Um racha dentro da facção Guardiões do Estado (GDE) teria motivado a Chacina do Lagamar, que vitimou quatro pessoas na sexta-feira passada, 18. Esse conflito teria resultado numa aliança do grupo com o Terceiro Comando Puro (TCP), organização criminosa do Rio de Janeiro, que surgiu a partir de uma dissidência do Terceiro Comando. O POVO conseguiu as informações junto à fonte ligada à Secretaria da Segurança.
No dia seguitne às mortes no Lagamar, 19 de fevereiro, um "Salve" (mensagens de facção criminosa) afirmando que o Comando Vermelho (CV) não teria relação com a chacina e expondo o racha da GDE foi amplamente divulgado nas redes sociais. Uma série de lideranças da GDE teriam resolvido se aliar com o TCP, segundo a mensagem.
Por outro lado, indivíduos que foram opostos à realização dessa aliança, se rebelaram. O chefe do tráfico chamado "Chico Preto" teria autorizado os faccionados a matar pessoas da mesma área que resolveram aderir a essa aliança, diz o "salve". Na Chacina do Lagamar, foram mortas pessoas que participavam do grupo do "Boladão", que seria justamente um dos que teriam feito aliança com a facção carioca TCP.
O POVO solicitou informações sobre a situação à Secretaria da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará (SSPDS) acerca da motivação da chacina mas não recebeu resposta até o fechamento desta matéria.
Esse não é o primeiro racha entre organizações criminosas. Em dezembro, a chacina da Sapiranga também foi motivada por um racha, dessa vez dentro do Comando Vermelho (CV). Pessoas que não concordavam com as ações no bairro deixaram de participar da organização e passaram a fazer parte da "massa" — espécie de grupo criminoso "neutro". Eles teriam tramado a morte dos chefes da facção no campo do Alecrim e promoveram uma verdadeira matança durante a festividade natalina do dia 25 de dezembro.
Nos dois casos de dissidentes de facções é citado suposto descontentamento com as "caixinhas" — taxa a ser paga pelos integrantes da facção que atuam no comércio ilegal de drogas. Em alguns bairros, por exemplo, O POVO obteve informação que esse dinheiro é destinado para compra de munição, manutenção de armas e para quando alguém da comunidade que seja aliado do crime, seja baleado ou que passe alguma necessidade.
O Jangurussu, no Conjunto Maria Tomásia, também foi afetado diretamente com esse racha. O POVO obteve informações que constam que aproximadamente 20 famílias foram expulsas da área. Nove mortes teriam acontecido nas últimas semanas, inclusive a do chefe da organização criminosa conhecido como Sal. Ele foi executado na quarta-feira, 16. No dia seguinte, mais dois homicídios aconteceram na área. Sábado, 19, havia presença ostensiva da Polícia Militar, que apreendeu um revólver Colt calibre .45, de alto poder de fogo. Também aconteceram prisões e intensificação das abordagens. Mesmo assim, um rapaz foi morto na porta de casa, a tiros, na frente da própria família. Integrantes de facção chegaram ir até a base da Polícia Militar da área pedindo socorro.
Em junho de 2021, o portal O Dia, do Rio de Janeiro, havia divulgado que os setores de inteligência da Polícia realizavam levantamentos para descobrir quem seriam as novas chefias que estava por trás do confronto entre o Terceiro Comando Puro (TCP) e o Comando Vermelho (CV) em Niterói. O Morro do Estado, que ficava no Centro de Niterói, estava sob a presença do CV e foi invadido pelo TCP. A Revista Época e o G1 Rio de Janeiro já citavam a facção TCP e narravam uma guerra na disputa por territórios.
Dados da Superintendência de Pesquisa e estratégia da Segurança Pública apontam que no ano de 2020 foram 544 prisões na Lei de Organização Criminosa, entre janeiro e dezembro, 499 de homens e 45 de mulheres. Entre os meses de janeiro a outubro de 2021 foram 494. Foram presas ainda 300 pessoas por cumprimento de mandado de prisão pelo crime de organização criminosa no Ceará.
Já os autos de flagrante por associação criminosa (artigo 288) registraram 606 prisões entre janeiro a dezembro de 2020. Em 2021, o número não estava consolidado, mas entre janeiro a outubro já somava 652 casos.
No dia 6 de dezembro O POVO divulgou os dados que mostravam o aumento de 65,1% nas prisões de mulheres por envolvimento nas facções criminosas. Um dos casos de maior repercussão foi a prisão de Majestade, que integrava o Comando Vermelho. Levantamentos feitos a partir da apreensão do aparelho celular da suspeita fez com que a Polícia Civil desencadeasse a Operação Guilhotina.