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Ceará registra cinco mortes de pessoas trans no primeiro semestre de 2022
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Ceará registra cinco mortes de pessoas trans no primeiro semestre de 2022

Último assassinato ocorreu na segunda-feira, 27, em Fortaleza. Das cinco ocorrências, três foram registradas na Capital
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NO ÁLVARO WEYNE uma travesti foi jogada de um carro   (Foto: O POVO )
Foto: O POVO NO ÁLVARO WEYNE uma travesti foi jogada de um carro

Entre janeiro e junho de 2022, o Ceará registrou ao menos cinco assassinatos de pessoas trans, conforme levantamento realizado pelo O POVO. Todas as vítimas foram identificadas como mulheres transsexuais, sendo três casos em Fortaleza, um na Região Metropolitana da Capital e outro no Interior. Na maioria das ocorrências, os crimes foram praticados com requintes de crueldade.

A morte mais recente foi registrada na última segunda-feira, 27, na Grande Messejana, em Fortaleza, onde uma travesti identificada como "Cromada" foi assassinada a tiros na calçada de um bar enquanto trabalhava. Ela foi atingida por pelo menos quatro disparos à queima-roupa, efetuados por um homem ainda não identificado que teria chegado ao local em uma motocicleta.

No mesmo dia, um outro caso de violência transfóbica foi registrado na Capital. No bairro Álvaro Weyne, uma travesti foi jogada de um carro em movimento no centro de uma via pública. Com a língua cortada e sinais de tortura, ela foi socorrida em estado grave para o Instituto Doutor José Frota (IJF), no Centro, onde permanece internada. Procurado pelo O POVO, o hospital informou que não divulga informações sobre seus pacientes.

De acordo com a Polícia Civil, três suspeitos estavam no carro de onde a travesti foi arremessada. Até o fechamento desta matéria, no entanto, nenhum deles havia sido localizado ou preso.

Antes do assassinato registrado nesta semana, o último crime violento contra a vida de pessoa trans no Ceará havia ocorrido em 14 de abril, no município de Barreira, região do Maciço de Baturité. A vítima, uma travesti de 28 anos identificada como Fernandinha, foi decapitada e teve a cabeça deixada no galho de uma árvore.

No dia 9 do mesmo mês, uma outra travesti de nome e idade não revelados foi encontrada morta com sinais de estrangulamento no bairro Centro, em Fortaleza. O caso foi registrado menos de duas semanas após uma mulher trans de 31 anos ter sido morta a tiros no centro de uma rua em Pacatuba, na Região Metropolitana da Capital.

A primeira ocorrência do ano foi no dia 11 de fevereiro, quando a travesti Sofia Gisely, de 22 anos, foi assassinada a pedradas na avenida Osório de Paiva, no Grande Bom Jardim. O caso, assim como os demais, é investigado pela Polícia Civil do Ceará (PC-CE), mas não há informações sobre prisão ou elucidação de qualquer um dos crimes.

Para a presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Keila Simpson, a crueldade empregada nos crimes está diretamente relacionada à intolerância em relação à identidade de gênero das vítimas. “Se não fosse pelo ódio que as pessoas têm da população trans, essas mortes não ocorreriam com tantos requintes de crueldade”, afirmou.

Na avaliação de Keila, o Brasil e o Ceará passam por um período de recrudescimento e naturalização da violência transfóbica. Ela diz que o agravamento do quadro pode ser explicado pela “omissão do Estado e inércia da Justiça”.

“Esses crimes dificilmente são punidos com a celeridade necessária e quando se consegue punir, basicamente a pessoa vai responder em liberdade por diversas razões que a própria Justiça determina”, pontuou a ativista. Desde 2017, a entidade que ela preside realiza levantamentos anuais sobre as estatísticas de mortes de pessoas trans no Brasil.

No acumulado dos cinco anos (2017-2021), o Ceará é o segundo Estado da Federação com o maior número de assassinatos (73), ficando atrás apenas de São Paulo (105), que tem população quase seis vezes maior. Conforme a pesquisa, o ano mais violento foi 2020, com 22 mortes. No ano passado, foram 11, mesmo número registrado em 2019. Já em 2018 e 2017 ocorreram 13 e 16 assassinatos, respectivamente. (Colaborou Jessika Sisnando)

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