadas no Rio Branco. Entre elas, a manutenção e alargamento das três pontes de madeira existentes no local, recuperação da fachada, reflorestamento da nascente do Riacho Rio Branco e instalação de luminárias de LED. Também foi solicitada uma ação de castração e vacinação contra a raiva para cerca de 200 gatos que vivem no espaço sob os cuidados dos próprios frequentadores.
Segundo o porteiro José Pereira, 63, a realidade atual do Parque Rio Branco contrasta com a de um tempo não tão distante. Ele diz que passa por dentro do equipamento diariamente há 22 anos para chegar ao condomínio onde trabalha, na Avenida Pontes Vieira.
“Nesse tempo todo que eu ando aqui, vem só piorando a situação. Lá em 2006, 2007, mais ou menos, era bem frequentado em todos os horários. Lembro que a Guarda Municipal ficava aqui dia e noite. As pessoas se sentiam mais à vontade em qualquer horário porque era tudo bem iluminado”, conta.
Para José, a solução para a maioria dos problemas de hoje em dia passa pelas iniciativas do Poder Público, que ainda não foram tomadas. “É como se os órgãos responsáveis não estivessem mais nem aí pro Parque. Quando tinha a presença deles aqui, a gente não via tanta coisa errada acontecer. Hoje, se você vier depois de oito horas da noite, o risco de ser assaltado é muito grande, ou até de acontecer algo pior”, reclama.
Em nota enviada ao O POVO, a Autarquia de Urbanismo e Paisagismo de Fortaleza (Urbfor), responsável pela administração do Parque Rio Branco, justificou que o espaço passa por manutenções constantes envolvendo ações como varrição, capina e podas nas árvores. A entidade também ressalta que, em 2021, foram realizados dois mutirões de limpeza, melhorias paisagísticas e plantio de mudas nativas no local.
Sobre os problemas na iluminação, a Urbfor alega que a Secretaria Municipal da Conservação e Serviços Públicos (SCSP) realizou, também no ano passado, a recomposição de todas as lâmpadas e equipamentos de iluminação que estavam defeituosos. Segundo a autarquia, o funcionamento foi comprometido parcialmente após o furto dos cabos, mas providências já estão sendo tomadas para a correção dos danos.
“A equipe técnica está realizando o levantamento dos equipamentos danificados e trabalha na reposição e reinstalação. Em casos de pontos apagados, a orientação é que a população telefone gratuitamente para o número 156 e solicite o serviço. Estas situações foram registradas em Boletins de Ocorrência (B.O.) junto aos órgãos de segurança competentes”, diz a nota.
Procurada pelo O POVO, a Polícia Civil do Ceará (PC-CE) informou que o furto dos cabos está sendo investigado pelo 4º Distrito Policial (4º DP). A corporação ressalta que o crime atenta contra a segurança e o funcionamento de serviços públicos. Havendo a ocorrência dessa natureza, a PC-CE recomenda que a população registre o Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia mais próxima ou através do site da Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social (SSPDS).
Quanto à falta de patrulhamento no Parque, apontada pelos frequentadores, a Urbfor afirma que Guardas Municipais da Inspetoria de Proteção Ambiental (Ipam) realizam rondas frequentes em toda a extensão do equipamento. Ainda segundo a autarquia, alternativas de revitalização para o Parque estão sendo estudadas conjuntamente com a Secretaria Municipal de Urbanismo e Meio Ambiente (Seuma).(Colaborou: Gabriel Borges)
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Ronda
Sobre a falta de patrulhamento no Parque, apontada pelos frequentadores, a Urbfor afirma que Guardas Municipais da Inspetoria de Proteção Ambiental (Ipam) realizam rondas frequentes em toda a extensão do equipamento.