Faltando apenas um dia para a chegada de abril, Fortaleza já registra o mês de março mais chuvoso dos últimos 36 anos. Segundo dados da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme), até esta terça-feira, 29, a Capital cearense acumulava 556,7 milímetros (mm) de precipitações. O volume é o maior para o período desde 1986, quando foram contabilizados 617,5 mm. O índice do século passado, contudo, ainda pode ser superado caso novas chuvas sejam registradas até esta quinta-feira, 31.
Nesta terça-feira, 29, Fortaleza registrou a maior chuva do ano no Ceará, com 135,8 mm informados pelo posto Caça e Pesca. Essa também é a precipitação mais volumosa registrada na cidade desde 15 de abril de 2019, quando 148,4 mm foram observados no posto Fundação Maria Nilva/Água Fria.
As águas começaram a banhar a Capital ainda durante a madrugada e se mantiveram constantes até o começo da manhã. Novas pancadas intercaladas foram registradas até o fim da tarde. Durante todo o dia, o céu permaneceu fechado e a temperatura máxima não passou dos 25,4°C graus celsius, segundo painel do tempo da Funceme. Já a mínima atingiu 24,7°C e a umidade relativa do ar chegou a 91%, proporcionando clima agradável e até mesmo sensação de frio durante a noite.
Mas as chuvas também trouxeram muita dor de cabeça para quem ficou preso no trânsito e provocaram transtornos e alagamentos em diversos pontos da Cidade. Um dos pontos mais afetados foi o túnel da avenida Alberto Sá, no bairro Papicu, que precisou ser interditado pelo segundo dia consecutivo devido ao grande acúmulo de água.
Os motoristas também enfrentaram um verdadeiro teste de paciência na avenida Almirante Henrique Sabóia, bairro Varjota, até o entroncamento com a avenida Júlio de Abreu, onde havia um ponto de alagamento que impediu a passagem de veículos durante toda a manhã. A avenida Heráclito Graça, no Centro, também registrou lentidão entre os cruzamentos com as ruas Ildefonso Albano e João Cordeiro, locais já conhecidos pela baixa fluidez no trânsito em dias chuvosos.
No bairro Aerolândia, também bastante afetado, ruas ficaram praticamente submersas e alguns moradores tiveram suas casas invadidas pela forte correnteza. Na Rua Tenente Jaime Andrade, um dos locais mais atingidos, a água chegou ao nível da cintura de quem trafegava pela via nas primeiras horas da manhã. Se nem mesmo a pé a passagem era fácil, o tráfego de veículos se tornou quase impossível até o nível da água baixar.
A Defesa Civil de Fortaleza informou que 55 ocorrências relacionadas às chuvas foram atendidas nesta terça-feira, 29, na Capital. Mais da metade (28) dos procedimentos envolveu monitoramento de áreas com risco de desabamentos. Houve, ainda, 11 chamados para alagamentos, nove para inundações, cinco para desabamentos e dois para solapamento (infiltrações nos alicerces de casas). As informações constam em relatório de ocorrências elaborado pelo órgão e enviado ao O POVO na noite desta terça.
Por causa dos diversos pontos de alagamentos registrados na cidade em dias de muita chuva, algo que tem ocorrido com frequência nas últimas semanas, a Autarquia Municipal de Trânsito de Fortaleza (AMC) emitiu orientação aos motoristas sobre os locais em que a atenção deve ser redobrada em dias de fortes precipitações.
No total, são 17 trechos listados. Confira quais: Av. Doutor Theberge; Av. Ministro Albuquerque Lima; Av. José Bastos ;Av. Duque de Caxias; Av. Heráclito Graça; Av. João Pessoa; Av. Padre Antônio Tomás; Av. Raul Barbosa e vias secundárias; Av. Pontes Vieira; Av. Pessoa Anta; Av. 13 de Maio; Av. Gomes de Matos; Av. Eduardo Girão; Av. Coronel Matos Dourado; Túnel Borges de Melo; Túnel Wenefrido Melo; Tunel Rogaciano Leite.
Segundo a autarquia, até a noite desta terça-feira, 29, 21 semáforos apresentavam instabilidade no funcionamento por conta de falhas no fornecimento de energia por causa das chuvas. O número corresponde a menos de 2% dos 1.062 equipamentos da rede semafórica da Capital. O órgão ainda informou que nos locais com maior fluxo de veículos, os condutores estavam sendo orientados por agentes e orientadores de tráfego.
A reta final do mês deve ser marcada por mais chuvas em todas as macrorregiões do Ceará. Segundo previsão da Funceme, há possibilidade de novas precipitações, pelo menos, até esta quinta-feira, 31. Os maiores volumes são esperados para o Cariri e o sul do Sertão Central e Inhamuns.
Nesta terça, além da Capital, houve chuvas em mais 83 municípios cearenses. O volume de precipitações de março nos 184 municípios do Estado, que chega a 258 mm, já supera em 26% a normal climatológica do mês, fixada em 203,4 mm.
De acordo com a Funceme, as últimas chuvas registradas no Ceará e as que são previstas para os próximos dias estão ligadas a dois sistemas meteorológicos: a formação de áreas de instabilidade, provenientes do oceano atlântico, e a aproximação da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT) com o território cearense. Além disso, afirma o órgão, fatores locais, como temperatura, relevo e umidade, também podem contribuir para o registro das precipitações.