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Desigualdade de acesso a testes de Covid-19 reflete-se na concentração de casos
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Desigualdade de acesso a testes de Covid-19 reflete-se na concentração de casos

Em relação às mortes pela doença, as desigualdades socioeconômicas foram mais presentes na primeira onda da pandemia. No momento atual, o mapa de óbito é "pulverizado" devido à rápida transmissão da variante Ômicron
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Testes de covid-19  (Foto: Myke Sena/MS)
Foto: Myke Sena/MS Testes de covid-19

Até a última segunda-feira, 14, havia registro de 43.421 casos de Covid-19 georreferenciados em Fortaleza desde o início de 2022. Esses diagnósticos positivos têm como característica uma maior concentração em bairros de alto Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), maior renda. As 406 mortes por Covid-19 georreferenciadas que ocorreram nesse período, por outro lado, estão mais dispersas pela Cidade.

Essa dinâmica diferente entre casos e óbitos pela doença é mostrada em dois mapas de calor disponíveis no boletim epidemiológico da Secretaria Municipal da Saúde de Fortaleza (SMS) divulgado na terça-feira, 15. O principal fator para essa diferença entre a concentração dos casos e a dispersão dos óbitos não está relacionado ao padrão de transmissão do vírus, mas ao acesso da população à testagem — ou à falta dele.

"Os bairros de alto IDH tendem a ter o número muito maior de casos, desde o início da pandemia, por conta de um acesso maior (a testes) que as populações de maior renda têm, e de testagem de casos leves e brandos, que também foi maior nessas populações, inclusive de contatos", afirma o epidemiologista e professor Antônio Silva Lima Neto, coordenador da Vigilância Epidemiológica da SMS.

A epidemiologista Thereza Magalhães, pesquisadora e professora da Universidade Estadual do Ceará (Uece), destaca que, atualmente, há a disponibilidade de testes pela rede pública e acrescenta a possibilidade de, com os autotestes para Covid-19, os bairros com alto IDH aumentarem ainda mais a identificação de casos da doença, uma vez que ele facilitará esse acesso às populações com maior renda.

Nesta quinta-feira, 17, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou o Novel Coronavírus Autoteste Antígeno, primeiro autoteste para Covid-19 do Brasil. A publicação do registro está na Resolução RE 533/2022, publicada ontem no Diário Oficial da União (DOU). A Agência informa que a disponibilidade do produto no mercado depende da empresa.

"Por outro lado, já teremos descido bastante na curva (de casos na atual onda da doença). Então pode ser também que, pelo momento epidemiológico em que os autotestes vão chegar, eles não tenham o impacto que teriam se tivessem chegado, por exemplo, em janeiro ou fevereiro", complementa.

Mapas de calor de casos e óbitos causados por Covid-19 em Fortaleza, a partir de boletim da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) publicado na terça-feira, 15
Foto: Reprodução/SMS
Mapas de calor de casos e óbitos causados por Covid-19 em Fortaleza, a partir de boletim da Secretaria Municipal de Saúde de Fortaleza (SMS) publicado na terça-feira, 15

Na primeira e na segunda onda da pandemia, em 2020 e 2021, a Regional VI — onde estão localizados bairros como Edson Queiroz, Messejana, Cambeba, Lagoa Redonda, Jangurussu e Paupina — foi uma região da Cidade que apresentou menor taxa de mortalidade. Neste ano, também vem demonstrando menor número de caso. "Muito provavelmente se deve, entre outros fatores, à menor da densidade demográfica e ao menor número de grandes adensamentos populacionais", aponta o coordenador da SMS.

A maneira como os óbitos causados pela Covid-19 espalharam-se pelos bairros de Fortaleza não foi a mesma nessas três ondas da pandemia. O peso das desigualdades sociais para as mortes foi sentido principalmente na primeira onda. Foi em 2020 que a mortalidade foi maior nos bairros em que a população teve mais dificuldade para fazer isolamento, segundo Antônio Lima.

"A primeira onda teve, de fato, uma concentração — sobretudo no que se diz respeito à mortalidade — nas duas áreas litorâneas, nas comunidades de menor IDH, principalmente, o grande Vicente Pinzón e o grande Pirambu. Desceu pelo Vila Velha, margeou a divisa com Caucaia e também chegou ao grande Bom Jardim com força", explicou.

Com a variante Gama (P.1), bairros de alto IDH que conseguiram fazer isolamento social na primeira onda tiveram uma "grande taxa de ataque" e alta mortalidade em 2021. É o caso do grande Meireles, incluindo a  Aldeota, o Papicu, o Mucuripe, a Varjota, o Cocó e o Guararapes.

"Também caminhou pelos pequenos bairros da região mais central do Município, do bairro de Fátima para o oeste, chegando até o João XXIII, pegando antes pequenos bairros: Damas, Demócrito Rocha e algumas áreas da regional III. Essa foi a segunda onda", aponta.

No momento atual, com a variante Ômicron, os óbitos estão pulverizados pelos bairros de Fortaleza, com pequenos aglomerados de óbitos em várias áreas. "A questão da desigualdade, neste momento, é um pouco menos evidente sobretudo do que na primeira e, em alguma medida, na segunda. Uma parte disso, por conta da tomada da Cidade muito rapidamente pela variante, em menos de 30 dias", complementa.

Sobre a dispersão das mortes por Covid-19, Thereza Magalhães aponta a vacinação contra a doença com a dose de reforço do imunobiológico. Ela chama atenção para as características dos pacientes que vão a óbito pela doença atualmente: pessoas com cardiopatias, mais velhas, por exemplo.

"Não tem a relação direta com a distribuição do movimento socioeconômico da Cidade. Ela é mais 'uniforme'. Por isso a distribuição dos óbitos é mais rarefeita, em quantidade bem menor, mas também menos concentrada", avalia.

Os óbitos mais recentes demoram a aparecer nas estatísticas oficiais por retardo da notificação. Mesmo assim, o coordenador da SMS avalia que a inserção de novas mortes não deve mudar muito o mapa de calor.

"Vamos ter um mapa de calor realmente mais pulverizado, refletindo um número absoluto (total notificado no período) que vai se aproximar de 400, 500 óbitos. É um número menor do que os que vimos nas ondas anteriores, que se aproximaram, em cada onda, de 5 mil óbitos", finaliza.

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