Logo O POVO+
Brasil tem 12 casos da BA.2; especialista explica como surgem variantes e sublinhagens de vírus
CIDADES

Brasil tem 12 casos da BA.2; especialista explica como surgem variantes e sublinhagens de vírus

Ao circularem na população e infectarem pessoas, os vírus sofrem mutações que, ao se acumularem, podem gerar novas variantes ou subvariantes. Ainda são necessários mais estudos sobre a BA.2, sublinhagem da Ômicron, mas já se sabe que ela tem nível de transmissibilidade até 1,5x maior do que o da BA.1
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
Brasil acumula um total de 470 mortes em decorrência da Covid-19 nas últimas 24 horas (Foto: NIAID/Divulgação)
Foto: NIAID/Divulgação Brasil acumula um total de 470 mortes em decorrência da Covid-19 nas últimas 24 horas

Oficialmente, foram identificados no Brasil 12 casos de Covid-19 causados pela sublinhagem BA.2 da variante Ômicron, segundo o Ministério da Saúde (MS). Sete dessas notificações foram feitas de São Paulo (SP), e outras três, do Rio de Janeiro (RJ). Um caso foi em Santa Catarina (SC) e outro, em Minas Gerais (MG). Em resposta ao O POVO, por e-mail, a Pasta informou que esses casos foram notificados até essa quarta-feira, 16.

Monitoramento da variante Ômicron feito pelo Instituto Todos pela Saúde (ITpS) analisou 105.985 testes RT-PCR (Thermo Fisher) realizados em 604 municípios de 26 estados. Eles foram feitos pelos laboratórios DB Molecular, Dasa e CDL no período entre 5 de dezembro de 2021 e 12 de fevereiro de 2022.

Na semana de 6 a 12 de fevereiro, quase todas as amostras positivas para a doença foram causadas pela variante Ômicron (BA.1). Naqueles sete dias, houve 853 casos confirmados — dos quais 98,9% (844) foram da BA.1. A variante foi detectada em 374 municípios de 25 estados.

O ITpS também está monitorando como a sublinhagem BA.2 irá se comportar frente à BA.1. "A BA.2 é mais transmissível que a BA.1 e segue se disseminando pelo mundo, já sendo observada em ao menos 57 países", aponta o Instituto.

Como surgem variantes e sublinhagens

Tanto a BA.1 quanto a BA.2 são a variante Ômicron do Sars-Cov-2, o coronavírus que causa a Covid-19. A BA.1 foi identificada primeiro e é responsável pela maioria dos casos no Brasil, enquanto a BA.2, uma sublinhagem da Ômicron, foi identificada depois e tem mutações que a diferenciam da BA.1.

Mas o que define se determinado vírus é uma variante ou outra — ou ainda uma sublinhagem de uma variante específica? Um conjunto de mutações que ele apresenta.

Quando um vírus — ou uma variante dele — está circulando e infectando a população, ele acumula mutações. Quando as mutações são tantas a ponto de um grupo de vírus não poder mais ser classificado como o vírus original, surge uma variante.

Quando esse processo ocorre com uma variante, e as mutações são suficientes para diferenciar o grupo de vírus, mas não o bastante para que ele seja classificado como uma nova variante, surgem sublinhagens, é o caso da BA.2.

Apesar de ainda serem necessários mais estudos sobre a BA.2 para entender se ela causa doenças mais graves, o biomédico e microbiologista Samuel Arruda aponta que já se sabe que ela tem nível de transmissibilidade até 1,5x maior do que o da BA.1. "Ela (BA.2) tem número maior de mutações, por volta de 50, quando comparada com a original, principalmente no que chamamos de proteína Spike", explica.

É por meio da Spike que o Sars-Cov-2 liga-se às células do corpo. "Quanto mais mutações ela sofre e quanto mais essa proteína é adaptada às nossas células, mais eficientemente ela vai se ligar e maior capacidade disseminação vai ter", comenta o biomédico.

Outra característica da sublinhagem é um escape do sistema imune. "Parece que, pelas características de mutação, (a BA.2) também consegue burlar o sistema imune, mas isso é melhor visto em pacientes não vacinados", afirma Arruda. "Quando se trata da vacina, não foi visto até momento nenhum comprometimento da eficácia quando se trata da subvariante BA.2", complementa.

Dados preliminares sobre a BA.2

Um estudo realizado por pesquisadores do Japão publicado na terça-feira, 15, na plataforma BioRxiv em forma de pré-print — ainda sem revisão por pares — sugere que a BA.2 seria mais patogênica que a BA.1. O estudo foi feito em hamsters e mostra, entre outros aspectos, perda de peso importante no animal e maior carga viral em regiões pulmonares, espalhando mais rápida e eficientemente nos tecidos pulmonares.

Isso sugere que "temos uma variante que tem impacto muito relevante na saúde global e que sua circulação e doença causada não pode ser negligenciada", apontou a biomédica e neurocientista Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise, em publicação no Twitter sobre o estudo. Ela destaca que esses dados ainda são iniciais, sendo necessária a confirmação clínica dessas características.

A biomédica destaca a importância da vacinação tanto em nível individual quanto em nível global, destacando a necessidade da equidade da cobertura vacinal entre os diversos países.

A líder técnica da resposta à pandemia de Covid-19 da Organização Mundial da Saúde (OMS), Maria Van Kerkhove, disse haver um temor de que, após o fim da onda de infecções pela sublinhagem BA.1 da variante Ômicron, haja uma nova onda com a BA.2. Em sessão de perguntas e respostas na terça-feira, 8, ela reiterou que essa não é uma afirmação de que esse movimento irá ocorrer, mas que a possibilidade está sendo monitorada.

Kerkhove também afirmou ser necessário garantir melhor testagem da covid-19 ao redor do globo, uma vez que se trata de uma parte crítica no combate à pandemia. "Os testes precisam ser confiáveis, baratos e rápidos", disse. (Com Agência Estado)

O que você achou desse conteúdo?