Um grupo de 30 pessoas, entre visitantes e funcionários, que estavam no Museu Imperial de Petrópolis na tarde de terça-feira passada, 15, quando uma tempestade atingiu a Cidade, passou a noite nas dependências do palácio. Entre eles, uma mulher com três crianças. Ninguém ficou ferido. O prédio do museu não sofreu danos e o acervo está preservado.
Dois prédios do complexo, onde funcionam o refeitório e o vestiário dos funcionários, estão comprometidos por um deslizamento no terreno anexo. Ambos foram interditados.
"Estávamos trabalhando quando a tempestade começou e sempre, nessas ocasiões, percorremos os pontos mais críticos do museu para ver se há algum problema, alguma goteira", afirmou a historiadora Claudia Maria Souza Costa, diretora técnica do museu. "Enquanto verificávamos tudo, a Cidade desabou; ainda havia visitantes no palácio e só alguns conseguiram buscar seus carros porque a água subiu numa velocidade assustadora."
Segundo Cláudia, até o fim da noite, após a chuva, algumas pessoas conseguiram sair do museu, mas uma boa parte ficou ilhada, já que havia obstruções e deslizamentos nas ruas. "Improvisei um lugar na sala de reunião, com alguns sofás e poltronas, para as pessoas se acomodarem", contou a diretora. "Não havia nada para comer; então recolhi quatro pacotes de biscoito que achei na cozinha e mais alguns nas gavetas dos funcionários e distribui."
Para garantir que as três crianças não se assustassem, ela propôs brincarem de Uma Noite no Museu, como no filme de 2006. "Hoje de manhã elas me falaram que adoraram passar a noite no museu, que tinha sido melhor do que o filme."
O palácio foi construído em 1845 e era a residência de verão da família real brasileira. O museu tem o principal acervo do País relativo ao império brasileiro, em especial o Segundo Reinado, sob o governo de dom Pedro II. São cerca de 300 mil itens no acervo. Entre as peças mais visitadas está a coroa imperial de Pedro II.
Do outro lado da Cidades, por sua vez, crianças passaram por momentos de filme de terror. Letícia é tia de Emanuelle, uma das crianças que estavam na Escola José Fernandes da Silva, que teve a parte dos fundos parcialmente destruída. "Ela (Emanuelle) falou que foi horrível, que parecia filme de terror. A água batendo nela, nas cadeiras. Um amiguinho ficava segurando a mão do outro, porque a correnteza estava muito forte."
A mãe de Emanuelle só foi ter notícias da filha por volta das 22 horas, quando a encontrou no pronto-socorro ao lado da escola. "Minha filha ficou soterrada, foi levada para a UPA cheia de barro, bebeu água de lama", narrou a dona de casa Dayana Gonçalves. "Ela me disse que os alunos agiram por conta. Muitos ficaram machucados, havia muitos em estado de choque. Minha filha está muito assustada e disse que não vai mais à escola."
A costureira Sheila Mara Loiola, de 45 anos, que acolheu pessoas em sua casa desde a noite de terça, também esperava notícias de desaparecidos. "Dois amigos perderam a família inteira. Teve uma menina que só sobrou ela. Foi mãe, marido, todo o mundo."