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Grupo ameaça boicote aos Jogos Indígenas do Ceará
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Grupo ameaça boicote aos Jogos Indígenas do Ceará

Documento assinado por 39 entidades ligadas ao Movimento Indígena do Ceará pede a destituição da organização social escolhida para organizar a competição
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Última edição dos Jogos Indígenas do Ceará ocorreu em 2019, no município de Itarema (Foto: Ascom/Sejuv)
Foto: Ascom/Sejuv Última edição dos Jogos Indígenas do Ceará ocorreu em 2019, no município de Itarema

A Décima edição dos Jogos dos Povos Indígenas do Estado estão ameaçado de boicote por um grupo de entidades do Movimento Indígena do Ceará. A disputa está prevista para o próximo mês. O grupo discorda da escolha da Organização Social selecionada para promover o torneio. A seleção, organizada pela Secretaria de Esporte e Juventude do Ceará (Sejuv), foi realizada por meio de chamamento público. A Federação de Triathon do Estado do Ceará (Fetriece), que já havia realizado a competição em 2019, edição mais recente, antes da pandemia, foi novamente a vencedora do certame.

O resultado, divulgado na última terça-feira, 14, gerou contestação imediata dos grupos representativos dos povos originários cearenses. Em nota conjunta divulgada nas redes sociais, as entidades defendem que a Fetriece seja destituída da organização dos Jogos deste ano, alegando que a instituição teria cometido uma sucessão de falhas na última edição do evento.

"A referida entidade ocasionou um conjunto de problemas, não possuindo nenhuma habilidade e disposição de diálogos para uma condução harmônica dos Jogos naquela edição", diz trecho do comunicado. Sem detalhar quais teriam sido os problemas, o texto acrescenta que todas as ocorrências já foram devidamente informadas à Sejuv.

A nota ainda ressalta que, embora a instituição tenha se adequado aos critérios do edital de chamamento público, "é necessário que se leve em consideração as experiências anteriores" como indicadores de capacidade de execução. O texto também critica suposta falta de diálogo entre a Sejuv e as delegações indígenas que tradicionalmente participam da competição.

"Nos questionamos, qual seria o motivo dos povos indígenas não serem ouvidos e consultados sobre os jogos dos quais são destinatários?", contesta. A nota é assinada por 39 entidades do movimento indígena da Capital e do Interior do Estado. As organizações prometem ficar de fora do torneio caso a Fetriece seja mantida como organizadora.

Veja a nota na íntegra

Procurada pelo O POVO, a Sejuv argumentou que a escolha da entidade organizadora da décima edição dos Jogos dos Povos Indígenas do Ceará foi realizada em estrita observância aos critérios exigidos pela legislação federal e estadual e obedecendo aos princípios constitucionais da administração pública.

A pasta lembrou que o resultado preliminar, divulgado na última terça-feira, 14, ainda é cabível de recursos até o próximo dia 20. "Às entidades que desejarem recorrer do resultado, é assegurado o acesso às peças processuais necessárias à defesa de seus interesses", informa a Secretaria.

A Sejuv ainda afirma que realiza um "amplo e permanente" diálogo com as entidades representativas dos povos indígenas desde o momento em que as discussões sobre a edição deste ano da competição foram iniciadas. As conversas, de acordo com a pasta, ocorrem de forma presencial e virtual. 

Em nota enviada ao O POVO, a Fetriece negou que tenha havido irregularidades na organização da nona edição dos Jogos dos Povos Indígenas, em 2019. De acordo com a entidade, houve prestação de contas de todos os recursos recebidos e gastos para a realização do torneio. "Ao final da parceria, não restou qualquer pendência com a administração pública ou órgãos de controle", diz trecho do comunicado.

A Federação também ressalta que, assim como na edição anterior, todas as etapas do chamamento público divulgado pela Sejuv neste ano transcorreram em estrita conformidade com as regras e ditames legais preestabelecidos. A entidade também afirma estar à disposição para dialogar com os movimentos e lideranças indígenas envolvidos na defesa das comunidades e povos originários do Ceará.

Retomada do evento 

Após dois anos de suspensão por causa da pandemia de Covid-19, os Jogos dos Povos Indígenas do Ceará têm previsão de serem retomados no fim de julho. A data de início da competição ainda não foi divulgada. Neste ano, o evento terá como sede o município de Aratuba, no Maciço de Baturité. Na última edição, antes da pandemia, quase mil atletas, artesãos e lideranças indígenas participaram das atividades em Itarema

O torneio abrange disputas em pelo menos oito modalidades: arco e flecha; arremesso de lança; cabo de guerra; canoagem; corrida da tora; futebol; queda de braço e triatlo revezado. De acordo com a Sejuv, a competição tem como objetivo principal a integração dos povos indígenas cearenses, por meio de um intercâmbio cultural, esportivo e de lazer. O evento também busca o fortalecimento da cidadania e da identidade étnica dos participantes.

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