Sete réus, acusados da chacina na Cadeia Pública de Itapajé, foram condenados por homicídio triplamente qualificado, por motivos torpe, cruel e sem possibilidade de defesa das vítimas. Eles foram julgados em sessão híbrida — presencial e virtual — que durou 35 horas, iniciando às 8h30min de segunda-feira, 18, e encerrando às 19h30min de ontem. O crime vitimou 10 presos em janeiro de 2018, devido a um conflito entre facções, de acordo com o Ministério Público do Ceará (MPCE).
Somadas, as penas dos sete acusados chegam a 1.350 anos de prisão em regime fechado: cinco acusados foram condenados a 180 anos, um a 210 e outro a 240. O julgamento foi realizado pelo Conselho de Sentença da 1ª Vara do Tribunal do Júri da Comarca de Itapajé e a decisão proferida pela juíza Juliana Porto Sales.
"Alguns dos sentenciados já possuem condenação com trânsito em julgado, pela prática de outros crimes, inclusive, alguns de mesma natureza dos aqui analisados, o que comprova as suas vivências criminosas", disse Juliana Sales. "A prática contumaz de ilícitos, que se transforma em habitualidade, atrai, sem dúvida, maior culpabilidade, o que significa maior pena", enfatizou a magistrada.
De acordo com a denúncia dos promotores de Justiça Christiane Valéria Carneiro e Luís Bezerra Lima, em 29 de janeiro de 2018, dez pessoas morreram e oito ficaram feridas após conflito entre presos de facções rivais na Cadeia de Itapajé, município localizado a 128,6 quilômetros de Fortaleza.
No dia do crime, logo após as aberturas dos portões para o rotineiro banho de sol dos detentos, os denunciados teriam tramado uma emboscada, conforme peça do MPCE. "Foram utilizadas duas armas de fogo e facas para agredir pelo menos dez vítimas, as quais foram acuadas e surpreendidas pela ação mortífera dos acusados, os quais eram integrantes e/ou simpatizantes de facção criminosa rival", enfatizou o MPCE.
Na época, análise do então presidente do Conselho Penitenciário do Estado do Ceará (Copen), Cláudio Justa, as mortes aconteceram em consequência de um conflito de facções decorrente da chacina do Forró do Gago, em Cajazeiras, que aconteceu 72 horas antes da ocasião em Itapajé, quando 14 pessoas foram assassinadas.
Em entrevista ao O POVO, no mês seguinte à chacina, o jornalista e escritor paulista Josmar Jozino apontou que as mortes no Ceará teriam relação com a expansão do Primeiro Comando da Capital (PCC). "Houve chacinas no Acre, Ceará, Rondônia, Rio Grande do Norte, tanto nas cadeias quanto nas ruas. Isso é consequência da guerra de facções", apontou. Ele ainda falou sobre o Gegê do Mangue, um dos líderes da facção, estar em Fortaleza durante ambas chacinas. "Certamente não é coincidência ele estar no Ceará", disse.
Foram condenados Artur Vaz Pereira, vulgo "Sayamen", a 210 anos e 4 meses; Francisco das Chagas Sousa, vulgo "Chicó", a 180 anos e 8 meses; Antônio Jonatan de Sousa Rodrigues, vulgo "Zé Tronco", a 180 anos e 8 meses; Willian Alves do Nascimento, vulgo "Batata", a 180 anos e 8 meses; Francisco Idson Lima de Sales, vulgo "Idson", a 180 anos e 8 meses; Alex Pinto Oliveira Rodrigues, a 240 anos; e Murilo Borges de Araújo, a 180 anos e 8 meses. O último foi sentenciado pela prática de homicídios duplamente qualificados, enquanto os outros seis foram condenados por homicídios triplamente qualificados. Os réus foram ouvidos diretamente do presídio, por videoconferência.
As vítimas da chacina são Francisco Elenilson de Sousa Braga, vulgo "Leleu"; Carlos Bruno Lopes Silva; Willian Aguiar da Silva; Manuel da Silva Viana, vulgo "Pirrana"; Francisco Helder Mendes Miranda; Francisco Emanuel de Sousa Araújo; Caio Mendes Mesquita; Francisco Davi de Sousa Mesquita; Francisco Mateus da Costa Mendes e Alex Alan de Sousa Silva.