A liberação do uso de máscara em locais fechados no Ceará deve ser discutida pelo Comitê Estadual de Enfrentamento à Pandemia nesta semana. A sinalização foi feita pela governadora Izolda Cela (PDT) após reunião na última sexta-feira, 8. Especialistas ouvidas pelo O POVO, porém, alertam que ainda não é o momento para a flexibilização.

Apesar dos índices mais baixos da Covid-19 no Ceará atualmente, a retirada da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambiente fechado é precoce, segundo a epidemiologista Ligia Kerr. Ela é membro da câmara técnica de assessoramento em imunização da Covid-19, do Ministério da Saúde (MS).

O contexto atual no Ceará, explica a médica, é resultado de uma ampla cobertura vacinal com a segunda dose e uma grande disseminação da variante Ômicron no Estado e no País.

"Ainda tem muito atraso para as crianças, e elas também precisam ser vacinadas. Esse cenário de relativa tranquilidade deve ser aproveitado para, criteriosamente, olharmos o que estamos fazendo. E pensarmos se é o momento de fazer uma atitude que pode ser 'o chute no pau da barraca', como falamos", afirma a epidemiologista e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva.

Além disso, ela explica que já se sabe que as vacinas não conferem proteção contra a infecção, que pode ser amplificada pelo retirada das máscaras em ambientes fechados.

Para a pesquisadora Thereza Magalhães, professora de Epidemiologia da Universidade Estadual do Ceará (Uece), não se deve ter pressa em retirar as máscaras nos ambientes fechados. "O vírus ainda está em nosso meio, portanto o risco persiste, sobretudo para quem trabalha com muitas pessoas na mesma sala", afirma.

Ela destaca que esse momento, com casos de hospitalizações e óbitos em baixa, não significa que a Covid-19 foi vencida. "Devemos aproveitar a baixa para respirar um pouquinho, mas continuar tendo cuidado", diz Thereza Magalhães.

O uso de máscaras em ambientes abertos, no Ceará, não é mais obrigatório desde o último dia 21/3. Para Thereza Magalhães, o tempo de flexibilização ainda não é suficiente para uma avaliação consubstanciada por conta desse atual momento da pandemia no Estado. "Estamos em baixa transmissão, mas nada nos garante que não possamos voltar a subir novamente o número de casos", afirma.

Para a virologista e epidemiologista Caroline Gurgel, professora do Departamento de Saúde Comunitária da Universidade Federal do Ceará (UFC), é uma questão de tempo para que o uso da máscara seja abolido, mas, por enquanto, "é interessante mantê-la no rosto" para evitar surtos de Covid-19 em locais de trabalho, escolas e universidades, por exemplo.

Já se sabe que a ventilação do ambiente tem um importante papel para evitar a dispersão da doença. Por causa desse ponto, assim como pela possibilidade de surgimento e entrada de novas variantes do Sars-Cov-2, vírus que causa a Covid-19, que Lígia Kerr é contra a liberação do uso de máscara de proteção em ambientes fechados.

Diferentemente deles, um lugar aberto sem aglomeração é "relativamente seguro". "Uma coisa é você estar andando longe um do outro, caminhando em uma praia, caminhando em uma rua. É diferente de estar em um ponto de ônibus, em um estádio de futebol, em um show. Essas questões têm que ser avaliadas com muito cuidado", explica a epidemiologista.

As especialistas apontam que entre aqueles que continuam vulneráveis à Covid-19 estão os não vacinados, idosos, imunodeprimidos, pessoas com diabetes, com doença cardiovascular, câncer e obesidade, por exemplo. Mesmo com a liberação formal por parte do Estado, as pesquisadoras afirmam que esses grupos deveriam continuar usando máscara em locais fechados e em locais abertos em que há aglomeração.