Esta semana, o Brasil voltou a registrar mais de mil óbitos em decorrência da Covid-19 em 24 horas. O que não ocorria há mais de seis meses. Esse aumento em pleno terceiro ano de pandemia era esperado por especialistas e deixa claro que a vacinação completa ainda não está suficiente e que as medidas de proteção devem ser mantidas com rigor.
Nesta quinta-feira, 10, 164.066 novos casos e 943 mortes em decorrência da Covid-19 foram registradas no País.
A "curva" de novos casos diários nesta terceira onda da Covid-19 foi quase "uma subida vertical" em razão da alta transmissibilidade da variante Ômicron. A comparação é da epidemiologista Lígia Kerr, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e integrante da Comissão de Epidemiologia da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O elevado número de mortes alerta para o percentual elevado de pessoas sem o primeiro ciclo vacinal completo. "Se tomar a segunda dose, cai muito o risco de óbito. O reforço reduz mais ainda", diz. Ela frisa que a vacinação foi planejada para evitar óbitos e internações graves, mas infelizmente não consegue prevenir as infecções. "Com uma variante tão transmissível, isso era esperado", afirma.
Para os próximos meses, a projeção é que "essa explosão da Ômicron esteja imunizando quem não tinha se vacinado ou quem já tinha se vacinado há muito tempo". Mas essa imunidade dura pouco tempo, tendendo de quatro a seis meses, conforme a epidemiologista. "O que pode acontecer é um tempo de calmaria para que a gente possa rearticular o sistema e a vacinação". Outra possibilidade, contudo, é o surgimento de outras variantes.
A virologista e epidemiologista Caroline Gurgel, professora do Departamento de Saúde Comunitária da UFC, alerta que novas variantes sempre são desafiadoras. "A gente não sabe os estragos que podem vir a causar. Pode ser uma variante que se torne o novo resfriado comum, mas também pode ser uma variante que não responda mais às vacinas e que, inclusive, gere uma quantidade enorme de óbitos", diz.
"Normalizar esse número de mortes é inaceitável. Não existe do ponto de vista epidemiológico ou do ponto de vista ético e moral que a gente aceite que as pessoas morram de uma forma que poderia ser prevenida", defende a professora Lígia Kerr.
Além da tragédia que o número de mortes carrega por si só, a "normalização" do registro é grave porque o vírus e as formas de prevenção já são conhecidas, mas as pessoas ainda resistem à manter os métodos de proteção. "Falamos de dados de violência, de acidentes trânsito, óbitos por vários tipos de doenças — infecciosas ou não. Mas o que choca é que temos uma doença, conhecemos o agente, a forma de transmissão, como prevenir e, ainda assim, lidar com mil mortos por dia", completa Caroline Gurgel.